Quatorze

4.6K 684 135
                                    

— Pode abrir a porta para mim? — Antony pede, após alguns minutos em que passamos em silêncio, ele dirigindo e eu escorada na porta, abraçando os joelhos.

Me ergo com dificuldade, o corpo rígido depois de passar tanto tempo na mesma posição. O ar frio bate em meu corpo quente quando abro a porta, me fazendo tremer. A rua está escurecida, a não ser pelas lâmpadas dos postes; o céu está igualmente escuro. Nada de estrelas ou lua, apenas nuvens carregadas, ameaçando desabar.

O carro de Antony para no meio-fio oposto a da minha casa. Vê-lo descer enche meu peito de alívio e tensão ao mesmo tempo, e não sou capaz de explicar o que sinto. Só quero que ele apresse os passos e entre logo para sair da rua deserta. Quando já está próximo de mim, Antony me puxa para dentro e tranca a porta.
Devo estar tremendo, sinto que posso desabar a qualquer instante.

Então Antony se vira para mim e me encara. Tão rápido que mal percebo, ele me puxa para seus braços e me abraça. Enterro meu rosto em seu ombro e sinto que finalmente sou capaz de respirar direito. Eu o envolvo com meus braços e me apoio nele.

— Como está se sentindo agora? — Antony pergunta, se afastando um pouco, mas sem romper o abraço completamente.

— Melhor, obrigada.

Ele olha em volta da sala antes de perguntar:

— Então..., onde está todo mundo?

Respiro fundo e me afasto, indo me sentar no sofá. Puxo uma das almofadas para meu colo. Antony senta de frente para mim. Encaro as linhas da almofada, incapaz de olhar para ele. Mas tenho total ciência de seus olhos em mim enquanto falo. Eu sinto.

— Meus pais tiveram que passar a noite na casa de uma prima, em outra cidade. Kaila ficou comigo, ela prometeu que não ia sair, mas... — engulo em seco. — Acordei assustada e ela não estava aqui e eu... entrei em pânico. — A palavra amarga em minha boca. Faz com que meus olhos se encham de novo, mas reprimo a vontade de chorar. Não posso começar de novo. — Enfim, tinha uma mensagem dela dizendo que ia a alguma festa idiota, eu liguei para ela, várias vezes, mas ela não me atendeu.

— É a primeira vez? — Antony pergunta. Olho para ele  franzindo a testa em desentendimento. A expressão dele é pura preocupação. — Que isso acontece com você — explica.

— Não quero falar sobre isso.

Saio de sofá para ir a cozinha, ou banheiro, tanto faz. Só quero fugir dessa conversa. Não acho que consiga falar sobre isso agora.

— Você me ligou apavorada no meio da noite, Lia — Antony me para, segurando meu pulso de leve. Eu poderia me afastar se quisesse, mas permaneço ali, de frente para ele, encarando seu olhar. — Você achou que estava morrendo.

Estremeço. Só de lembrar a sensação o aperto ameaça voltar. Passo a mão no rosto, cansada. Preciso que essa noite acabe. Que nunca tenha acontecido. Entretanto, aconteceu. E Romone em minha frente é a prova concreta disso.

— Estou bem. Não quero falar sobre isso, por favor.

— Okay — ele cede.

Eu peço licença e vou ao banheiro. Evito meu reflexo no espelho porque tenho certeza que não estou no meu melhor momento. Eu me sento sobre a tampa do vazo e escondo o rosto nas mãos, tentando pensar com clareza.

Surtei.

Liguei para Antony.

Agora Antony Ramone está na minha sala.

Antony Ramone atendeu minha chamada no meio da noite e veio me socorrer.

O que eu faço agora? Agradeço e o mando de volta? Mas eu não quero ficar sozinha e Kaila não vai voltar tão cedo. Céus, no que fui me meter?
Solto um gemido abafado pelas minhas mãos.

Cada Vez MaisOnde histórias criam vida. Descubra agora