Onze

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Não, o boato sobre a briga não passou tão rápido como eu gostaria. Dois dias depois e as pessoas continuavam a sussurrar sempre que me viam no corredor. A única coisa boa nisso foi que Analu voltou a me ignorar e, pelo menos, eu não tinha que me preocupar com ela vindo "conversar" comigo de novo.

Austin me encheu de pacotes de bolinhos, já que eu estava evitando o refeitório a todo custo, então eu estava sentada em uma das poltronas mais afastadas na biblioteca. Lucile passa pelos corredores de estantes, mas não me dá bronca ao me pegar comendo ali — o que é estritamente proibido. Ela finge que não me vê e volta para o seu balcão. Minha cabeça lateja e preciso de uma aspirina, entretanto, a biblioteca está parcialmente vazia, a não ser por alguns alunos, e opto por esse momento de paz.

Não dura muito. Antony desponta no corredor, e vem tranquilo em minha direção ao me ver. É meio estranho vê-lo nesse cenário, cheio de livros ao ser redor. Sei que Antony é bom aluno e tem boas notas — ser da equipe exige isso —, mas eu nunca o tinha visto por aqui antes. Não durante esses anos de encontro com o clube do livro, ou quando eu vinha para estudar.

— Oi — ele diz, ao sentar em uma das poltrona ao meu lado. O cabelo dele está úmido e me pergunto se ele veio do treino, o que parece óbvio, já que o cheiro de sabonete e colônia masculina me envolvem.

Nosso contato nesse tempo depois do jantar se resumia a cumprimentos acanhados de minha parte, e sorrisos lançando da parte dele quando nos encontravamos na escola, nada além disso. Eu já estava quase me convencendo a deixar esse assunto de lado.

— Hey — digo, dando uma mordida no bolinho, evitando olhar para ele. Estamos sozinhos nessa parte da biblioteca, provavelmente ninguém nos vê aqui. Olho ao redor, meio nervosa, tentando achar uma desculpa para ir embora.

— Isso aí é seu almoço? — Antony aponta para as duas embalagens vazias ao meu lado.

Dou de ombros.

— Melhor que as barras de proteína que você come, aposto.

— Eu não vivo de barra de cereal, engraçadinha — zomba, então estica a mão e, sem cerimônia, pega o último bolinho que está no meu colo. — Está fugindo do refeitório por causa do seu atual título de encrenqueira?

Estremeço, o que me causa mais uma pontada na cabeça. Ergo o olhar para diz que não quero falar sobre isso, mas as palavras se perdem em minha garganta e ofego.

Vermelho e roxo se misturam na maçã do rosto de Antony, no lado esquerdo. Ele claramente levou um soco.

— Você andou brigando? — pergunto, mesmo sendo óbvio que sim.

Antony não responde, me lança um sorrisinho falso, e abre o bolinho, devorando-o em duas mordidas.

Que injustiça! Se alguém está merecendo o título de encrenqueiro aqui, é ele.

— Você não pode andar brigando por aí! — solto sem pensar. — Quer ser expulso da equipe? O senhor Derk não tolera esse tipo de comportamento, e se ele te deixar de fora das finais por causa disso? Meu Deus, Ramone, será que você não sabe que vai ter olheiros nesse negócio? Quer desperdiçar...

— Ei, ei — ele me interrompe, as mãos erguidas em rendição —, calma aí, relaxa.

— Relaxar — bufo, desviando o olhar. — Você que deveria relaxar e parar de arrumar confusão! — Levo a mão até minha testa. Preciso mesmo de uma aspirina.

Antony ri.

— Tá preocupada comigo, Calton? — quando volto a encará-lo, ele está me lançando um olhar intrigado. A sobrancelha erguida num arco perfeito.

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