Vinte & Cinco

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Abraço meu corpo trêmulo por conta da friagem matinal. São apenas 07h00 de um sábado, e as ruas estão quase vazias. Eu gostaria de estar com minhas próprias roupas. Me sinto ridícula nessa blusa que não me protege do frio e nessa calça justa demais.

É como o caminhada da vergonha. Só que sem a parte do sexo. Já estou caminhando uns bons dez minutos e meus dedos dos pés imploram por um pouco de descanso. Mas não posso parar agora quando estou no meu limite. Se eu ceder um passo sequer, é bem provável que eu desabe de exaustão aqui, no meio da rua. Não seria nada legal.

Reprimo um bocejo. Faz 24 horas que estou acordada agora. Eu simplesmente não consegui pregar os olhos noite passada. Oh, e como tentei. Não era para ser tão difícil; eu estava numa cama confortável, Tony estava lá, adormecido num descanso merecido dos seus problemas. Não era para eu me sentir como se a noite tivesse acabado relativamente bem?

Por um minuto, depois que Antony me disse aquelas cinco palavras, fiquei confusa. Por um minuto cogitei ter entendido sua fala errado. Mas então as palavras dele assentaram em minha cabeça e tudo o que fui capaz de sentir foi uma espécie de desespero que tomou conta de cada pedacinho do meu ser.

E ali estava, a consequência do primeiro beijo que tanto receei. Antony Romone estar apaixonado por mim era como uma piada de mau gosto jogada em minha cara.

Em outra circunstância, se eu fosse uma pessoa diferente, não hesitaria um segundo em dizer para ele como me sentia. Porque eu era uma estúpida, e claro, não conseguia negar que o que eu sentia por ele era mais do que uma simples atração. Eu sentia sua falta quando ele não estava, eu queria estar perto dele o tempo todo. Minha mente girava em torno de Antony Ramone, e isso era perigoso demais.

Porque eu não era outra pessoa, eu era apenas eu, e nada mudaria esse fato. Mesmo eu querendo. Mas já tinha errado com Henri e não faria isso de novo. Seria eu saindo machucada dessa história, não haveria outro desfecho.

Acho que morri um pouco ao sair do lado de Tony, quando amanheceu o suficiente para eu ir embora. Eu não ia conseguir encará-lo de qualquer maneira mesmo, então enviei uma nota para que ele soubesse que eu tinha ido para casa.

Olho ao redor para situar o lugar e dou de cara com o Mama Sarita! aberto mais cedo que o habitual. Pela manhã a lanchonete de Sara é mais como uma cafeteria, mas no geral eles abrem às 08h00. Decido entrar e me encher de cafeína antes de seguir o caminho para casa.

O sininho da porta soa quando entro. É tudo claro aqui, por conta dos janelões de vidro e as paredes azul bebê. Mesinhas quadras estão dispostas no pequeno espaço, e há uma fileira de banquetas no balcão. Mas, como imaginei, não há clientes por aqui. Sara sai da cozinhas pelas portas vai e vem e sorri calorosa ao me ver.

Ela é uma senhorinha beirando aos 70 anos, extremamente ativa e com os cabelos ralos tingidos de vermelho. Está sempre sorrindo.

— Menina Emilia! O que a traz aqui tão cedo? — Ela carrega uma bandeja de biscoitos recém saídos do forno e o cheiro toma conta do ambiente.

— Voltando para casa. Vi que estava aberto, resolvi ver se consigo um café.

— Claro que sim, querida. — Agradeço por ela não comentar sobre minha aparência. Acho que não sou capaz de fazer nada além de chorar se alguém perguntar o que há comigo.

Não ouso me sentar, se o fizer, provavelmente não levantarei mais daqui. Espero Sara preparar o café. Aparentemente, nem os funcionários dela chegaram.

— Você abriu mais cedo — comento.

— Ah, sim, nós temos uma entrega de cupcakes mais tarde. Sônia e Rafael chegam daqui a pouco. Tome — Ela traz a bandeja para mais perto, junto com uma xícara generosa de café. — Prove alguns biscoitos. São de gotas de chocolate, sei que é seu preferido.

Cada Vez MaisOnde histórias criam vida. Descubra agora