Trinta

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Antony reluta em me deixar entrar em casa sozinha, mas garanto-lhe que ficarei bem. Ele deposita um beijo rápido em meus lábios e vai embora. Entro em casa receosa. Sei que não fiz nada de muito grave, mas pensar em meus pais preocupados comigo me deixa arrependida. Eu não devia mesmo ter desligado o celular.

Mamãe está sentada no sofá, folheando uma revista. O clique da porta chama sua atenção e faz com que ela erga a cabeça; está visivelmente chateada, seu rosto petrificado em uma carranca.

— Nem sei como começar isso, Emilia. Você faz alguma ideia de como seu pai e eu ficamos extremamente preocupados quando sua escola ligou? O que você tinha na cabeça para matar aula e achar que ninguém iria descobrir?

— Não matei aula — nego prontamente. — Quer dizer, eu não estava me sentindo bem-

— E você resolve simplesmente ir embora? — mamãe questiona, sua voz impassível. — A escola tem enfermaria justamente para isso. Além do mais, poderia ter ligado para mim ou seu pai, dariamos um jeito. Mas não. A mocinha resolve aproveitar e dar uma escapada!

— Não é justo. A minha intenção não era essa, mãe.

Ela coloca a revista de lado, levantando-se. Cruza os braços sobre o peito e me encara séria.

— Isso é tudo culpa daquele rapaz, não é? Johnny ou sei lá o quê.

— O nome dele é Antony — enfatizo. — E não acho que entendo do que o está acusando.

Eu largo minha bolsa na mesinha de centro e começo a seguir rumo a cozinha, mas a voz da minha mãe interrompe meus passos.

— Ele está desviando-a do seu foco, Emilia.

Olho para ela, incrédula. Nada do que ela está falando faz sentido para mim.

— Isso nem faz sentido! Ele só me deu uma carona. Eu que não quis vir diretamente para casa. Precisava de ar, você não entende? Aliviar a cabeça.

Mamãe exala irritada, passando a mão pelo rosto.

— Eu só não quero que você se distraia dos seus objetivos, Lia. Você trabalhou duro, e está tão perto de conseguir. Não desperdice isso.

— Claro que não vou. Foi irresponsável de minha parte, desculpa, não irá se repetir.

Ela me encara por alguns segundos, decidindo se está pronta para me perdoar.

— Aonde você esteve, aliás?

— Rosales — respondo.

— Lia... Já passou da hora de se desprender do seu avô, querida. Não é saudável.

Não lhe dou nenhuma resposta diante disso. Nem sei se poderia, mas papai e Kaila escolhem esse momento para aparecerem, trazendo sorvete para depois do jantar. Kaila não perde a chance de tirar uma com a minha cara pelo meu ato "rebelde", e papai tenta ser firme e pede para que não volte a se repetir.

Tenho que passar o jantar inteiro sentindo os olhares acusatórios de mamãe. Aguento firme. Quando eu estiver na faculdade ninguém vai criar caso por conta de um passeio bobo e inocente.

 Quando eu estiver na faculdade ninguém vai criar caso por conta de um passeio bobo e inocente

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