Seis

5.1K 749 198
                                    

— Eu acho que o Martin era realmente muito louco — Vic opina. — Quer dizer, quem cria o filho daquele jeito? Coitado do Jasper.

— Bom, o Jasper poderia ter sido mais tolerável com o pai — falo. — Eu entendi que a criação dele não foi fácil e tradicional, mas juro que torci pelo Martin em vários momentos da história.

— Eu também — concorda Kaliu. Ele foi o mais empolgado durante toda a discussão da leitura. — Tinha até esquecido que ele ia morrer.

Todo mundo da roda da conversa concorda, sorrindo. Somos sete ao total. Já tivemos mais integrantes, mas alguns acabam sempre desistindo. A biblioteca está vazia, a não ser por nós e Lucile, a bibliotecária. Nós encerramos o encontro sem decidir a próxima leitura. São os últimos meses, acho que o pessoal todo está concentrado nas universidades agora.

Fico por último, arrumando minhas coisas. Adiantamos a reunião com o conselho estudantil, então, assim que cheguei à escola, tínhamos conversado sobre a feira que aconteceria em seis semanas. Seria nosso último trabalho na escola e o dinheiro arrecadado iria para nosso baile de fim de ano. Ivana pretendia colocar quase todos do último ano para organizar. Enquanto não chegasse o momento de pôr a mão na massa, o tempo disponível seria para se preparar para as seletivas.

E Flora estava tentando me convencer a ir a competição de natação, daqui a duas semanas. Além dela pretender visitar a faculdade em Albertine, ela teria que documentar toda a competição para o jornal da escola. E queria companhia. Eu até poderia ir, pelo espírito esportivo e torcer pelo time da escola, mas tinha a questão Henri. Provavelmente ele iria também, e eu não estava afim de ficar por perto.

Me despeço de Lucile e sigo para o meu armário. As aulas já acabaram há algum tempo, os corredores estão quase vazios. Antes que eu chegue ao meu destino, Analu me pega desprevenida e me arrasta para o banheiro mais próximo. Não tenho reação até que me vejo sozinha com ela.

— Qual é o seu problema? — pergunto irritada, indo em direção a porta. Ela entra na frente, impedindo que eu saia.

— Só quero conversar — ela diz, me dando um sorriso falso.

— E precisava me arrastar para o banheiro?

— Bom, você não fala mais comigo!

Solto uma gargalhada de descrença. Ela só pode estar de brincadeira com a minha cara.

— Por que será, nê?! — desdenho.

Analu bufa, revirando os olhos e tudo. Ela cruza os braços e bate o pé direito repetidamente no piso branco. É o sinal de que está estressada.

— Acho que Henri vai terminar comigo — ela diz, descruzando os braços e prendendo o cabelo claro em um rabo de cavalo. Querendo demostrar algum controle. Meu estômago embrulha. — Só preciso saber se tem alguma chance de vocês reatarem. Nós estávamos muito bem até você voltar! Não vou permitir que ele me largue como uma qualquer só porque sempre foi capacho seu.

Respiro fundo, querendo estar em qualquer outro lugar que não fosse aqui. Quase não a reconheço agora. Jurava que ela ainda possuía um pouco de bom senso. Claramente me enganei.

— Não — respondo, só porque quero que ela me deixe em paz. — Não existe essa possibilidade. Agora, por favor, saia do caminho.

Ela me encara por um tempo, estreitando os olhos castanhos, tentando ler no meu rosto se digo a verdade ou não. Acho que a convenço. Analu dá um passo para o lado, liberando a passagem.

Nunca imaginei que Analu chegaria a esse ponto — mas também não imaginei que ela fosse me trair, então... Se rebaixar por um garoto. Ela não era assim. Sempre fora bem resolvida, decidida. Eram os caras que corriam atrás dela, não o contrário. Mas pelo visto as pessoas podem de fato mudar. Às vezes para pior.

Cada Vez MaisOnde histórias criam vida. Descubra agora