Sete

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O bairro de Antony era bem estilo classe média alta. Casas de dois andares praticamente idênticas, não fossem os poucos detalhes aqui e ali. As ruas eram sombreadas por árvores grandes ao lado da estrada, havia verde para todo lado. A grama? Impecável. Pelo jeito eles não tinham problemas com racionamento de água por aqui.

Theodoro para em frente a casa grande, com uma porta ornamentada de madeira escura. Ele buzina uma vez e Antony aparece. Ramone conversa por um momento no hall de entrada com um garoto. Deve ser o irmão. Eu sabia que ele tinha um irmão mais novo.

— Você quer que eu vá lá para trás? — pergunto, desviando os olhos de Antony e apontando para os bancos traseiros.

— Nah. Você chegou primeiro.

— Tudo bem — digo, já retirando o cinto de segurança. — Eu sempre quis saber como era ter um motorista particular mesmo. E o do ônibus não conta.

Theodoro ri.

— Só o melhor para você, gata.

Reviro os olhos para o apelido e desço. Na mesma hora em que Antony chega. A porta criando uma barreira entre nós dois. Estou indo cumprimentá-lo quando noto. Ele parece extremamente cansado. Desde a postura até às bolsas levemente arroxeadas embaixo dos olhos verdes.

— Você está bem? — Sou a primeira a romper o silêncio que se formou. Minha voz parece cautelosa.

Antony confirma com um maneio de cabeça, depois dá um passo para trás. Eu imagino que ele queira entrar logo no carro, então me afasto da porta, mas ele apenas espera para que possa fechá-la, sem se preocupar em fazer Theodoro esperar, e chega mais perto de mim.

— Sobre a outra noite... — ele começa, parando logo em seguida para passar a mão pelo rosto e afastar alguns fios claros que caem pela testa. — Me desculpe. Não sei o que deu em mim, eu não faço esse tipo de coisa. Você deve achar que eu sou alguma espécie de babaca perseguidor por não te deixar em paz. Bom, o que na verdade, acho que sou, mas... — ele faz uma pausa para respirar fundo e soltar o ar. — Eu juro que não vai se repetir.

De repente, todas as coisas que eu queria ter dito a ele mais cedo evaporam. Antony parece perturbado, e eu me pego me sentido mal por isso. Tudo bem, eu realmente acho super esquisito toda essa aproximação, mas isso não significa que eu queira ver o cara sofrer. Não queria isso nem quando ele "parecia" me detestar.

— Isso quer dizer que você vai apagar meu número? — checo, mas dou um sorrisinho para que ele perceba que só estou fazendo graça pelo momento constrangedor.

— Não. Provavelmente não — admite, enfiando as mãos nos bolsos frontais do jeans.

Nos encaramos por um tempo enquanto tento decifrar o que ele quer dizer.

— Então não imagino o que seja esse juramento seu.

— Explico depois. Aliás, o que você está fazendo aqui?

Theodoro nos interrompe, colocando a cabeça para fora da janela do carro, todo sorridente.

— Estávamos indo para um encontro. Sim, você nos atrapalhou. Eu te odeio.

Eu empurro a cabeça dele de volta para dentro do carro. Quando olho para Antony, ele está com uma sobrancelha arqueada em minha direção.

Maldito seja o levantar de sobrancelhas!

— Ele só está me dando carona — explico, apesar de não precisar. — Acabei perdendo o ônibus.

Ele abre a boca para falar alguma coisa, mas Theo começa a buzinar. Eu me apresso a entrar no carro e Antony faz o mesmo.

Cada Vez MaisOnde histórias criam vida. Descubra agora