Vinte & Quatro

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Atravesso com certa dificuldade. As pessoas estão agitadas por conta do clima e não se incomodam em me dar passagem. Vou soltando desculpas inaudíveis enquanto esbarro aqui e acolá no pessoal. A maioria é aluno do último ano da Cesare, mas também noto rostos desconhecidos. Em certo momento, sinto passarem a mão em mim e reprimo um grito. Meu coração lateja nos meus ouvidos, e o zumbido encobre a música por alguns segundos, mas me forço a ignorar o pânico e sair do meio do mar de corpos.

Chego à entrada na cozinha com as mãos suadas e trêmulas. Rezo para que Antony esteja realmente aqui. Só em pensar em voltar no meio de toda essa gente sinto vontade de vomitar.

Um trio de colegas da escola passa por mim enquanto saem do cômodo. Não parecem me notar, ou não dão a mínima, e fico grata. Assim, dou o último passo que me põe completamente dentro da cozinha.

A primeira coisa que noto é a cor; é tudo preto e cinza. A cozinha é enorme e moderna, há portas de correr na parede ao fundo, vidro do teto ao chão. A ilha está abarrotada de copos descartáveis vermelhos, garrafas e latinhas de bebidas.

Eu o vejo logo em seguida.

Meu nervosismo cede um minuto para que eu processe o fato de que ele está aqui, inteiro e saudável como da última vez em que o vi.

Antony tem a lateral do corpo apoiada na ponta da bancada. Ele está rodeado por um grupo de pessoas, cinco no total. Dois meninos, e três meninas. Uma delas está ao seu lado, gesticulando animada, enquanto fala alguma coisa. Posso jurar que já a vi em algum lugar, mas não consigo lembrar de onde no momento. Os outros são totais desconhecidos para mim.

Não vejo o rosto de Antony, ele está com a cabeça baixa, encarando o copo na mão, mas consigo notar que está rindo.

Incapaz de anunciar minha chegada, permaneço paralisada a espera de que Antony erga o olhar.

E ele o faz. Assim que uma garota pede passagem atrás de mim e tenho que dar um passo para o lado para que ela possa entrar. Antony ergue a cabeça e quando me nota sua expressão é pura confusa. Ele franze a testa ao me encarar. Não posso desviar de seu olhar, nem quero. Estou vibrando da cabeça aos pés.

Deus, senti falta dele.

Examino seu rosto, procurando vestígios de que ele não esteja bem. Mas, além de uma incomum barba por fazer, não noto nada.
Tão lindo, tão lindo que me rouba o ar...

A garota deixa a cozinha e eu espero para que Antony dê algum sinal primeiro, para saber se serei bem recebida ou mandada embora. O silêncio dele me mata. Ele olha de mim para o copo na mão vezes seguidas.

— Não é verdade, Tony? — Eu ouço a voz na garota que está ao lado dele, tentando chamar sua atenção.

Desvio os olhos do rosto dele e olho para ela. Usa salto alto e uma saia que termina na metade das coxas. Os cabelos cheios e cacheados caem sobre os ombros. A luz do ambiente faz a pele marrom dela brilhar.
Ela aproxima o rosto para sussurrar algo no ouvido de Antony e meu estômago revira quando lembro de onde a vi.

Sinto vontade de me estapiar. De ir atrás de Theo e bater nele também. Antony não parece nada mal como ele me fez acreditar. Muito menos está desolado por sentir saudades de mim. Me sinto tão burra.

Dou às costas para eles e me preparo para encarar o terror que é atravessar a sala outra vez. Mas eu preciso sair daqui, e, se não encontrar Theodoro e obrigá-lo a me levar embora, terei que ligar para Austin, e não era algo que eu estava muito afim de fazer.

— Acho que estou bêbado — Antony fala trás de mim, parando meu passo segurando minha mão.

Ah, essa voz. Já mal noto a música do outro lado. Apenas sua voz grave e forte que faz ser difícil não fechar os olhos e mergulhar no som.

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