Vinte & Oito

4.1K 563 137
                                    

Respiro com dificuldade enquanto Antony usa uma das mãos para desfazer o rabo de cavalo que prende meu cabelo. As mechas caem livres ao redor dos meus ombros, e logo em seguida ele volta a me beijar. Não consigo desviar o foco dele por tempo suficiente para saber aonde estamos, mas não me encomodo. Contanto que ele continue aqui comigo, pouco importa-me o lugar.

Sinto quando ele me faz sentar sobre uma superfície macia (uma cama, um sofá?), e entrelaço minhas mãos ao redor do pescoço dele, impedindo-o de se afastar. As mãos de Antony viajam pela lateral do meu corpo até a barra da minha camiseta, e interrompemos o beijo apenas para que eu ergua os braços e ele a retire, jogando-a para o lado. Puxo Antony e caímos os dois para trás. Ele sorri enquanto tira a própria camisa e meu coração retumba de ansiedade em meus ouvidos.

Eu o quero tanto, tanto que me dói.

As pontas dos meus dedos queimam enquanto mapeio seu peito e suas costas. Antony suspira em minha boca e desce os lábios pelo meu maxilar. Ele passa o rosto pelo meu pescoço, arranhando minha pele com sua barba. Meus olhos se fecham, pesados com a sensação.

Um rastro de calor é deixado em minha pele quando ele começa a subir a mão pela minha perna. Então ele fala junto a minha orelha e o peso de seu corpo sobre o meu deixa de ser bom. Me sinto subitamente presa, a respiração entalada em minha garganta.

"Você gosta?", ele volta a peguntar, mas dessa vez já não é mais Antony. É uma voz grossa e feia que me faz querer gritar. Quero afastá-lo, abrir os olhos e pedir que me deixe ir, mas meu corpo não obedece. Por favor, pare, suplico em pensamento, porém, isso só faz com que a pressão sobre mim multiplique. Não, por favor.

— Não! — O grito rompe pela minha boca e ergo o corpo da cama no susto. Meu coração lateja e tento limpar a visão, buscando assustada por alguma possível ameça ao meu redor. Meu rosto está banhado de lágrimas e esfrego as mãos nos olhos para afastá-las.

Permaneço sentada por um bom tempo, tentando fazer meu coração e minha respiração voltem ao normal. Tentando me convencer de que não há nada a temer. Estou no meu quarto. Segura.

O toque do celular chama minha atenção, o que faz com que eu me mova entre as cobertas, mesmo com a sensação de peso ainda sobre meus ossos. Desligo o alarme.

Está tudo bem, tudo bem.

A porta do meu quarto abre e minha mãe entra. O cabelo preto preso em uma trança, vestindo jeans claro e sua blusa de botões rosa favorita com estampa de passarinhos. É a visão perfeita de uma professora infantil.

— Está tudo bem, querida? — ela pergunta com a voz baixa, lembrando-me que Kaila ainda dorme na cama ao lado. — Pensei ter ouvido um barulho.

Engulo em seco antes de responder, lhe dando um sorriso pouco convincente.

— Eu... me assustei. Por um momento pensei ter perdido a hora. Desculpa.

Mamãe avalia meu rosto, claramente desconfiada. Não lhe dou tempo para me sondar mais. Salto da cama e começo a pegar minhas coisas, me preparando para ir tomar banho. Até que deixa para lá e sai do quarto.

Encaro meus olhos amedrontados no reflexo do espelho.

— Você está bem — digo em voz alta, me forçando a acreditar. — Não aconteceu nada demais.

Vou repetindo isso em minha cabeça o caminho todo para a escola. E só recordo de que tenho um assunto para resolver com Ramone quando vejo o carro dele no estacionamento.

Passo pelo meu armário, encontrando Austin no corredor. Ele já chega reclamando sobre algum teste de química que terá na primeira aula, sem nem mesmo me dar um bom dia e bato em sua barriga com minha bolsa.

Cada Vez MaisOnde histórias criam vida. Descubra agora