Capítulo 5

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Estamos do lado de fora da livraria, sentadas em um banco de madeira, um tanto velho, que fica ao lado. A Senhora Parker está com o livro no colo, me encarando, esperando que eu começasse a falar.

— Olha, eu não sei como começar isso. — admito, eu realmente não sei. Afinal, não é qualquer dia que você diz à alguém que veio do futuro.

— É melhor dizer logo, porque desse jeito parece que vai se declarar para mim! — ela falou em tom sarcástico, o que me fez rir, e ela acompanhou minhas risadas.

— Olha, é sério, eu tenho medo de você achar que sou uma completa estranha e não acreditar em mim.

— Por que não acreditaria?

— Porque é loucura.

— Você me procurou em Liverpool todinha! — exclamou, em total exagero. — Agora que me encontrou, agora irá falar. Ninguém se esforça tanto para zoar com a cara de alguém.

— Tem razão, mas não deixa de ser loucura.

— Apenas diga, Alice.

Respirei fundo, e olhei bem nos fundos dos olhos dela.

— Bella Parker, eu vim do futuro, e preciso da sua ajuda.

Ela parecia ter congelado. Seus olhos transmitiam surpresa, suas sobrancelhas estavam bem erguidas e sua boca aberta.

— Como?

— Eu sou de 2019, e preciso da sua ajuda.

— 2019?

— Sim, 2019.

— É tempo demais!

— Eu sei, mas precisa acreditar em mim, eu não estou mentindo.

— Mas é loucura!

— Eu disse que era loucura!

— Como posso acreditar?

Boa pergunta, porque nem meu celular eu tenho para mostrar. Ele sumiu.

— Isso depende de você.

— E por que precisa da minha ajuda?

— Porque você é a única pessoa que eu conheço no futuro, por isso te chamei de Senhora Parker, e me desculpe por isso.

— Oh, como eu sou no futuro? Continuo bonita?

Dou risada.
São todos sempre assim.

— Você se mudou para Nova York.

— Nova York! — seus olhos ganharam brilho.

— Sim, Nova York, e lá você abre uma biblioteca. Uma biblioteca que eu sempre frequento, e você sempre foi gentil comigo.

Ela para de me olha, e encara os próprios pés.

— Não sei como acreditar, desculpa.

— É, tudo bem, eu entendo.

Já ia me levantando, indo embora, abrindo mão de tudo. De mudar a história dos Beatles e de voltar para casa. Talvez eu tenha que ficar em 1964 como mendiga até morrer nas ruas de Liverpool. Que cruel!
Mas, a Senhora Parker mais jovem, puxou minha mão de volta.

— Mas eu ainda posso tentar ajudar.

— O que? Está falando sério?

Ela sorri.

— Claro que sim!

Sem pensar duas vezes, a abraço, e ela me devolve o abraço.

— Então, o que preciso fazer?

— Eu ainda não tenho um plano, mas... você está indo para casa?

— Sim, por quê?

— Não tem nenhum lugar para morar.

Ela pensa um pouco, e depois fez aquele tipo de cara que um personagem de desenho animado faz quando tem uma ideia, e então vem aquela lâmpada sobre seu rosto.

— Eu tenho uma ideia, vem comigo! — ela me puxou pelo braço. — Me conte até que cheguemos lá, garota do futuro.

— Garota do futuro?

— Sim, gostou?

— Acho que sim.

Ela sorriu.
A Senhora Parker sempre será a melhor amiga que eu poderia ter. Sendo ela uma velha com mais de 60 anos, sendo ela jovem como eu com 14 anos.

Por favor, salve The Beatles Onde histórias criam vida. Descubra agora