Estamos do lado de fora da livraria, sentadas em um banco de madeira, um tanto velho, que fica ao lado. A Senhora Parker está com o livro no colo, me encarando, esperando que eu começasse a falar.
— Olha, eu não sei como começar isso. — admito, eu realmente não sei. Afinal, não é qualquer dia que você diz à alguém que veio do futuro.
— É melhor dizer logo, porque desse jeito parece que vai se declarar para mim! — ela falou em tom sarcástico, o que me fez rir, e ela acompanhou minhas risadas.
— Olha, é sério, eu tenho medo de você achar que sou uma completa estranha e não acreditar em mim.
— Por que não acreditaria?
— Porque é loucura.
— Você me procurou em Liverpool todinha! — exclamou, em total exagero. — Agora que me encontrou, agora irá falar. Ninguém se esforça tanto para zoar com a cara de alguém.
— Tem razão, mas não deixa de ser loucura.
— Apenas diga, Alice.
Respirei fundo, e olhei bem nos fundos dos olhos dela.
— Bella Parker, eu vim do futuro, e preciso da sua ajuda.
Ela parecia ter congelado. Seus olhos transmitiam surpresa, suas sobrancelhas estavam bem erguidas e sua boca aberta.
— Como?
— Eu sou de 2019, e preciso da sua ajuda.
— 2019?
— Sim, 2019.
— É tempo demais!
— Eu sei, mas precisa acreditar em mim, eu não estou mentindo.
— Mas é loucura!
— Eu disse que era loucura!
— Como posso acreditar?
Boa pergunta, porque nem meu celular eu tenho para mostrar. Ele sumiu.
— Isso depende de você.
— E por que precisa da minha ajuda?
— Porque você é a única pessoa que eu conheço no futuro, por isso te chamei de Senhora Parker, e me desculpe por isso.
— Oh, como eu sou no futuro? Continuo bonita?
Dou risada.
São todos sempre assim.— Você se mudou para Nova York.
— Nova York! — seus olhos ganharam brilho.
— Sim, Nova York, e lá você abre uma biblioteca. Uma biblioteca que eu sempre frequento, e você sempre foi gentil comigo.
Ela para de me olha, e encara os próprios pés.
— Não sei como acreditar, desculpa.
— É, tudo bem, eu entendo.
Já ia me levantando, indo embora, abrindo mão de tudo. De mudar a história dos Beatles e de voltar para casa. Talvez eu tenha que ficar em 1964 como mendiga até morrer nas ruas de Liverpool. Que cruel!
Mas, a Senhora Parker mais jovem, puxou minha mão de volta.— Mas eu ainda posso tentar ajudar.
— O que? Está falando sério?
Ela sorri.
— Claro que sim!
Sem pensar duas vezes, a abraço, e ela me devolve o abraço.
— Então, o que preciso fazer?
— Eu ainda não tenho um plano, mas... você está indo para casa?
— Sim, por quê?
— Não tem nenhum lugar para morar.
Ela pensa um pouco, e depois fez aquele tipo de cara que um personagem de desenho animado faz quando tem uma ideia, e então vem aquela lâmpada sobre seu rosto.
— Eu tenho uma ideia, vem comigo! — ela me puxou pelo braço. — Me conte até que cheguemos lá, garota do futuro.
— Garota do futuro?
— Sim, gostou?
— Acho que sim.
Ela sorriu.
A Senhora Parker sempre será a melhor amiga que eu poderia ter. Sendo ela uma velha com mais de 60 anos, sendo ela jovem como eu com 14 anos.
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Por favor, salve The Beatles
Science FictionAlice Scarlett, é uma jovem de 14 anos, que apesar de viver no século XXI, carrega uma grande paixão pela banda dos anos 60, The Beatles. E é por isso que Alice embarca em uma grande aventura para que os Beatles durem muito mais tempo, e não que par...