Guarda Costas;;PJM

20 - Jennifer

Levanto e caminho lentamente até a porta, mas ela é aberta antes que eu possa chegar até ela. Meu coração acelera e quebra mais uma vez, ao ver Jimin entrando, com a mesma expressão de ontem à noite.

Até quando eu vou sentir isso?

Ele está com o cabelo bagunçado, os olhos avermelhados e a roupa amarrotada. Me encara com amargura e desprezo, e eu de repente me sinto a pessoa mais vulnerável à alguém agora.

-... -cruzei os braços, graças ao frio- Como você entrou aqui?

-Por que? -sorriu- Eu ainda estou proibido de estar na sua presença? Relaxa, madame, não tem ninguém aqui. Já pode continuar o seu showzinho.

-Que showzinho?

-Ah, -gargalhou- Que showzinho? Que showzinho, que showzinho... Não se faz de burra, não combina com você. O que combina é o ego, o egoísmo, o desprezo, a mentira...

-Que mentira?

-VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA!

-MAS EU TE AMO!

-PARA! -ele retirou uma caixinha do bolso e jogou no chão, fazendo um anel cair- SE VOCÊ ME AMASSE, NÃO TERIA ME TRATADO COMO LIXO NAQUELA DROGA DE FESTA!

-EU NÃO QUERIA FAZER AQUILO! -senti meus olhos inundarem em um único segundo- MAS EU NÃO TIVE ESCOLHA!

-O que? -ele passou as mãos pelo rosto- Você não teve o que? Você é praticamente DONA dessa merda de cidade, o chão que você pisa faz sucesso. É melhor inventar outra desculpa.

-Não é desculpa, Jimin. Você apareceu do nada, num evento que mudaria a minha vida, e ainda por cima iria fazer um pedido... -respirei fundo para recuperar o fôlego- Eu não podia fazer nada.

As lágrimas em seus olhos começam a cair, o que incentiva as minhas a caírem também. Eu só quero correr para abraça-lo novamente, não me sinto mais segura desde ontem.

-...Podia pelo menos ter me dito antes que não me queria lá.

-Mas NÃO é isso.

-ENTÃO FALA O QUE É, JENNIFER! -ele deu dois passos para frente- Por favor. Eu só preciso de um, UM motivo para não começar a tentar te esquecer a partir de agora.

-Eu não nasci num berço do ouro. Não tive brinquedos. Às vezes, eu não tinha comida. Eu fui uma criança com a infância fodida.

Ele continua parado, atento ao que eu estou falando. Ter sua atenção novamente me faz sentir como se ainda ouvesse esperança entre nós.

-A minha mãe era uma piada. Trabalhava como prostituta sem o meu pai saber. -suspirei- Ela não se importava com nada, absolutamente nada. E meu pai, tinha um pequeno prédio onde ele fazia alguns negócios, mas não era nada que conseguisse sustentar a gente. Então, um dia, ele faliu de vez. Minha mãe foi embora com Joseph, e eu sofri durante longos cinco anos.

-E por que não me contou isso antes?

-Estou contando agora. -ele suspirou- Ah, eu... Construí a Carter Book com muito esforço, Jimin. Sozinha. Aos poucos, as coisas começaram a dar certo de verdade. Era uma empresa falida. Foi muito devagar. Ver essa empresa crescer é tudo para mim. É a minha vida, o meu sonho. Quando se falta comida, onde dormir, roupas ou brinquedos para uma criança, ela pode crescer traumatizada ou com fome de poder. Eu cresci com os dois.

Ele encara o chão por alguns segundos. Deve estar tentando decidir se isso é uma "desculpa" boa o suficiente para ele.

-Então, não se arrepende do que fez?

-Falar do meu passado me sufoca. A Carter Book é tudo para mim. Mas ficar entre ela e você, foi uma das coisas mais difíceis que eu já precisei fazer. Eu só me arrependo da forma de como eu te tratei, eu poderia sim ter feito diferente. Eu só estava com medo. Com medo de voltar a faltar roupas, comida, onde dormir...