6. Minha Psicóloga

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O dia da primeira sessão chegou. Eu não estava exatamente nervoso, estava mais esperando que a psicóloga Janaina Moraes fosse dá todas as respostas da minha vida. Nunca fui a uma, então não tinha muita noção do que dizer nem fazer lá.

Meus pais me levaram até a clínica, mas não puderam entrar, pois a sessão era apenas comigo, além disso eles tinham de ir trabalhar. Assim que entrei na sala de espera tinha uma garota de uns 20 anos aproximadamente. Ela segurava um livro de ficção na mão enquanto olhava para o teto. Aproximei-me e sentei ao lado dela no banco de espera.

— Você também está aqui para o caso de intersex? — perguntou.

Gelei na mesma hora. Ela me encarava rindo. Tentei falar, mas só gaguejei.

— Tudo bem, não precisa falar nada. Eu sou Mariana. Nasci menina e descobri que sou menino geneticamente, mas a doutora me ajudou, hoje percebo que sou uma mulher completa.

Encarei-a sem acreditar que ela tinha algum traço masculino.

— Eu tinha até bigode. — disse e riu. — Ela está terminando de atender meu namorado. Ele é um intersex também. O conheci nas terapias. Ele era uma menina assim como eu e geneticamente menino, mas optou pelo genótipo. É estranho né?

— Um pouco, não sei bem o que pensar no momento. Só faz uns dias que descobri.

— No começo eu entrei em desespero, mas depois das terapias pude entender melhor, minha família me apoiou muito em tudo e sei que logo você vai se encontrar também.

Assim que ela terminou de falar, um rapaz saiu da sala e os dois se retiraram. A psicóloga esperou que eles se fossem antes de me chamar para a sua sala. Era um espaço arejado e com dois sofás pequenos, um de frente para o outro.

— Sente-se Fábio. — sorriu e sentou-se no outro sofá.

Assim que me acomodei pude perceber que ela era uma mulher baixinha e aparentemente bem simpática. Gostei do jeito que ela me olhava, senti tranquilidade.

— Olá Fábio, meu nome é Janaina e vou te acompanhar durante todo o processo, quero que saiba que pode dividir tudo comigo, assim podemos conversar melhor. Bem, seu médico me passou a sua ficha e aqui diz que você descobriu que tem o genótipo feminino há uns dias. Como se sente com isso?

Não sabia bem o que dizer, mas fui aos poucos conversando com ela.

— Estou um pouco ansioso, não era bem isso que eu queria para a minha vida.

— O que você tinha me mente para a sua vida?

— Eu sonhava em terminar o ensino médio e ser campeão no campeonato de vôlei.

— Jogar vôlei é muito importante para você?

— Muito. Sempre gostei. Mesmo eu sendo mais baixo do que meus colegas sei que sou um dos melhores entre eles. E depois disso...

— Disso...você fala da revelação desses dias?

— Sim. Não sei se poderei continuar jogando.

— E por que não?

— Não sei ao certo, mas sinto que uma hora todos da escola vão descobrir e vão me proibir de jogar no time masculino.

— A coisa que você mais gosta realmente é jogar vôlei ou tem mais alguma outra coisa?

— É vôlei. Gosto de jogar videogame com meus amigos, mas não acho que seja mais legal que jogar.

— Você quer ser jogador de vôlei profissional?

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