Cheguei em casa animada, quando me deparei com meus pais sentados no sofá preocupados. Meu pai estava com o telefone na mão e minha mãe passava as mãos pelos cabelos.
— O que houve?
— Sua tia distante, irmã de seu pai, disse que vinha nos visitar próximo final de semana.
Meus olhos se arregalaram tanto que senti até dor de cabeça. Essa minha tia era aquele tipo de tia fofoqueira que onde chegava espalhava a história da família toda. Porém, o que ela tinha de língua grande, tinha de veneno. Não havíamos contado para ela da minha transformação, pois essa minha tia nunca havia vindo nos visitar, era uma parenta que só víamos no enterro de algum familiar ou em algum Natal perdido na casa de meus avós.
— Por que ela vem? Não faz sentido.
— Ela disse que está em viagem de lua de mel, conheceu um senhor e se casaram, inclusive fiquei sabendo disso agora. Vão passar a lua de mel em Brasília, mas antes vão dar uma passada por aqui. — esclareceu mau pai.
Minha mãe odiava essa minha tia, pois quando ela conheceu meu pai, ela fazia de tudo para que meu pai não casasse com ela, alegando que minha mãe era de família pobre e que só iria destruir a linhagem. Meu pai tentara negar, mas como era sua irmã, acabou cedendo e minha mãe estava a ponto de voar as panelas na parede.
— Ela vai me ver menina e vai ser o fim dos encontros de Natal. — falei.
— Mais cedo ou mais tarde você teria de contar, não tem como esconder isso para sempre, filha. — confortou minha mãe.
Fui para meu quarto pensativa. Meus pais e eu decidimos que só iriamos contar quando voltássemos para nossa cidade natal, pois até lá nós iriamos nos acostumar com a ideia, mas só fazia quinze dias da cirurgia e nem dois meses que eu iniciara nas roupas femininas, aquilo estava indo rápido.
Na manhã seguinte meus pais já haviam saído para trabalhar quando me acordei e escutei alguém chamando na porta da frente. Tirei rapidamente o baby-doll e joguei um vestido qualquer que estava ali do meu lado. Meu cabelo estava uma bagunça total e o mal hálito nem se fala. Abri uma pequena abertura da porta e vi Felipe todo alegre e de roupa social da cabeça aos pés.
— O que está acontecendo? — perguntei totalmente rouca.
— Vi que você está muito animada hoje. Estou só lembrando da festa hoje. E queria saber se você quer ir ajudar a encher umas bolas hoje de tarde.
— Que bola?
— Balão de festa. Manuela, não vai me dizer que você estava dormindo. Já é meio dia.
— Eu estava tirando um cochilo.
A pequena abertura na porta, só dava para ele ver um olho. E que continuasse assim, eu estava cheia de remela e marca de baba.
— De 15h te aguardo lá. Estou indo no centro comprar umas coisas. Depois passo aqui.
Nem consegui dá "tchau", pois ele se virou e foi embora na sua moto. Não sabia que fazer umas comprinhas na rua precisava estar todo no social, mas aparentemente Felipe tinha um estilo só dele. E tinha ficado muito bonito, inclusive. Fechei a porta já me castigando por ter olhado o rebolado dele até ele subir na moto.
Eu não podia ficar olhando assim para o corpo dos meus amigos. Era o corpo de Rafael e agora de Felipe. A coisa estava ficando cada vez pior. Eu não estava apaixonada por nenhum deles, mas sentia meu coração ficar quentinho quando eles estavam por perto.
Almocei, tomei banho e corri para o computador. Estava tranquilamente deitada na cama quando meu telefone toca. Era a minha psicóloga aqui de Goiás. As vezes ela ligava para saber como eu estava, as sessões eram uma vez por semana, mas ela era muito atenciosa, sempre arrumava um tempo de ligar durante a semana ou mandar mensagem.
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Ele sou Ela®
RomantizmFábio sempre foi um garoto que viveu rodeado de amigos e participava do clube de vôlei da escola, era um rapaz não muito alto, mas com uma agilidade que dava inveja nos outros garotos. Mas um dia, depois de um acidente de trânsito, ele descobre que...