— Filha, corre aqui na cozinha que teu pai deixou o bolo no forno e está tudo fumaçando!
Eu estava no quintal colocando água em duas plantas, quando a confusão de fim de ano começou. Já era quase noite e a bagunça havia se instalado lá em casa novamente. Ontem e hoje eu e meus pais passamos os dias tentando deixar tudo arrumado para a passagem de ano. Não iriamos faze muita coisa apenas uma janta e um bolo, que aparentemente já era.
— Minha nossa! Que desastre. — meu pai esbravejou da cozinha.
Corri a tempo de ver uma fumaça preta invadir toda a cozinha. O bolo estava irreconhecível. E meu pai estava desolado olhando sua obra prima ser jogada no lixo.
— Vamos fazer outro, temos tempo para meia-noite. — incentivei.
Peguei novos ingredientes e entreguei para ele. Enquanto ele batia a nova massa e ia me explicando como fazer, minha mãe terminava de tirar o pó do sofá e do resto da casa. Logo estaríamos com a casa perfeita.
Quando o novo bolo saiu do forno já era mais tarde do que imaginei, jantamos e assistimos um pouco de televisão, finalmente sentados no sofá livre de poeira e tudo limpo. Comemos do bolo já de 23hrs e fomos caminhando para o Centro. Era uns 30 minutos caminhando devagar, mas não percebemos a distância.
Não havíamos ido no centro para passear ainda e aquele era o momento em que havia muita gente na rua e muitas luzes. Coloquei um vestido jeans de alcinhas finas, pois coloquei uma blusa de manga longa por baixo e meus pais quiseram ir à caráter, ou seja, de branco dos pés a cabeça. Eu achava um exagero, até os sapatos eles colocaram branco, coloquei foi o meu tênis de sempre e estava tudo certo.
Havia muita gente no centro, mal dava para ver as coisas que tinha em volta, mas sentamos em uma lanchonete, que não estava tão cheia assim, enquanto um palco de show tocava ao fundo com algum cantor sertanejo que não fazia ideia quem era. Meus pais pediram um drinque para eles e uma Coca-Cola para mim, infelizmente eu era menor de idade, embora eu bebesse um vinho de vez em quando. Eu faria 18 dois dias antes da cirurgia. Cada vez eu me acostumava mais com a ideia de que logo me tornaria uma garota por completo, o que era bizarro, já que fui criado como menino esse tempo todo e eu não estava achando aquilo um completo absurdo. Eu estava bem, me sentia em paz.
Então a contagem iniciou. 10. Eu me lembrei de cada coisa que vivi naquele ano. 9. Minha nota muito boa no Enem, que me daria a oportunidade de uma boa faculdade, caso eu quisesse. 8. Minha menstruação vinda sem interrupção todos os meses. 7. Meu beijo com Rafael. 6. A vitória na liga regional de vôlei. 5. Meu segundo beijo com Rafael. 4. Minha descoberta como geneticamente feminina. 3. Minha aceitação como garota, coisa que eu deveria ter nascido daquele jeito, talvez minha vida fosse diferente. 2. Minha mudança para a cidade nova, por conta do emprego de minha mãe. 1. Meus novos amigos e minha nova oportunidade no vôlei feminino. FELIZ ANO NOVO!!!!!! É... eu estava pronta para viver isso.
***
Eu e meus pais nos abraçamos num abraço coletivo, depois começamos a cumprimentar todos a nossa volta desejando um feliz ano novo. O Centro estava quase impossível de caminhar, saímos nos espremendo entre algumas pessoas até uma área mais tranquila. Nunca havia visto tanta da gente junta.
— Isso que chamo de cidade grande. — respirou cansado meu pai.
— Essa será nossa rotina pelo esse ano. Vamos aproveitar bastante, mas por sorte o bairro que estamos mesmo sendo próximo daqui é bem tranquilo. — disse minha mãe.
Estávamos conversando quando quatro pessoas se aproximam da gente. Era Felipe, sua irmã Julia e seus pais.
— Prazer em conhecer vocês. Vi que chagaram, mas a correria e o fato de vocês estarem arrumando a casa nos impediu de nos apresentar antes. Está gostando daqui? — falou o pai de Felipe.

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Ele sou Ela®
RomanceFábio sempre foi um garoto que viveu rodeado de amigos e participava do clube de vôlei da escola, era um rapaz não muito alto, mas com uma agilidade que dava inveja nos outros garotos. Mas um dia, depois de um acidente de trânsito, ele descobre que...