Chegamos na cidade nova no dia seguinte já de tarde, queríamos ter chegado antes do meio dia, mas o trânsito estava complicado. Foram mais de 30 horas de viagem. Estávamos cansados, mas conseguimos retirar tudo do caminhão de mudança e jogar dentro da nova casa, no dia seguinte é que arrumaríamos aquela bagunça.
Meu pai apoiou a mesa dobrável que ficava em nossa varanda e colocou sobre ela alguns pães de queijo e uma garrafa de suco de uva integral que havia comprado no caminho. Minha mãe foi estirar nossos colchões na sala para passar aquela noite enquanto eu fui tomar um banho, felizmente a água era quentinha, pois estava um frio de matar.
Assim que terminei o banho fui colocar minha nova roupa, pois aquela seria minha rotina. Se eu era uma garota, tinha que começar a agir como uma. Minha mãe havia separado um vestido leve para eu dormir, mas era estranho vestir aquilo, era muito fresco, muito ventilado, tudo muito. Vesti rapidamente e me olhei no espelho que tinha no banheiro, era um vestido de mangas ¾, ia até abaixo dos joelhos e era rodado e sem decotes, ou seja, estava confortável, mas ainda assim muito estranho.
Meu cabelo já dava para amarrar um pouco, mas como eu havia lavado após a viagem, referi deixar solto. Já cobria um pouco as minhas orelhas e formava uma pequena franja. Fiquei me olhando no espelho um pouco e eu estava a cara de uma garota, não tinha como alguém dizer que por baixo daquelas roupas ainda existia um pênis, mas logo seria corrigido.
Fiquei vermelho ao olhar para a sacola de roupa e ver que minha mãe havia colocado uma calcinha. Onde fui me meter? Estava me sentindo um pervertido, mas peguei e percebi que não era tão pequena quanto julguei que era, parecia uma cueca, só tinha umas colinhas e era rosa, fora isso aparentemente confortável, então a vesti e fui para a sala jantar pela primeira vez em nossa casa.
Assim que entrei na sala meus pais pararam de comer e ficaram me olhando. Meu pai por pouco não deixou o pão cair no chão e minha mãe levantou-se e veio ao meu encontro.
— Nossa, filha, você ficou muito bem. — falou tocando no meu vestido. — Esse vestido era meu quando jovem. É de algodão então e bem confortável.
— Vamos comer. — falou meu pai. — E vamos dormir, pois já é quase meia noite e amanhã teremos muito o que fazer.
Jantamos entre risos e passadas de mãos na minha cabeça. Meus pais pareciam terem ficado muito contentes com a minha escolha e aquilo me alegrava, pois não queria decepcioná-los. Naquela noite sonhei com o beijo e tanta coisa que eu havia deixado para trás, mas sonhei também com as novas pessoas e na nova realidade que eu iria enfrentar daquele dia em diante.
***
Acordei com cheiro de café e com barulho de pacotes caindo. A manhã e a tarde seguiram daquele: jeito entre poeira e pacotes. Estava um caos. Quando a noite chegou novamente já havíamos arrumado os quartos e a cozinha, mas a sala e o corredor ainda estavam lotados de caixas e alguns moveis para desmontar.
Após a janta eu e meus pais sentamos na cozinha e ficamos conversando um pouco de como seria no dia seguinte. Eu já não tinha estudos, então ficaria em casa, enquanto meu pai e minha ame seguiriam para o emprego deles. Minha mãe e meu pai eram servidores públicos federais, minha mãe acabou sendo transferida a serviço para Goiás, com isso meu pai ganha o direito de também ser transferido com ela.
Minha mãe havia comprado várias roupas para mim que iam de roupa intima até vestido de festa, o que era bom, pois não sei se já teria coragem de entrar numa loja procurando roupas femininas. Meu conjunto favorito eram os vestidos e um casaco jeans que eu sempre usei. Eram confortáveis e não marcava em baixo, pois se eu queria esconder alguma coisa, tinha que evitar calça e shorts por enquanto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ele sou Ela®
RomanceFábio sempre foi um garoto que viveu rodeado de amigos e participava do clube de vôlei da escola, era um rapaz não muito alto, mas com uma agilidade que dava inveja nos outros garotos. Mas um dia, depois de um acidente de trânsito, ele descobre que...