Ele sou Ela®

16. Mulher por completo

Boa leitura *-*

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O grande dia chegou. Dizer que eu estava em pânico era pleonasmo. Não por retirar o pênis, mas pela cirurgia mesmo. Tinha medo de dar alguma coisa errada. De urinar pelo umbigo. A maior dificuldade era meu canal urinário, pois eu possuía uma alteração, mas a vagina era um pouco maior, então tirar uma parte não iria comprometer muita coisa. Já havia visto vários vídeos de como era aquela cirurgia e de como ficava depois. Todas me aterrorizavam e todas pareciam totalmente diferente do que era para parecer, o que não ajudava muito.

Fazer uma cirurgia de resignação sexual dentro do Brasil é apenas a partir de 21 anos e com no mínimo dois anos de acompanhamento, porém, o meu caso era diferente já que o meu caso era hermafroditismo e o acompanhamento de quase um ano já foi suficiente para que os médicos resolvessem realizar, afinal demorar muito tempo para fazer essa mudança, poderia, no meu caso, atrofiar de vez o outro órgão.

Eu sabia tudo que iria acontecer. Um vídeo com um simulador foi explicado para mim e meus pais dias antes. Eu ainda não havia entendido o que iria sair de meu corpo e o que iria manter. Eu tinha uma peculiaridade, eu tinha o canal vaginal intacto e não tinha me dado conta disso. O meu clitóris estava lá embutido e inativo. O meu pênis funcionava, mas era apenas onde estava alocado o meu canal urinário, que seria realocado para dentro da vulva que seria constituída com a pele do saco escrotal. Meu saco escrotal era os meus lábios maiores da vulva, que no desenvolvimento haviam fechado, então estava tudo bem.

Seria três médicos que faria a minha cirurgia. Após a cirurgia já daria início ao procedimento estético de preenchimento dos lábios da vulva e a colocação de um pequeno cano dentro do meu canal vaginal, que embora esteja muito bem, por conta da cirurgia pode querer fechar. E é aí que entra a fisioterapeuta pélvica e a ginecologista, que iniciarão exercícios musculares nessa área, para que o meu sistema sexual e urinários fique perfeito em até 90 dias.

Em três meses eu teria a resposta para todo o procedimento. Eu iria começar a tomar uns comprimidos nesses 90 dias para essa minha nova mudança que auxiliará no meu ciclo menstrual que poderia dá algum problema. Eu queria pular logo para daqui três meses.

Assim que deitei na cama de cirurgia com aquela roupa ridícula que deixava toda a minha bunda de fora, meus pais se aproximaram vestidos com roupas de proteção e máscara beijando-me na testa, quando se afastaram a anestesia foi aplicada e tudo a minha volta ficou escuro. Mergulhei num sono de quatro horas.

***

Acordei com uma luz quase que me cegando. Não havia ninguém no quarto. Umas agulhas estavam enfiadas no meu braço e uma máquina apitava do meu lado. Levantei o lençol e meu quadril estava envolto em uma espécie de frauda de gaze.

Será que tinha dado certo?

Logo o sono me bateu e acabei dormindo novamente. Acordei com uma enfermeira mexendo no meu braço e minha mãe do meu lado. Eu já não estava mais naquele quarto, havia sido transferido para um que poderia receber visitas. Minha mãe ficou um pouco comigo enquanto a enfermeira dizia que em 15 minutos eu estaria dormindo novamente para em recuperar.

— A cirurgia foi um sucesso filha. Você tem uma vulva igual a minha.

— Sem detalhes.

— Estou tão feliz com a minha garota.

— Estamos a quanto tempo aqui? Tudo parece turvo.

— Faz 24hrs que estamos aqui. A cirurgia foi ontem de tardinha e hoje já são... — e olhou o relógio de pulso. — Oito horas da noite.