5. Como tudo aconteceu

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Quando cheguei em casa meus pais disseram que a noite queriam conversar comigo e foram fazer seus afazeres. Imaginei que fosse sobre minha escolha e toda reviravolta de hoje. Eu sabia que a decisão não era fácil, tinha mais coisa nessa balança do que eu havia imaginado que teria. Me coração não parava de bater acelerado e só de pensar que eu era geneticamente uma menina e que meu primeiro beijo havia sido num menino, não sei se aquilo me deixava mais feliz ou mais triste. Nada contra beijo gay, mas não era uma opção que eu estava procurando. E por que diabos eu estava pensando no beijo novamente? Eu tinha era que esquecer isso e focar na minha vida. Minha vida no vôlei, meu sonho... Nada estava indo bem e não sabia onde podia piorar.

Por sorte a moto que veio para cima de mim não causou nada grave, eu havia apagado com a queda, mas nada de grave na minha cabeça, mesmo assim eu iria fazer mais uma tomografia daqui uns dias para o caso de algo não ter sido visto na primeira. Obviamente as dores no corpo ainda estavam lá, mas já havia sido medicado e passado alguns medicamentos em algumas feridas. Logo eu estaria bem, eu esperava que eu estivesse realmente bem. Acabei dormindo atolado de preocupações e exausto do dia.

Acordei-me com minha mãe me balançando.

— Levanta Fábio. A janta está na mesa e... Depois iremos conversar melhor com você.

Saí me arrastando da cama. Minha cabeça estava doendo demais devido àquelas preocupações e o corpo ainda todo dolorido da queda. Tomei um comprimido, tomei banho e fui para a cozinha. Meus pais estavam sentados colocando a comida no prato, peguei o meu e sentei ao lado deles.

A janta rolou normalmente, mesmo com aquele ar de que tinha alguma coisa estranha no ar. Algo que remetia à muito mais do que minha verdadeira identidade, se é que eu podia chamar assim.

Depois que minha mãe e eu terminamos de arrumar os pratos e meu pai tirar as coisas da mesa, fomos todos para o sofá. Sentei-me no outro sofá de frente para eles.

— Pai, mãe... O que está acontecendo? — soltei, não aguentando de curiosidade.

Eles me olharam intrigado.

— É essa a pergunta que você realmente quer fazer? Pensei que queria do começo. — falou meu pai.

— Quero saber do início, mas estou vendo que existe algo a mais.

— Calma filho, chegaremos lá. — sorriu minha mãe. — Vamos começar pelo começo.

***

Era início do outono e eu estava grávida de você. Eu estava com um tumor muito grande e não podia mexer até que você nascesse, mas acabou eu com esse tumor no ovário eu acabei produzindo hormônio masculino em excesso. Eu fiz alguns exames, mas não fiz exame pra saber seu sexo, eu só queria que fosse surpresa. Então... Você nasceu. Gordinho, uma coisa linda. Só que... O médico disse que tinha algo errado e que biologicamente você era mulher. Eu fiquei chocada porque eu não esperava que meu menino fosse outra coisa que não um homem. Ele me explicou tudinho e disse que só era para dizer isso aos seus 14 anos, porém, achamos melhor dizer bem depois, pois não queríamos que você sofresse. Mas conversamos com alguns pais que tem filhos intersex e eles disseram do perigo de deixar tanto tempo sem contar, com isso ficamos com medo de você se envolver sexualmente com alguém e esse alguém ao descobrir sua diferença genética resolver lhe abandonar. Então, não esperamos mais e aproveitamos o seu acidente e o fato de você já está no hospital com o médico já lá. Desculpe filho... Eu e seu pai só queremos o melhor para você.

***

Fiquei um bom tempo encarando minha mãe que chorava um pouco.

— Claro que lhe perdoo mãe. Vocês sempre querem o melhor para mim. Não fizeram por mal. Eu estou péssimo por que não esperava isso, mas estou bem. Vai demorar para lidar com toda a situação, mas vou fazer os acompanhamentos a psicóloga e sei que vou fazer a escolha que julgar melhor.

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