Eu te amo.

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A Harley Davidson dyna 1600 flutuava na autoestrada. Os cabelos de Toni esvoaçavam ao vento. Eu usava seu capacete após inúmeros protestos. Não que aquilo fosse certo, mas ela garantiu que seria cuidadosa, e não teríamos problemas com a polícia. Eu segurava na cintura dela com muito receio. Nunca gostei de motociclos. Vez ou outra, ela massageava minhas mãos, e sorria, divertindo-se as minhas custas. A moto virou a Rua Rosecrans, apertei os olhos e belisquei o ventre dela. Pegamos o elevado em direção à praia de Manhattan. Ao passarmos pela Rua 27, encontrava-nos acima de Manhattan Beach Art Center, a apenas alguns quarteirões do Pier. 

A rua em frente ao pier dava acesso a um estacionamento público. Toni estacionou a moto, e eu desci o mais depressa possível. Tirei o capacete, e o pendurei em um dos braços. Respirei fundo. Minhas pernas estavam dormentes, mas eu estava imensamente feliz.

– Praia? É sério? – eu perguntei, ajeitando os cabelos.

– Praia deserta. – ela comprimiu um sorriso diabólico, mas o desfez me puxando pelas mãos.

Perdi a noção da hora, aliás, quando eu estava ao lado de Toni tudo a minha volta tornava-se inexistente. Ela roubava o foco de tudo, de todos, por ser simplesmente ela.

A praia realmente estava deserta. Na areia havia muitas redes de vôlei, Manhattan Beach tornará vip, e passará então a receber importantes campeonatos de vôlei, que geralmente ocorrem entre junho e julho. Por isso era comum ver tantas redes de vôlei já montadas nas areias. E eram muitas! Arranquei as minhas botas, Toni fez o mesmo com o seus sapatos. Subimos a calça até a altura do joelho, e afundamos os pés na areia.

A areia, sob meus pés, parecia massageá-los a cada passo que dava, e eu não podia furtar-me ao sorriso de prazer que isso me provocava. Senti vontade de sair dançando, de tanta alegria. Mas preferi voltar-me para Toni e segurar a mão que ela me oferecia. Caminhamos juntas por entre as pequenas ondas que vinham beijar a areia. A imensidão do oceano vinha molhar os nossos pés, sob a forma de pequenas ondas espumantes. O céu e o mar pareciam confundir-se numa única e enorme mancha negra. Incrível. As luzes do pier iluminavam a areia, dando a impressão de que esta era laranja.

O pier possuía uma forma octogonal, incluía um telhado espanhol e grandes refletores gooseneck para melhorar a iluminação. Eu diria que o pier era bem parecido com uma oca indígena. O pier obtinha uma maravilhosa visão de toda a orla. Ele ainda contava com um aquário municipal, mas aquela altura estava fechado. Toni e eu pulamos as grades do local, e caminhamos pelo cais. Teríamos problemas se fossemos pegas. Havia ali, uma espécie de calçada da fama com o nome de alguns atletas do vôlei. Nós riamos dos derivados nomes daquelas pessoas, estávamos tranquilas, curtindo a presença uma da outra. Sentamos em um dos bancos rosados, e nos calamos, admirando as ondas que ganhavam força, baterem contra as madeiras do cais.

– Como você se sente? – Toni quebrou o silêncio, virando o pescoço para me fitar.

– Não sinto minhas pernas. – brinquei. – Sendo assim, me sinto horrível.

– Você sente frio? – seu rosto estava confuso. Ela definitivamente não havia entendido a minha brincadeira.

– Eu estava brincando. Estou me sentindo, estranhamente, bem. E temo por isso. – Toni encurtou o espaço entre nós, e colocou minhas pernas por cima de suas coxas. Seu braço descansou por cima de meus ombros. Com a mão livre, ela tirava os resíduos de areia que, estavam em meus pés. Um sorriso fugiu por entre os meus lábios. Aquele toque me causava cócegas.

– O mundo a nossa volta é complicado, mas não vamos falar dos problemas.

Encolhi os pés. Toni me olhou, capturando o que eu estava sentindo no momento.

Too CloseOnde histórias criam vida. Descubra agora