Você?

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''My girl, my girl, where will you go? I'm going where the cold wind blows
In the pines, in the pines, where the sun don't ever shine
I would shiver the whole night through.
''Where Did You Sleep Last Night – Nirvana.

Xxx

Cílios longos e hirsutos faziam sombra nas bochechas rosadas. Boca pequena, que escondia um choro aborrecido, quando a fome surgia. Os braços eram tão gordinhos, protegidos por uma camada de penugem. Dedos longos, que quase não víamos, a não ser na hora da sanha. Quando a claridade alcançava o seu rosto, ela espremia os olhos, e fechava o cenho. Depois de sua chegada inesperada, o bebê dormia tranquilamente em meus braços. Ela era tão pequenina. Eu não me mexia direito com medo de quebrá-la. Seu corpinho delicado me deixava embaraçada. Aquela criança era a coisa mais valiosa e sensível que meus braços já aninharam. Meu pequeno pedaço de imortalidade me ensinaria à arte de ser mãe. Depois da grande surpresa, Toni e eu respirávamos melhor.

Archie a acompanhou até o consultório do neurologista que, cuidou de sua brilhante cabeça durante o coma. Toni simplesmente estava irredutível. Não queria sair do meu lado por nada, foi uma tarefa árdua convencê-la do contrário. Meus pais chegariam dentro de uma hora, soube através de Archie que tiveram um problema com o voo. Todos souberam da notícia, e recebia a cada trinta minutos mensagens em meu celular. Não tive muito tempo de lê-las, minha atenção estava voltada ao baby E.T, e para falar a verdade, o apelido não fazia jus a sua beleza.

Ela era muito parecida com Toni. Olhos, sobrancelhas, as dobrinhas abaixo dos olhos, nariz, boca.. Queixo. Tudo! Sorri, colocando a ponta do meu dedo polegar no queixo minúsculo, fazendo com que seu lábio inferior se abrisse. Diferente dos outros bebês, minha pequena Toni, não tinha cara de joelho. Eu estava tão apaixonada por ela, que não me importei em ouvir seu choro sentido. Morri de tristeza ao saber que a consequência de seu choro, era resultado da dose de hepatite B em sua perninha esquerda. Desde que chegamos ao hospital, Archie cuidou de tudo, já que a única preocupação de Toni era a filha e minha vagina. Sim! Ela quase teve um surto ao saber que um médico me examinaria.

Serenei as feições de seu pequeno rosto, e respirei fundo. O soro em meu braço estava começando a me deixar preocupada, o medo era esbarrá-lo na cabeça dela. Meu Deus! A garota era tão real. Mal podia acreditar que ela quem me fez comer tanto bacon e ovos.

Era tão diferente do que eu imaginava. Meu coração batia em paz, num ritmo de encantamento, novidade.. E se eu a machucasse? Não decifrasse seus choros? Era muita responsabilidade. Ela dependeria de mim para tudo. O medo perfurou meu coração, espalhando a segurança que eu guardava dentro dele.

– Cheryl! – Chamou-me uma desesperada Penélope. – Meu Deus! – antes de chegar mais perto, ela sorriu, pingando lágrimas dos olhos. Era uma mistura. Felicidade. Emoção. Em seus braços havia muitos presentes. Ela os deixou em uma poltrona azul, e finalmente maravilhou a beleza de um gordo bebê em meu colo. – Meus parabéns. – beijou meus cabelos. Ainda senti suas lágrimas molhando meu couro cabeludo. – Posso? – esfregou as mãos, ansiosa para pegá-la.

Com um gesto amplo, sorri, e entreguei-lhe a menina.

– Ela é muito linda.

– Obrigada, mamãe. – eu já olhava meu pequeno E.T com saudade. Ainda sentia o calor de seu corpinho em meus braços. Apesar da insegurança, ela me deixava mais leve.

– Já escolheram o nome? – inquiriu, promovendo leves tapinhas nas costas de sua nova neta. Nunca imaginei aquela cena. Já imaginei minha mãe enfrentando dragões, zumbis, mas em hipótese alguma a imaginei segurando meu bebê, dando pancadinhas em suas costinhas para expelir gases estomacais.

Too CloseOnde histórias criam vida. Descubra agora