• Cristina's POV:
Sou independente...sou forte...sou firme...sou segura...sou mulher...e tenho um orgulho imenso por tudo isso...mas sou gente...um ser humano também...e as vezes, sou dependente...frágil...assustada...insegura...e quero tanto que nestes momentos minha sensibilidade seja respeitada...e bem cuidada...e acalentada...e entendida...
No momento estou saíndo do meu local de trabalho. São agora 10:00p.m./da tarde, e estou voltando para casa. Pego um táxi que por sorte passa logo em frente à empresa de design onde trabalho. Mal que entro no carro a chuva começa a cair com força. É só até chegarmos a esquina para o tráfego nos parar. Enquanto isso me distraiu em meus devaneios. Pensando em minha vida miserável. Sem cor, sem nada. O único de bom que tenho é Ísis. Que é minha amiga, companheira. A única pessoa que nunca me destratou como ser humano ou como mulher. Ela sempre acreditou em mim e me apoiou em tudo.
- Parece que vamos atrasar um bocado senhorita_diz o motorista do táxi olhando para mim do espelho. Apenas confirmo com a cabeça e me aconchego mais encostando minha cabeça no vidro. Até que avisto algo doloroso.
Uma menina deitada no chão e toda encolhida sentindo frio. Se eu pudesse ajudar todas as pessoas que vivem na rua eu seria a mulher mais feliz do mundo. Sempre que me deparo com essa situação meu coração aperta. Continuo olhando para a menina e noto que ela também olha para mim. Seus olhos tem algo tão encantador e chamativo. Eu sei que isso pode parecer loucura mas sinto que preciso ajudá-la. Eu uma morta de fome que vive de favor em casa da amiga querendo ajudar outra morta de fome. Mas simplesmente me deixo levar pelos meus sentimentos. Não me importo. E daí se Ísis surtar?! Eu me entendo com ela.
- Me espere aqui senhor_digo não esperando a resposta do motorista e desço do carro indo ao encontro da menina. Ao chegar nela me ajuelho
- Oi_digo acariciando seu rosto. De perto dá para ver melhor sua beleza. Ela é linda demais. Sua pele é tão branquinha feito neve e tem as maçãs das bochechas rosadas. Seus olhos finos e negros são de certo jeito fofos e meio sinistros. Diria que se parece com algum personagem da Saga Crepúsculo.
- Me ajude_diz com sua voz fina
- Você vive por aqui?
- Não. Venho de um lugar muito distante. Tenho frio_diz a última parte se acanhando mais na espécie de capa preta que traz.
- Tudo bem. Vem comigo_digo e a ajudo a levantar. Ela segura minha mão pois sinto sua confiança em mim e se levanta revelando a roupa estilo princesa gótica que traz.
A levo para o táxi e ao entrarmos o tráfego logo abre. Num gesto instantâneo ela cerca suas mãos em minha cintura e deita sua cabeça em meu peito. Somente me limito a cercar meus braços em seu corpo pequeno e a aqueço até chegarmos em casa.
- Obrigada_digo pagando o táxi ao motorista e desço com ela. Entrando na recepção do prédio onde vivo sinto os olhares de algumas pessoas sobre a mocinha que está comigo. Não entendo porquê
- Vejo que tem visita Cristina_diz o senhor Arthur da recepção. Um velho que trabalha aqui já a muito tempo. Antes até de eu e Ísis virmos morar aqui. Ele é um senhor culto e simpático. Bastante cavalheiro também
- Pois é senhor Arthur. Outro dia te conto acerca disso_digo piscando o olho para ele e entro no elevador com ela. Piso para o 7° andar e chegando lá encontro o corredor vazio. Abro a porta de casa e dou espaço para que ela entre.
- Pode sentar..._paro por não saber seu nome - Como você se chama?_pergunto para ela
- Elisabeth. E você?_diz olhando curiosamente para tudo na casa.
- Ah. Eu me chamo Cristina_digo
- Sua casa é linda_diz observando
- Obrigada_digo sorrindo e ela sorri de volta. O apartamento de Ísis tem um toque meu e dela. Decoramos ele juntas e o deixamos de modo a nós duas nos sentirmos aconchegadas.
- Olha. Você vai seguir esse corredor e entrar na última porta à esquerda que é a casa de banho. Vai tomar um banho enquanto eu preparo algo para você comer. Se continuar com essas roupas irá pegar um...
- Resfriado_diz ela completando minha frase
- Sim_digo
- É o que minha mãe dizia_ela diz olhando para um lugar onde só ela conhece. Conheço muito bem aquele olhar.
- Pois então vá_digo sorrindo e ela se direciona para lá. Para ela falar assim sua mãe só pode ter morrido. Vou a cozinha preparar um lanche para ela e aproveito para me preparar psicologicamente também para quando Ísis chegar. Sei que ela ficará brava por levar uma desconhecida para casa mas ela terá que me entender. É uma menina com certeza sem ninguém e precisando de ajuda.
Decido preparar uma sandes de fiambre e queijo com um suco de ananás para acompanhar. Preparei para nós duas pois estou morrendo de fome também e quando Ísis chegar invento algo para ela comer também. A preguiça de fazer um jantar hoje está certamente me dominando. Minutos depois Elisabeth chega na sala dentro de um dos pijamas da Ísis. Ficou tão fofo nela mas Ísis irá me matar. Mas também não posso fazer nada pois nenhuma roupa minha caberia em Elisabeth.
- Peguei o que encontrei. Minhas roupas estão molhadas_diz ela se justificando.
- Não tem problema. Vem. Sente aqui. Preparei algo para comermos_digo e ela se senta a mesa que tem na cozinha
- O que é isso?_pergunta estranhando. E eu estranho seu comportamento. Ela nunca viu pão com queijo e fiambre na vida?
- Como assim o que é isso?_pergunto estranhando. - Isso é pão com fiambre e queijo. O que poderia ser?
- Ah. Sim_diz sorrindo disfarçada
- Não gostou?_pergunto
- Não é isso. Somente não estava reconhecendo. Obrigada_diz e dá uma dentada no pão. De início ela trincou como se tivesse medo mas depois devorou o pão inteiro e aínda comeu a metade do meu.
- Parece que gostou do lanche_digo tirando os copos e piris da mesa.
- Estava delicioso. Obrigada_diz sorrindo e eu retribuo
- De nada. Agora posso saber o que aconteceu para você ir parar naquele lugar? Você não tem pais, irmãos sei lá. Alguém para qual eu possa contactar?_pergunto
- Não. Eu não tenho pais e nem irmãos _diz a última parte olhando o nada com raiva nos olhos
- Então com quem vive?
- Com ninguém. Eu..._diz como se procurasse as palavras certas - Eu não tenho mais casa nem família. Perdi tudo._ela diz cada palavra com dor e sinto que tenho algo em comum com essa menina. Sua história se assemelha a minha de certa forma.
- Você não vai poder ficar aqui para sempre. Se não tem nenhum parente com que ficar terei que levá-la a um abrigo
- Não quero ir a lugar nenhum. Quero ficar aqui com você_ela diz com lágrimas nos olhos e me dá um abraço inesperado em seguida. Retribuo
- Me deixe ficar com você Cristina. Por favor_ela diz no meio do choro.
Primeiro que essa casa não é minha. Tudo bem que eu viva aqui e claro que ajudo nas despesas da casa. Mas tudo que se decide aqui tem de ser em meu consentimento e de Ísis. Não seria certo abrigar alguém sem antes consultar Ísis. Mas também não seria certo deixar uma menina abandonada. Por mais que fosse para levá-la a um abrigo, sabemos que nem todos os abrigos cuidam bem de uma criança. Conhecemos a realidade de alguns e sabemos que maltratam crianças inocentes.
O que faço??