Fora do normal

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Patrícia

Faz dois meses que a mãe de Elisa não dá nenhuma resposta . Os médicos fizeram uma cirurgia pois um coágulo havia se formado em sua cabeça . Ela está em como e Elisa ainda está em choque pelo ocorrido e a perda do pai deixou-a ainda mais apavorada. Eu estava ali o tempo todo. Fiz de tudo e mesmo assim ela não me ouvia, me ignorava e aquilo já estava ficando chato. Lamentamos muito pelo acidente , mas a vida dela tinha que seguir em frente . A empresa precisava dela, mas ela apenas assinava alguns papéis e voltava pra perto de sua mãe. Eu ficaria muito abalada se ocorresse isso comigo, mas são dois meses e sem melhora, o que fez foi piorar e os médicos disse que o como iria ocorrer por muito tempo e que a morte cerebral poderia ocorrer a qualquer momento. Não havia outra chance, mas ela não queria desligar de jeito nenhum os aparelhos.
Eu a chamava sempre, mas ela não me dava moral, eu dormir sozinha e sentia falta dela, mas ninguém conseguiu tirar ela de lá ainda . Ainda está dedo um choque . O psicológico dela ainda não aceitou o que aconteceu, muitos de meus pacientes passam por isso e eu tento muito fazer com que eles melhore, mas com Elisa está diferente , ela conversa com a mãe dela, ela não fala comigo e nem com mais ninguém de sua família .
Voltei para o hospital e a encontrei deitada perto da mãe , eu não queria que ela ficasse só ali.
- Elisa ? - cutuquei e ela se virou.
- Oi ?
- Você precisa comer um pouco .
- Não estou afim .

Respirei fundo . Aquilo já estava fora do normal . Eu queria muito ajudar, mas ela não colaborava.
- Olha só Elisa...eu estou cansada, saio correndo do trabalho e venho pra cá pra poder ficar contigo . Mas assim não dá . Você faz  falta lá em casa e no seu serviço .
- Agora não Patrícia por fav...
- Não Elisa ! Eu vou embora , você não precisava ficar assim desse jeito, não comigo . Eu sempre te ajudei , mas você não me ajuda. Estou cansada. Sinto muito , mas você não quer ir viver sua vida. Eu lamento muito pelo o que ocorreu, mas não é isso que seu pai queria. Ele quer uma mulher guerreira e forte e você não está se saindo bem nisso .

Ela me encarava enquanto meus olhos se enchiam de água . Eu queria que ela me abraçasse , que me consolasse aquela hora. Mas não foi assim que as coisas saíram .

- Você não entende Patrícia ! Minha mãe tá aqui comigo . Ela vai voltar . - disse chorando e agarrando a mão da mãe .
- Não Elisa ! Ela precisa descansar em outro lugar, ela está sofrendo e todos nós sabemos que ela não volta.

Eu me senti horrível dizendo aquilo , mas era a verdade . Não tinha outra escolha a não ser desligar os aparelhos , mas Elisa não suportava . Me aproximei dela e a mesma se afastou tirando meus braços . Enxugou as lágrimas e pediu que eu fosse embora. Aquilo doeu muito e se era assim que ela queria, tinha que ser .
Sai do hospital e fui direto buscar minhas malas na casa dela . O choro me consumia , mas ela não me escutava. Peguei o carro e voltei para meu apartamento. Quebrei o primeiro vaso de flores que havia na entrada.

Droga!

Aquilo tudo acabou .

Querida PsicólogaOnde histórias criam vida. Descubra agora