Um Diferente Conto Da Nova Cinderela

Cinco

Caio, assim como todo mundo, estava no refeitório da escola balançando a cabeça e sorrindo, admirando Joaquim cantar. Ele tinha uma voz rouca e fofa e muito bem afinada que deixava todos que a ouvia encantados. Ele estava fazendo um cover de Bruno Mars e Caio achava incrível como ele dominava bem o inglês e os melismas que fazia eram fascinantes.
- Pera aí, amigo! - Diana pegou um guardanapo e passou na boca de Caio que bateu na mão dela. Rindo, ela disse: - Você está babando por esse garoto.
- Não estou, não.
- Você devia tentar... Jogar seu charme, sei lá. Fala com ele.
- Sem chance. - Caio foi com ela para as mesas do lado de fora.
- Ele é bi, sabia?
- Eu sei...
- Então, você tem chances sim.
- Não foi isso que quis dizer. - Caio olhou na direção do loiro, que havia parado de cantar. Amanda batia palmas e o abraçava, olhando pra todo mundo como se dissesse "Ele é meu".
- Ele já tem a Amanda. Impossível um cara resistir ao charme, a beleza...
- E os peitos! Por que caras são viciados em peitos?
- Não sei. - Caio riu. - Mas ele parece gostar dela e mesmo se não gostasse... Como um garoto como ele ficaria com alguém como eu?
- Ficando. Caio, você se subestima muito, sabia? Eu acho você muito bonito.
- Obrigado... Quer sair comigo?
- Eu adoraria, mas...
- Mas ela tem namorado. - Disse Zack abraçando Diana por trás e a beijando.
Os dois estavam deixando Caio constrangido quando um inspetor passou pigarreou e eles finalmente pararam de se beijar. Zack estava com a boca vermelha.
- Você está parecendo um palhaço... Ah, espera... Você é. - Caio disse.
- Vai deixar ele falar assim com o seu gato? - Zack olhou para a namorada que contendo um sorriso fez cara feia para o amigo.
- Não fale assim dele, Caio. - Ela disse. - Sabe que ele é mais sensível que uma mulherzinha.
Os dois riram e Zack fez cara feia para ambas. Eles continuram almoçando, conversando sobre filmes e de ir ao cinema no próximo sábado. Caio não estava confortável com a ideia de ser vela, mas Zack tentou convence-lo a ir dizendo que chamaria um amigo e Caio disse que iria pensar no assunto. Ele voltou a biblioteca para deixar o livro e Joaquim estava lá. Ele tentou não ser visto por Joaquim, que notou que ele estava tentando se esconder.
Rindo, Joaquim se aproximou dele sorrateiramente no corredor de Livros Didáticos e deu um susto nele.
- Já sei qual é seu talento!
- O que? - Caio perguntou com a mão no peito. - Meu coração está saltando pela boca!
- Foi mal. - Joaquim ria e Caio tentava ficar sério. - Você é um agente secreto. Por isso entrou aqui sorrateiramente, se escondendo...
- Como é? Eu não... Você... Espera, ser um agente secreto não é um talento. É uma profissão.
- Tem razão. Sou péssimo nesse jogo. Você deveria me dizer logo o seu talento. Vai se inscrever no concurso, não é? -
- Ainda não sei... - Caio não havia se decidido, mas pretendia mandar algo simples, apenas cantando, depois que chegasse em casa.
- Deveria pensar mais rápido, porque as inscrições vão só até hoje. E eu estou curioso pra saber o seu talento... - Joaquim sorriu e deixou a biblioteca.
Assim que o loirinho saiu, Caio suspirou e revirou os olhos. Ele estava muito a fim daquele garoto. Pegou um exemplar de Orgulho e Preconceito e foi até o balcão da Dona Fátima, a bibliotecária.

Ao chegar em casa, Caio estava decidido a gravar um vídeo cantado a versão em português de Defying Gravity, mas Suzana o cobrou de suas tarefas. Dudu ainda não havia chego do passeio da escola e Amanda inventou que estava doente. Caio tentou argumentar, mas Suzana o fez limpar tudo antes de ir pro trabalho, de formas que ele ficou sem tempo.
Adriano inventou uma competição pra ver quem oferecia mais o cupcake de banana. Aquele que conseguisse vender mais e bater a meta da semana, ganharia um almoço grátis no Outback e todos estavam eufóricos com a ideia. Caio não ganhou e sim a Paloma. Ele ficou feliz pela colega e depois do expediente foi direto pra casa, exausto. Ele chegou na hora do jantar e foi direto pra cozinha fazer seu prato.
Os outros estavam sentados a mesa, Caio chegou no meio da conversa de Amanda com a sua mãe que falava sobre o concurso.
- Minha filha... Tem certeza disso? - Suzana perguntou com uma cara de preocupação.
- Eu só tenho até hoje, mamãe... Preciso tentar. - Ela disse. - Você mesma diz sempre que quando se vê uma chance, tem que agarra-la com toda força. Essa é a minha grande chance. Por que eu não ganharia esse concurso?
- Porque você é horrível. - Disse Dudu e Caio engasgou uma risada, mas Suzana o encarou.
- Mãe! - Sua irmã protestou.
- Filho, não a importune. - Suzana se virou para a filha. - Querida, você tem certeza de que não quer fazer outra coisa? Você é boa dançando, afinal você fez balé até os treze anos de idade...
- Eu sei que sou maravilhosa como bailarina, mas eu quero experimentar novos talentos. E a minha professora de canto disse que eu estava melhorando. - Insistiu Amanda.
- É porque ela é paga pra dizer isso. - Dudu comentou outra vez e dessa vez Caio não conseguiu segurar a sua risada.
Com raiva, Suzana fingiu derrubar o pote de queijo ralado e pediu pra Caio limpar, com um sorriso irônico. Dudu aproveitou e pediu pra Caio limpar sua boca e Caio fez cócegas nele.
- Tudo bem, vamos ouvir essa tal melhora... - Suzana disse para Amanda. - Cante.
Amanda limpou a boca, parecia confiante. Ela respirou fundo e começou a cantar "I Will Always Love You". O começo não foi tão ruim, mas quando chegou no refrão...
- Pare! Pelo amor de Deus! - Suzana ergueu uma mão e a outra alisava a cabeça como se tivesse com dor.
- O que foi? - Amanda parecia constrangida.
- Parecia dois gatos brigando por uma lata de sardinha! - Dudu gritou com as mãos tapando os ouvidos.
- Okay, já chega! Vai pro seu quarto. - Suzana disse pra ele, mas Dudu não saiu. - Filha, é o seguinte... Vou dizer isso e acredite, dói mais em mim que em você. Mas a verdade sempre dói. Você canta mal. Muito mal...
- Mas mãe...
- Não querida, você tem que tentar outra coisa.
- E o que eu vou dizer para o Joaquim?
- Que Joaquim?
- O garoto que eu to saindo... Ele é um cantor incrível e ele está vindo pra cá...
- O que ele vem fazer aqui? - Caio demonstrou interesse.
- Não que seja da sua conta, mas ele vai me ajudar a gravar o vídeo. Ele acredita que eu tenho potencial.
- E por acaso ele já ouviu você cantar? - Caio perguntou rindo.
- Vem cá, por que você não vai lavar a louça, criado!
- Amanda! Não se diz esse tipo de coisa. - A mãe a repreendeu. - Mas sim, Caio. Você fica com a louça hoje. Soraia já foi embora cuidar dos filhos dela. E quanto a você, Amanda, precisa explicar para o menino que não tem como você cantar. Grava um vídeo... Sei lá! Dançando Shakira ou O Lago dos Cisnes. - Suzana se levantou.
- Mas eu queria muito trabalhar no teatro do Humberto Manfrenatti... - Amanda resmungou.
- O quê? - A mão de Suzana escorregou, quando ela se apoiava pra se levantar da mesa e até chegou a derrubar seu garfo. - Você disse... Humberto Manfrenatti?
- Sim, ele está patrocinando o Show de Talentos da escola e se eu vencer, posso trabalhar no teatro dele.
- E o que você está esperando? - Suzana perguntou para a filha. - Tem que ir logo lá pra cima mexer esse rabo pra câmera... Já sei! Eu vou dirigir. Vem! - Suzana a pegou pelo braço e a arrastou.
Caio olhava a cena intrigado. Será que seria uma boa mencionar que ele também vai se inscrever no concurso ou era melhor ele ficar calado?
- Espera! - Amanda se soltou da mãe. - Por que ficou tão interessada, de repente?
- Querida, você sabe quem é o Humberto Manfrenatti?
- É claro que sei! - Amanda cruzou os braços.
- Ele é só O melhor agente do Show Business. Rico e poderoso, dono de um império! - Suzana falava de forma sonhadora. - Eu sempre quis ser... A Senhora Manfrenatti. Temos uma chance aqui e não podemos desperdiça-la. Não é o que sempre digo?
- Bom, desde que ela não cante com essa voz de taquara rachada... Talvez ganhe. - Dudu falou e Amanda deu língua pra ele.
- Se você estiver nesse concurso, é uma chance de eu finalmente conseguir me aproximar daquele pedaço de mal caminho e conseguir reerguer meu nome como uma mulher de negócios.
- Acha mesmo que eu posso vencer o concurso? - Amanda olhou para a mãe com os olhos brilhando.
- Mas é claro! Você herdou minha sensualidade, vai arrasar como a Shakira nesse concurso.
- Mas eu quero cantar!
- Não, não podemos arriscar que você perca. Agora venha...
Suzana a levou pelas escadas e quando as duas saíram, Caio e Dudu se encararam e depois começaram a rir.