Doze

310 46 6
                                    

Depois que todos os clientes foram embora, já passava da meia noite e Sabrina e Caio estavam no balcão secando umas xícaras, rindo e conversando sobre a situação da noite. Cleyton terminava de varrer o salão e Adriano deixava a gerência depois de fechar o financeiro.
- Não acredito que ela cantou pra mim. - Sabrina estava com um sorriso largo
Luana, sua namorada, tinha ido embora uns minutos atrás. Caio estava feliz pela a amiga estar em um relacionamento que a fazia bem, tendo em vista que ela tem passado por tanta coisa e fazia tempo que ela não se firmava com uma menina
- Sei não, Caio. - Ela disse olhando pro alto. - Acho que dessa vez é pra valer.
- Também acho... O jeito que ela olha pra você. Vocês duas não combinam nada e ainda sim parecem ser perfeitas uma pra outra. - O menino suspirou.
- Parece que não sou a única apaixonada aqui. Você não me contou os detalhes dessa noite.
- Shh! - Caio a advertiu com o olhar e encarou o corredor que dava pra gerência. - Quero contar tudo pra você sobre essa noite, mas não dá... Não aqui. Amanhã.
- Okay, me desculpa. - Ela conteve uma risadinha. - Mas é melhor você contar mesmo, ein.
Caio pousou sua mão na da amiga e a olhou nos olhos.
- Obrigado. De verdade, por ter me ajudado e por ser uma grande amiga
- Que isso! Você é a pessoa que tem me dado o maior apoio aqui, sempre esteve do meu lado e está me ajudando com o meu pai, comprando os remédios, mandando comida lá pra casa... Ah, Caio! Não precisa fazer isso, mas obrigada. Pode contar comigo pra qualquer coisa. Eu só quero a sua felicidade
- E eu, também. Não se preocupe, seu pai vai sair dessa. - Ele sorriu.
Uma lágrima caiu do olho de Sabrina. Ela a secou e abraçou o melhor amigo.
- Own! Também quero. - Disse Cleyton e os dois abriram os braços pra ele.
Se apertaram e depois riram.
- Muito bem, meus amores. E Cleyton. - Adriano brincou. - Eu tenho que ir. Essa noite foi uma das melhores da minha vida. - Ele olhou pra trás e depois se aproximou deles e sussurrou: - Me senti um agente secreto.
Adriano fez uma arma com as mãos e barulho de tiro e depois que todos estavam rindo ele foi embora.
- Até amanhã, pessoal!
- Tchau! - Gritou Sabrina.
- Obrigado! - Caio disse e depois se virou pra Cleyton. - Você está bem do tombo?
- To, só vou precisar botar um pouco de gelo, mas vou ficar bem. - Ele respondeu.
- Sinto muito por isso e obrigado, também!
- Ah, de boa. Por algumas pessoas valem a pena cair... - Ele piscou pra Caio e depois saiu.
- Ele é uma gracinha. - Disse Sabrina quando ele não estava mais por perto.
- É... E um canalinha, também. - Caio riu e Sabrina a acompanhou.
Todos sabiam a fama de conquistador que Cleyton levava. Ele era o maior partidor de corações que Caio já havia conhecido.
Depois que terminaram, eles fecharam a loja e Sabrina e Cleyton dividiram um Uber pra casa. Caio estava pegando suas coisas na sala dos funcionários e recebeu uma notificação no celular. Quando viu era uma mensagem de Joaquim
- Você não veio na festa. Mas espero que tenha se divertido no trabalho. Até amanhã na escola. - Dizia a mensagem.
Caio não pode deixar de sorrir. Deu o sorriso mais largo do mundo e suspirou. Fechou os olhos e murmurou a melodia que selava o encontro dos dois. Joaquim só podia gostar dele e quando descobrisse que ele era a Cinderela, provavelmente os dois iriam ficar juntos. Caio ainda estava mal por não fazer parte do concurso. Ele se perguntava por quanto tempo mais duraria a farsa de Suzana e Amanda e se um dia ele poderia sair das sombras e mostrar ao mundo a sua voz, ser uma grande estrela como sonhava em ser.
Ele suspirou e se levantou, pegando sua bolsa. Enquanto descia as escadas pra ir embora, ele pensou: Não fazia ideia do que aconteceria nos próximos dias e nem se sobreviveria aos planos maléficos de sua madrasta, mas ele sabia que pelo menos uma coisa boa lhe acontecera e essa coisa boa era o Joaquim. Então ele se permitiu sonhar e foi até a porta cantarolando.
- Você acha que eu sou estúpida, não é? - Ele ouviu a voz de Suzana.
Se virou e viu a madrasta saindo das sombras do corredor de braços cruzados com uma expressão que Caio não sabia definir.
- Como você pôde? - Ela questionou.
O coração do garoto disparou, mas ele respirou fundo e fez a egípcia.
- O que você quer agora, bruxa?
- Não finja demência! - Ela berrou. - Você sabe do que estou falando.
- É por que eu não fui ao seu escritório para conversar sobre o que sei lá aconteceu em Ipanema? Olha, Suzana. Eu estava trabalhando. Tinha muita coisa pra fazer e...
- Eu já estava desconfiada quando seus amiguinhos começaram a me enrolar. - A madrasta o interrompeu. - E eu nunca confiei na palavra do Eduardo. Digo, seu irmão... Não que seu pai fosse um santo.
- Não abre a boca pra falar do meu pai! - Caio a advertiu com um olhar de fúria.
- Você não manda em mim e eu falo do jeito que eu quiser daquele homem que só me trouxe desgraça. Ele me trouxe um filho ingrato, ele me trouxe você e dívidas com essa franquia que ele tanto queria fazer... Esse lugar horrendo! - Ela jogou a bandeja de xícaras de cima do balcão no chão e todas se quebraram.
- O que deu em você? - Caio se abaixou pra catar.
- Isso, cate tudo! Fique aí no chão que é aonde você merece ficar. Seu ingrato! Depois de tudo o que fiz por você, você ousou me trair?
Caio deu uma risada seca.
- Essa é boa! O que você já fez por mim? - Ele vociferou.
- Eu te dei um emprego, cuidei de você e o minimo que podia fazer é me ajudar a sair da lama, mas não... Você tinha que ir naquela festa. Tinha que tentar estragar os meus planos!
- Eu não fui... - Caio tentou mentir e foi cortado.
- Não minta pra mim! Eu vi as câmeras de segurança do banheiro feminino, onde aquela maricona de quinta te maquiou e depois você chegou tirando o vestido ridículo e colocando a roupa de funcionário. Eu não sou idiota! Acha que eu confiaria na sua palavra de não sair?
- Sua pervertida! Sabia que é contra a lei colocar câmeras em banheiros?
- Tem câmeras até debaixo desses balcões. Eu não confio em nenhum de vocês! Mas isso não vem ao caso. O que importa é que você me traiu e como eu disse, terá consequências!
Caio estava cheio daquele assunto. Não tinha certeza se foram seus amigos, os conselhos do Pedro ou a noite incrível que teve, mas ele sentiu coragem pra enfrentar a madrasta e se levantou a encarando.
- Tudo bem! Quer me demitir? Quer ficar com todo o dinheiro do meu pai? Ótimo! Vai em frente. Faça isso. - Ele disse. - Tire tudo de mim, até a responsabilidade desse lugar. Mas você não pode calar a minha voz. Você não pode tirar meus sonhos de mim. Cantar é o que eu sou e eu sei que meus pais jamais iriam querer que eu me escondesse e não mostrasse ao mundo o meu eu.
Suzana debochava dele, imitando ele falar. Depois soltou uma risada e o encarou com nojo:
- Acha que eu faria mesmo isso? Não seria o suficiente, querido. Há maneiras piores de fazer você pagar. Acredite, sou experiente em maldade.
- Disso não tenho dúvidas. - Caio debochou.
- Pois me escute bem! Vou destruir seus amiguinhos, aqueles que você ama tanto. Um por um. Vou começar pela Sabrina..
- Deixa os meus amigos fora disso!
- Isso vai depender de você, meu querido. - Ele se aproximou dele. - Pelo o que a Amanda me contou, o Joaquim não desconfia de nada, parece tranquilo. Então continuaremos com o plano. Você vai cantar pra Amanda e vai ficar pianinho e se sair da linha, vou demitir aquela sapatão. Vou fazer isso e ainda vou dificultar que ela consiga um emprego digno. Meu nome ainda tem poder.
- Você não pode fazer isso!
- Posso sim e vou! Se você me desobedecer mais uma vez, vou garantir que ela não consiga trabalho e o paizinho moribundo dela não vai conseguir a cirurgia que precisa. - Suzana soltou uma risada. - E cada vez que me desafiar, vou prejudicar os outros... O Adriano, o Cleyton... Até a maricona do Pedro. Quanto tempo leva para a polícia descobrir um traficante disfarçado de Drag Queen.
- O Pedro não é um traficante!
- Não, mas todo mundo sabe bem o que ele anda cultivando naquela horta da casa dele... Será que a polícia acharia normal um homem adulto oferecer bolos e outros doces suspeitos a menores de idade?
- Seu monstro! Você não sabe o que está dizendo!
- Não, querido! Você não sabe do que sou capaz!
- Não... Mas imagino que seja capaz de qualquer coisa. - Caio a olhou com desprezo e tentando não chorar. - Você é uma bruxa, mesmo!
- Sou sim... E contos de fadas não são reais. Na minha história, a bruxa vence! - Suzana saiu rindo e deixou o menino ali desolado.
Caio não queria chorar, não queria dar esse gosto pra ela. Ele respirou fundo. Deixou o chão como estava, pegou sua bolsa e foi embora pra casa andando, pois estava com a cabeça cheia.

Um Diferente Conto Da Nova CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora