Um Diferente Conto Da Nova Cinderela

Vinte e quatro

- Eu não acredito que você perdeu! - Diana resmungou.
- Ah, nem sempre se consegue tudo o que quer... Porém eu ganhei algo muito mais incrível esta noite. - Caio olhou para seus amigos. - Ganhei uma família.
- Nós sempre fomos sua família, Caio. - Sabrina, que também tinha ido ao Show de Talentos para ver o amigo cantar, o abraçou.
Eles saíram do carro e se prepararam pra entrar.
- E você! - Caio bagunçou o cabelo de Dudu. - Sempre com seus planos malignos, né?
- Você devia agradecer por eu ser um gênio. - O pestinha disse. - Graças ao meu intelecto, eu pude elaborar um plano brilhante e ajudar você com seu namorado.
Caio olhou sem graça pra Joaquim que apenas sorriu e o encarou. Desviando o olhar, ele forçou uma cara de bravo para o irmão.
- Cala a boca!
Todos riram.
- Okay, a gente se encontra mais tarde na Haus Pink, todo mundo! - Disse Sabrina entrando de novo no carro com Adriano e Cleyton.
- Parabéns, garoto! Estou orgulhoso de você. - Adriano o abraçou e depois saiu.
- Parabéns, Caio! Você é demais. - Cleyton abriu os braços.
Caio aceitou o abraço de Cleyton que não queria solta-lo de jeito nenhum. Cleyton sempre foi carente assim...
- Ei, pega leve! - Disse Joaquim, deixando Caio mais sem graça ainda.
Cleyton se afastou.
- Foi mal. - Sorrindo ele foi para a van e Adriano dirigiu direto pra Elias'.
Caio olhou pra melhor amiga que abriu um sorriso largo.
- Então eu estou perdoado? - Perguntou ele.
- Vem aqui, seu bobão! - Os dois se abraçaram fortemente e depois Caio cumprimentou Zack.
Eles entraram na casa rindo. Caio nunca se sentiu tão feliz em toda a sua vida.
Mais cedo, depois de Joaquim anunciar que Leo e Paloma haviam vencido o concurso e Caio havia ficado em terceiro lugar, Caio chegou até ficar triste, porém logo depois se sentiu feliz por ter se liberto de seus medos e feito a coisa que mais amava que era cantar. Ele nunca havia se sentido tão confiante na vida, mas ainda se perguntava, como aquilo poderia ter acontecido.
Diana contou pra ele que Dudu contou toda a verdade para Joaquim e disse que Caio gostava dele. Joaquim ainda não tinha tido a oportunidade de conversar com Caio sobre isso, mas revelou a ele que pediu a ajuda de Diana pra dar um sumiço na madrasta e na meia irmã dele, para que assim ele entrasse no palco e fizesse a apresentação.
Muita gente elogiou Caio e ficaram impressionados. Porém, todo mundo se perguntava o que havia acontecido com Amanda, que sumiu de verdade. Nem mesmo Diana conseguiu encontra-la para trancar ela junto com a mãe. Inclusive, ela e Zack foram até o armário do zelador na escola e viram que a porta estava arrombada. Eles não entenderam o que poderia ter acontecido, mas estavam tão felizes com o que tinham feito, que voltaram pra casa tranquilamente, sem se perguntarem sobre o destino da madrasta de Caio.
Até verem ela sentada no sofá da sala lendo uma revista com serenidade e bebendo um Martini.
Todos tomaram um susto e levaram a mão ao peito. Suzana estava assustadoramente linda, como uma vampira matriarca se preparando para chupar o sangue de jovens idiotas.
Caio se aproximou com cautela, porém ele não estava com medo. Pela primeira vez, ele sentia que ia poder enfrentar a madrasta.
- Parabéns, Caio... Pela apresentação maravilhosa dessa noite! - Ela levantou os olhos e o encarou com um sorriso sarcástico. - E por arruinar a vida dos seus amigos!
- Você não vai fazer nada com eles! Eu não vou deixar! - Caio disse.
- Ah, não? Então, eu acho que você não me conhece tão bem assim, né?
- Suzana, acabou! Me deixa em paz! Deixa todos nós em paz! Eu fui um covarde. Devia ter confiado em meus amigos, sabia que poderiam me ajudar, mas deixei você entrar na minha cabeça e quase arruinei tudo. Só que agora... Agora, eu não tenho mais medo. - Caio olhou para os amigos sorrindo, seus olhos brilhando e cheios d'água. - Eu aprendi a não ter mais medo. Você perdeu, admita!
- Não! Você não venceu essa história. - Ela se levantou jogando o copo longe que se estilhaçou no chão. - Você não vai vencer! Eu não vou admitir isso! - Ela rugiu indo em direção a Caio.
- Senhora... - Joaquim tentou interromper se colocando na frente.
- Cale a boca! - Ela apontou para ele com um olhar severo e depois se virou para o enteado. - Eu não blefei quando disse que faria todas aquelas coisas e eu vou fazer. - Suspirou e depois andou até o bar da sala pra pegar uma taça de gim. - Quem você pensa que é? Sua bixa burra! Acha mesmo que pode me atropelar assim? Atrapalhar meus planos e sair impune? - Ela bebeu um pouco e depois olhou pra ele com nojo. - Você não passa de um baitola ridículo com uma voz de taquara rachada e que não tem onde cair morto!
- Retire o que disse, sua bruxa! - Diana o defendeu.
- Ah, ora vejam só... Se não é sobrinha daquela maricona... Que vai ser presa depois que a polícia descobrir...
- Descobrir o quê? Você não tem nada contra o meu tio!
- Ah, não? Acredita mesmo que não faço o meu dever de casa? Que não tenho pencas de arquivos guardado com podres de cada um de vocês. - Ela se virou para Joaquim. - Eu sei podres até do seu pai! - Depois deu uma risada maléfica. - Vocês pensam mesmo que podem me arruinar? Você pensa que pode me arruinar? - Ela foi até Caio.
- Chega, mamãe! Pare de bancar a maluca! - Dudu parou na frente do irmão.
- Cale a boca, seu pestinha! Você já anda me dando dor de cabeça demais.
- Não fale assim com ele! - Caio a encarou. Ele colocou o irmãozinho de lado e se aproximou dela. - Você, Suzana, pode achar que tem poder pra destruir todo mundo a sua volta, mas você... Só está destruindo a si mesma. A cada vez que faz um novo inimigo, a cada vez que deixa a maldade te corroer por dentro. Você devia parar de canalizar tanto ódio. Olha só no que se tornou... Me deixa em paz! Deixa os meus amigos em paz! Eu posso até te perdoar e se quiser, a gente trabalha juntos pra reerguer a Elias. Eu deixo ela pra você... Não ligo mesmo, vou correr atrás dos meus sonhos agora. Você pode ficar com tudo e refazer seu nome, mas por favor deixa todo mundo em paz! Dê a si mesma a paz.
Suzana ficou olhando para ele por alguns minutos. Caio não soube traduzir aquela expressão. Com medo, ele se afastou um pouco quando ela começou a rir histericamente.
- Você não sabe de nada! - Ela gritou. - Eu não preciso de você, não preciso do dinheiro do seu pai... Eu tomo as decisões da minha vida. Ah, eu vou ficar sim com a Elias'. Vou ficar com todo o seu dinheiro. Será tudo meu, tudo meu! E eu ainda vou demitir seus amiguinhos, vou dificultar as chances deles de conseguirem alguma coisa nessa cidade... Não, nesse país! Ninguém dormirá bem, enquanto eu não estiver satisfeita. E pode deixar que vou arruinar a vida de cada um de vocês também! - Ela olhou pros outros.
- A única pessoa arruinada nessa história toda é você, Suzana! - Pedro entrou pela porta da frente ao lado de dois polícias.
Eles se aproximaram de Suzana e a pegaram pelo braço.
- Mas o que que é isso? - Ela tentou se soltar e o da direita começou a algema-la.
- Suzana Alencar! - Anunciou o da esquerda. - A senhora está presa por fraude.
Então ele começou a ler os direitos dela e a arrastou para fora da casa. Suzana se debatia e gritava, mas não para os policias e sim para Caio. Ela dizia que ainda iria pega-lo e acabar com ele.
- Me aguarde, seu garoto inútil! Sua bixa ingrata! Você me pagaaaaaa! - Ela gritou.
Caio e os outros olharam para Pedro confusos. Dudu estava segurando o choro. Com um sorriso cauteloso, Pedro os fez se sentar e explicou a situação.
- Quando Caio me falou de toda a situação da Elias', eu achei essa história bem estranha e fui pesquisar a fundo... Acontece que não é a toa que Suzana está desesperada pra reerguer seu nome. Ela fez muitos inimigos ao longo da vida... E a única coisa que salvou ela do fracasso, foi ter se casado com seu pai. - Ele disse para Caio. - Ela faliu o dinheiro da família e quase faliu o dinheiro que seu pai deixou, quando ele morreu... Então ela começou a desviar dinheiro e não pagou os impostos, além de aplicar uns golpes pra conseguir manter a casa e a Elias' da universidade. Fora outras confusões em que ela se meteu...
- Nossa! - Zack bufou.
- Eu sinto muito, Caio! - Joaquim alisou o ombro do amado.
Caio olhou para o irmãozinho, que estava olhando pro chão, com lágrimas escorregando por seu rosto.
- Ei, você está bem? - Caio perguntou.
- Não... Mas eu vou ficar. - Dudu tentou se mostrar forte.
- O que vai acontecer com o Dudu e a Amanda? - Caio se virou para o padrinho.
- Eles poderão ficar com a Tia Lucrécia por um tempo.
- Eu acabei de fazer dezoito anos... Acha que eu conseguiria a guarda dele?
- O que? Você quer ficar comigo? - Dudu olhou pra Caio com os olhos brilhando.
- É claro que quero, meu querido! Dudu eu amo você, é o meu irmão. Só quero o melhor pra você.
O garotinho o abraçou e Caio chorou junto. Pedro alisou as costas de Caio e Diana e Zack procuraram se afastar. Joaquim, também achou uma boa ideia deixar os dois a sós por enquanto e todos sairam junto com Pedro.
- Eu sinto muito por isso... Mas ei, querendo ou não ela é a sua mãe. Ela só é uma pessoa difícil.
- Bota difícil nisso! - Dudu suspirou.
- Ela vai ficar bem... E vai precisar da sua ajuda pra se recuperar e ser uma pessoa melhor. Independente das coisas que ela disse e do que ela fez... Eu sei que no fundo ela ama você e ela pode ser uma pessoa boa.
- Exatamente. - Disse Amanda dando um leve susto em Caio.
A garota fechou a porta atrás de si e se aproximou se sentou do outro lado do sofá ao lado de Dudu e o abraçou.
- Como soube? - Caio perguntou pra ela.
- Eu estava lá fora e vi os policiais arrastarem ela para a viatura. - Respondeu Amanda. - Carlos me contou tudo e disse que vai fazer o possível pra ajudar a minha mãe.
- Sinto muito...
- Não" Caio... Eu te peço desculpas! Eu devia ter negado fazer parte desse plano maluco da minha mãe, mas fiquei com medo de contraria-la. E só pensava na minha reputação... Eu devia ter dito "não". Espero que me perdoe.
Caio havia entendido uma coisa importante com toda essa história: Suzana era uma mulher amargurada. Seus pais nunca a apoiaram em nada, ela foi traída pelo ex-marido e depois se casou com um homem que só pensava na esposa falecida. Ele ainda achava que ela merecia sim pagar pelas coisas que fez, porém ela também merecia uma segunda chance.
- É claro que perdoo vocês. - Disse e depois abraçou Amanda.
- Ei! - Ela se virou pra Dudu. - Sei que nunca fui uma boa irmã pra você, mas eu te amo, tá? E a gente vai sair dessa juntos.
- Eu sei que vamos. - O garotinho sorriu em meio ao choro.
Então Caio suspirou e deixou eles um pouco a sós. Era a mãe deles que estava na cadeia agora, eles precisavam de espaço e tempo e Caio caminhou até o quintal.
Arnaldo se aproximou e esfregou o focinho em suas pernas. Caio se abaixou e brincou com ele. Ele estava triste por toda essa situação chata, mas ao mesmo tempo estava feliz. Caio se sentia livre. Cantar era a coisa que mais lhe dava alegria e agora ele podia fazer isso. Ele não sabia qual seria o destino da Elias', porém ia se esforçar ao máximo pra manter o lugar em que seus pais haviam se conhecido tão vivo quanto a memória deles. Porém ele não hesitaria em correr atrás de seus sonhos e sabia que podia contar com seus amigos pra isso.
No dia seguinte, ele conversaria com Carlos sobre as questões de Suzana e a situação do Café e do dinheiro que restou de seu pai. Mas hoje, ele só queria relaxar.
- Finalmente descobri o seu talento. - Disse Joaquim.
Caio se virou pra ele e sorriu.