Onze

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Sabrina tamborilava os dedos em cima do balcão, impaciente. O ar condicionado da Elias' estava ligado, mas ela soava a beça. Nunca se sentiu com tanto medo na vida. Um cliente parou de cantar Loca da Shakira e algumas pessoas aplaudiram e, então, Suzana entrou pela porta e o coração de Sabrina quase saiu pela boca.
- Dona Suzana! - Ela sorriu correndo pra sua chefe. - Como foi a sua noite?
- Não me incomode com as suas perguntas! - Suzana esfregou a temporada como se estivesse cansada, do jeito que sempre faz. - Preciso ir ao meu escritório.
- Não! - Sabrina se pôs mais a frente dela. - Ao escritório? É... É, é uma boa ideia. Ficar lá por um tempo e descansar.
- Ah, sai garota. - Suzana a empurrou e saiu andando.
- Sabe, a gente teve um bom público essa noite. Nunca entrou tanto dinheiro. - Sabrina continuava indo atrás dela.
- O Caio se comportou? - Suzana perguntou sem se virar.
- O Caio... É, é... Quer dizer... Sim. Se comportou, sim senhora
- Tudo bem, pede pra ele vir ao meu escritório. Preciso falar com ele
- Não vai dar...
- Por que não? - Suzana se virou pra ela com um olhar desconfiado.
- Porque... Porque...
- Porque ele está limpando o banheiro dos funcionários que está entupido de novo! Tadinho, o único que teve coragem de ir lá em cima. - Adriano olhou pra Sabrina que lhe transmitiu um olhar de agradecimento.
Ela não tinha pensado numa desculpa. Mas isso não foi o suficiente pra deter a madrasta do amigo
- Vou lá falar com ele. - Suzana se virou e foi em direção as escadas.
- Tem certeza, senhora? - Adriano se pôs a frente da chefe pra ela não passar. - Quer dizer, a senhora não vai querer ir lá. Está fedendo tanto.
- Fui criada na roça, querido. Eu consigo sobreviver! - Tentou passar, mas Adriano a impediu
- Não seria melhor esperar o menino aqui no seu escritório num ambiente mais confortável? Posso lhe trazer um chazinho de erva doce, que a senhora adora... Ou camomila pra te acalmar.
- Não quero chá nenhum. Agora saia da minha frente! - A mulher ordenou e eles hesitaram, mas ela os empurrou e passou por eles.
Ao pé da escada foi interrompida por Cleyton, que carregava uma bandeja de quindins.
- Dona Suzana! Que bom reve-la. Sabia que sou muito grato por trabalhar aqui? - Os dois praticamente dançavam uma valsa, com ela tentando subir e Cleyton a impedindo se colocando na frente dela. - A senhora está tão bonita hoje e... Já provou os novos quindins? A cozinha arrasou hoje.
- Se não sair da minha frente agora mesmo... - Ela nem precisou terminar, só lhe transmitiu o olhar severo.
Cleyton tinha medo daquele olhar e se afastou nervoso deixando ela passar. Suzana se distraiu com um barulho, olhou pra trás e viu que o cara caiu. Alguns clientes riram e ela ignorou a situação subindo. Estava começando a ficar desconfiada e ela estava determinada em ir falar com Caio sobre o ocorrido da loja de Ipanema.
Adriano passou por cima de seu funcionário caído no chão ao pé da escada e subiu, tentando conversar com a Suzana.
- Senhora... Senhora! - Ele a alcançou e foi subindo com ela. - A senhora gostaria de dar uma olhada numa infiltração na cozinha.
- O que? Estamos com problemas aqui, também? - Isso a fez parar.
- Sim! Muitos... A senhora precisa descer comigo, imediatamente.
Suzana hesitou, mas ainda estava desconfiada.
- Irei ver isso depois. Agora preciso falar com meu enteado ingrato! - Ela subiu dois degraus.
- A senhora tem certeza? O cheiro lá em cima está horrível. - Adriano cobriu o nariz com a camisa. - Hum! Nem eu estou aguentando
- Deve ser porque já é acostumado com o cheiro horrível do seu gel de cabelo. - Ela o empurrou e ele se desequilibrou quase caindo.
Agora sim ela estava desconfiada de que todo mundo a enrolava. Ela poderia esperar, sim. Mas não ia fazer isso até ter certeza de que Caio estava na loja. Chegou a sala dos funcionários e fungou. Não sentiu cheiro nenhum e sorriu maliciosamente indo até o banheiro, quando uma figura pequena se colocou a sua frente
- Mamãe, você trouxe? - Dudu cruzou os braços.
- O que? ah, seus fones... - Ela se lembrou da promessa que fez ao filho de dar os fones de ouvido que ele queria se ele concordasse em vigiar o Caio. - Vamos ver se você cumpriu sua promessa primeiro.
- Nem pensar! Primeiro meus fones de ouvido e depois revelo se Caio está ou não está aqui
- Tenho quase certeza de que você falhou na sua missão, peste! Agora sai da minha frente. - Ela tentou passar e o filho a impediu.
- Nem pensar! Quero meus fones agora mesmo!
- Para de pirraça ou eu vou...
- Fazer o quê? Me bater! Faz e eu ligo pra polícia.
- Você não me intimida.
Dudu poderia ser um pestinha, gênio do mal e que aprontava com todo mundo em sua casa, mas ele nunca fez pirraça. Quando o moleque se jogou no chão se esperneando e gritando que queria seu fone, foi que Suzana percebeu que havia algo errado ali. Ela passou por cima do filho e abriu a porta do banheiro masculino dos funcionários e não viu ninguém lá.
- Aha! - Ela sorriu triunfante. Teria o prazer de castigar o enteado. Olhou pra trás e viu Adriano e Sabrina de pé com expressão aterrorizada nos olhos. - Agora vão me dizer aonde aquele moleque imprestáve está. E podem ter certeza que vão se arrepender de acobertá-lo. Eu vou acabar com a vida de cada um de vocês...
- Presente! - Caio disse saindo do banheiro feminino.
Ele estava vestido com o uniforme e um avental de plástico por cima com luvas de borracha nas mãos. Em uma mão ele carregava o desentupidor e na outra um bale com um paninho.
- Aconteceu algum problema, sinhá? - Ele a provocou com uma expressão intrigante no rosto.
Suzana estava claramente sem graça. Ela gaguejou, olhou os funcionários, o filho deitado no chão e dirigiu um olhar raivoso pro enteado a sua frente. Depois fingiu que estava confiante:
- Preciso falar com você algo importante. Quando acabar... Venha ao meu escritório.
- Ok.
Ela olhou pra todos com uma expressão nervosa, mas ainda parecia desconfiada. Deixou o andar de cima e foi descendo as escadas. Quando ela saiu todos comemoraram baixinho. Caio tinha voltado a tempo e conseguiu limpar o máximo possível da maquiagem e arrancar o vestido. Tinha alcançado Diana e Zack e ele o trouxe em na moto de um amigo na velocidade da luz. Todos riram e Dudu cruzou os braços olhando pra ele.
- Você está me devendo uma. - Disse o moleque.
- Tudo bem. Porque diferente da sua mãe eu cumpro minhas promessas. - Caio sorriu.
- Agora vamos voltar ao trabalho. - Adriano foi até a escada. - Daqui a pouco vamos fechar e a bruxa não pode desconfiar de nada.

Um Diferente Conto Da Nova CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora