Trilha:Tainted Love (Instrumental) – Marilyn Manson
A porta abriu como uma guilhotina sendo erguida. Antony saiu primeiro, Misael logo atrás, mais hesitante que quando entrou naquele recinto. Dessa vez, olhava para aquele pequeno bar ordinário com olhos diferentes. O barman dedicava-se apenas a sua vidraria, suas garrafas, ao balcão vazio, lavava copos limpos, ninguém ali tinha qualquer bebida nas mesas. A mulher de azul mantinha a atenção no celular e o criado dela virou a face inteira para os dois. Antony só seguiu para uma mesa de dois lugares, sentando de costas para o quarto de onde saíram e de frente para o resto do lugar, puxou a segunda cadeira e colocou ao seu lado, quase colada a sua. Misael sentou testando se precisava de permissão para isso. O criado virou o rosto para a porta.
Calculando antes cada movimento que faria, ele cruzou as mãos sobre a mesa, como fazia nas reuniões com clientes, isso o dava um ar de confiança. Nunca deixe as mãos escondidas ou embaixo da mesa. O casal no canto não estava mais de beijos alucinados, a mulher, bem menor que o homem, se mantinha no colo dele, deitada sobre seu torso e sua cabeça apoiada no seu peito descamisado, acariciando os pelos, com os olhos fixos em Misael. O homem se perdia no teto, uma das mãos nas nádegas da mulher e a outra com um cigarro negro que de tempos em tempos à boca. A fumaça criava um espectro em volta dos dois, um efeito alucinógeno, como se a qualquer momento pudessem desaparecer.
— Acorda! — estalou os dedos na frente de Misael — Estou falando com você, seu idiota, presta atenção em mim.
— Sim, desculpa, diga — falou Misael encarando a mesa e fugindo dos pesados olhares da mulher seminua do outro lado da sala.
— Você está bem, né?
— Sim, estou, sim.... — experimentou os dedos da mão e o pé — Tudo bem.
Como um fantasma o barman surgiu ao lado dos dois:
— Bebem algo? — a frase saiu robótica e desanimada.
— Não — disse Antony com desprezo.
— Queria qualquer drink com fruta e vodka — respondeu Misael sem pensar, depois imaginou se aquilo não era confortável demais, prestou atenção na expressão do seu sequestrador. Antony criou uma máscara de raiva, mas parou antes de esbravejar qualquer palavrão. Pela primeira vez, Misael viu Antony com o semblante pensativo. Acalmou a expressão e não disse nada, só olhou pra frente.
Misael não sabia se questionar seria uma boa ideia ou se ele ficar mais no escuro era o plano, o que também não o deixava mais tranquilo. Ele olhou para a própria cintura, respirou fundo e cochichou para baixo:
— Todos eles são?
Antony balançou a cabeça em negação. Misael ergueu a cabeça devagar e sentiu a mão de seu capturador na sua coxa.
— Fica quieto e escuta. Só presta atenção... — disse Antony com os dedos roçando na sua coxa, fazendo uma leve pressão na parte esquerda da perna — Ali, no sofá — exatamente à esquerda do recinto — Aquela é um membro e o capanga de terno é um carniçal, como te disse, um serviçal.
Misael queria olhar, mas preferiu tirar a terra que ainda tinha sobre as unhas que o banho não foi capaz de remover. Sentiu a mão de Antony passar na sua coxa para a parte interna, mencionando à direita:
— Aqueles dois. Ele é um membro, da mesma linhagem que eu...
— Linhagem...?
— Depois te explico isso, ele é um membro, já a mulher em cima dele eu conheço, ela não é uma carniçal, ela é uma escrava sexual literalmente, mas no caso dessa relação diferente, o que ela busca é um prazer a mais...
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Sob a noite
Mystery / ThrillerUma infinidade de gestos, olhares e desejos ganham força à noite. Muitos fazem o que querem quando estão na meia luz. Corpos são largados por aí ainda sujos de prazer, tremendo de medo, quentes ou vazios. Todo mundo olha para noite como alforria par...