Trilha: Your Beste Nightmare – London After Midnight
Antony viu o flash e sentiu seu corpo ser largado no instante seguinte. Seu carniçal desabou sobre os joelhos, parou por um segundo antes de cair para trás. O vampiro observou o cano da arma, o tambor girando enquanto o cão era puxado pelo polegar ensanguentado. A mão trêmula do atirador não hesitou. Mais um estampido seco se espalhou no silêncio e a pressão de entrada sacudiu o corpo de Antony abaixo do diafragma.
O sangue espirrou pela perfuração. O atirador abrira o tambor da arma, deixando as cápsulas inúteis caírem, tirando novas no bolso e colocando uma a uma, com os dedos escorregadios e agitados na arma.
O vampiro engoliu sangue que lhe encharcava a boca, notou o corpo inerte do seu carniçal ao seu lado, sentiu o cheiro de morte vindo do bar. A destruição era palpável em tudo demorara anos para conseguir. Um ponto de encontro, um contato confiável, aliados, um local de caça, um escravo, confiança, status... Tudo esvaindo como o fluido denso escarlate que pingava no solo.
Uma nova pressão se formou no fundo do seu estômago atrofiado, subiu-lhe pelo esôfago enegrecido e explodiu num urro infernal.
O atirador fechou o tambor da arma carregada, apontou para o vigoroso homem ajoelhado, puxou o gatilho e o brilho pálido o fez piscar por reflexo. O homem não estava lá. Um baque no seu peito o empurrou mais ainda contra a roda do carro, a arma voou. Sentiu a carne do seu pescoço ser rasgada. As mãos tatearam a terra, as costas do sujeito que o mordia, a lataria, o pneu, o ar... O ímpeto da luta diminuiu gradativamente, o coração bateu lento até parar. Apagou de olhos abertos.
Antony lambeu a ferida duas vezes antes de deixar o corpo caído ao lado do pneu. Fez um esforço que lhe arrancou um grito de dor ao enfiar o dedo do buraco das costelas para remover a bala. Soltou o projétil em cima do atirador.
Correu, escorregando na terra seca, se ajoelhou ao lado de Misael e colocou o ouvido colado a seu nariz. O vento das narinas era fraco.
Agarrou o mortal, levantou-o no colo e disparou para o carro.
— Antony! — um grito ao longe o chamou.
Natan apareceu com as roupas rasgadas e tão coberto de sangue como os demais cadáveres.
— Dê um jeito nisso! — gritou Antony antes de chegar no carro.
Abriu a porta com a ponta dos dedos, puxou de qualquer jeito, colocou o mortal no carona e nem prestou atenção quando Natan sumiu de vista.
Saiu com o carro saiu pela estrada cantando pneu no sentido contrário ao que veio.
* * *
Já bem longe da chacina, com o velocímetro acima do limite, Antony pensava no que fazer. Olhou para o celular e deu um soco no volante.
Viu a mancha vermelha escura nas roupas do seu carniçal dobrar de tamanho. Esticou a mão na frente do nariz. Ainda respirava, mas fraco, uma brisa ínfima.
Acelerou.
Ele já tinha vivido isso. Um soldado ferido do seu lado no meio da guerra, resistiu por algumas horas antes de morrer numa maca na tenda da campina. Só que na época o soldado dependia da medicina limitada, não havia a solução que ele poderia dar.
Desacelerou o carro ao ver uma estrada pequena, antes de um motel largo com neon rosado. Seguiu com o veículo até uma árvore propícia, colado a um depósito de pallets.
— Vamos — saiu do carro, deu a volta e puxou o mortal para o banco de trás — Você não vai morrer por causa da porra de um tiro.
Se abaixo fora do carro, com a cabeça de Misael estirada no banco, usou a navalha do bolso e abriu um corte no pulso. A dor subiu pelo braço até o ombro. Abriu a boca do mortal como um cadáver e deixou o líquido fluir.
— Vai! Bebe!
O corpo não se movia, o sangue batia na língua, formando uma poça na garganta, como um funil entupido. Enquanto apertava mais o pulso, mais a boca se enchia, até chegar a borda, escorrendo pelo lado num fio vermelho.
Tossiu. Como um afogado.
— Vai! Bebe, porra!
Misael tentou respirar, cuspiu o conteúdo para o lado, jogando no chão do carro.
— Vai logo! — gritou, empurrando o pulso rasgado contra os lábios do mortal — VAI!
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Sob a noite
Mystery / ThrillerUma infinidade de gestos, olhares e desejos ganham força à noite. Muitos fazem o que querem quando estão na meia luz. Corpos são largados por aí ainda sujos de prazer, tremendo de medo, quentes ou vazios. Todo mundo olha para noite como alforria par...