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*Luísa*

Terceiro dia nesse inferno. Fico alternando entre acordar e desmaiar de dor e cansaço, já que nem fome eu sinto mais, tamanha a minha fraqueza.

Débora continua a contar suas façanhas como se fosse um tesouro a ser distribuído cuidadosamente para quem quisesse ouvir.

Tudo fora plano dela, a cada um novo criado, algo diferente surgia. Leonardo. A enfermeira. O acidente. O roubo. Nenhum surgiu o efeito esperado, ou não fora concluído como deveria. Mas alimentou o seu ódio.

Planos mal arquitetados, cheios de furos, os fazendo sem sentindo e inofensivos. Mas esse eu sinto que ela vai conseguir o que quer, o que me causa mais medo.

- o que você quer ?- desperto ouvindo seus gritos, olho em volta e me assusto quando encontro um rosto conhecido além de Débora - já tenho as chaves das casas e tenho ela comigo, a nojenta é bonita, pode pagar metade da minha dívida, rato. Não queira pagar de espertinho, não mais que eu.

Sinto minha respiração pesar quando ouço seus planos. Ela vai me vender. Como pode um ser humano ser tão asqueroso assim?.

- já disse que não trabalho com venda de pessoas, sua inútil. Quero dinheiro vivo, se quer vender ela, faça o trabalho sujo.- ouço a voz dele rouca invadir o casebre, o medo aumenta só em ver seus punhos fechados.

- então não venda, fique com ela - sugere o fazendo rir.

- não brinque comigo sua vadia - se aproxima dela voltando a ficar sério.

- não estou brincando, os homens não ficam se amontoando em volta dela? - pergunta de forma retórica e eu fecho os olhos na velocidade da luz quando ele se vira em minha direção.

Prendo a respiração sentindo seus olhos me queimarem.

- você não está apta para fazer negociação Débora, posso lhe matar agora mesmo. Já disse que eu quero o dinheiro.

- a casa dela está cheia de pertences que valem milhões, é só entrar e pegar, estou lhe dando a porcaria da chave em suas mãos - abro os olhos com cautela a tempo de ver ela balançar a chave em frente ao rosto dele. Não me surpreende ela ter mexido em minha bolsa.

- com o todo departamento de polícia lá dentro sua imbecil. Você e esses planos inúteis alimentados por essa insanidade maluca - fala irritado com ela que revira os olhos.

- a polícia não vai ficar por perto pra sempre seu idiota, uma hora eles vão desistir.- suspiro pedindo aos céus para morrer logo de uma vez.

- claro. Vou esperar a boa vontade daquele idiota do marido dela desistir de procurar ao menos pelo corpo da bonitinha ali. - aponta pra mim de maneira sarcástica.- como se você tivesse esse tempo todo.

- então me mate e fique sem seu precioso dinheiro, rato. - diz confiante e ele ri irônico.

- a morte é pouco pra você, sua ameba - fala com ódio e ela gargalhar como se tivesse ganhado um presente de natal.

- bom saber. Então é só esperar aquele imbecil parar de..

- esquece Débora, isso agora é coisa minha, posso muito bem fazer isso sem você, aliás, sempre foi o meu plano roubar aquela mansão, não tente se fingir de espertinha - revela a deixando estranhamente sem expressão - ou você me dar o dinheiro, ou e..

- você o que ? Me mata ?.

- lhe entrego. Saber que você vai sofrer anos presa é mais satisfatório que ver seu sangue deixar esse seu corpo imundo.

Sinto meus ouvidos doerem com a risada alta que ela solta.

- e eu faço o mesmo, queridinho.

- não antes de eu arrancar sua língua e mandar a madame de volta para a família - diz tocando no ponto fraco dela. Minha suposta felicidade.

- você pode me matar, me torturar, me denunciar. Mas não se atreva a se meter em meus planos.- ameaça ele que ri e se afasta dela.

- dois dias. Esse é o tempo que lhe dou, Débora. Se passar, dê adeus a mais um dos seus planos inúteis . - da a sentença e sai da casa deixando Débora furiosa.

- você não pode fazer isso !! Eu estou lhe dando tudo nas mãos, aquela casa tem coisas que valem milhões, muito mais do que eu lhe devo ......você vai se arrepender disso rato, muito.- grita para a porta.

Estremeço quando ela joga o celular dela na parede e se aproxima de mim. Não antes de derrubar uma mesinha de ferro no chão. Sinto suas mãos asquerosas em meu rosto.

- lembra do que eu disse caso o meu plano falhasse ?- pergunta com a voz rouca pelo ódio - lembra ?- confirmo com a cabeça antes que me bata por não responder . - acho que vou por em prática em poucas horas.- sorri diabólica e se afasta indo para uma sala escura a minha frente.

Sinto tudo escurecer e o meu mundo ruir mais uma vez.

                        *Marcelo*

Quinto dia...
Quinto dia sem ela. Senhor, até quando vou ter que suportar essa angústia ?.

Nada foi encontrado, nada foi revelado, nada !. O policial realmente estava certo, ela não deixou rastros em relação ao celular. Eles nem sabem se elas ainda estão vivas pela velocidade em que o carro foi multado na última localização que conseguiram rastrear.

A esperança está se desfazendo aos poucos, mesmo com tão pouco tempo em que ela se foi, só pelo fato daquela louca não ter pedido nenhum resgate, acham que o plano dela já foi concluído.

Meu coração se despedaça a cada dia que se passa, a cada não que eu ouço, a cada abraço de consolação que recebo. Como se minha noiva já estivesse morta, mas eu sei que não.

Eu rezo para que não.

- eu sou a melhor avó do mundo, mas nada substitui o colo de um pai. - sorrio de maneira forçada para minha mãe que se aproxima com luna inquieta em seus braços - toma meu filho, ela quer você.

Pego minha princesa dos seus braços e a aconchego em mim. Não quero passar o primeiro mês dos nossos filhos sem ela. Não consigo me manter instável só de imaginar isso.

- você está acabado meu filho - diz o óbvio me fazendo rir irônico.

- sua sinceridade me comove dona Glória - beijo a cabecinha de luna que está abrindo e fechando as mãozinhas distraidamente.

- eu só queria ver a alegria em seu rosto novamente meu filho - suspira pesadamente e se senta ao meu lado.

- nunca vou voltar a sorri sem ela - digo melancólico fazendo ela estalar a língua irritada.

- e ela iria querer que você vivesse feito um condenado? E as crianças, Marcelo?. Nunca vão ver um sorriso do pai ? - me seguro quando ela começa com o sermão - quando o seu pai morreu eu pensava assim c..

- ela não morreu. - digo mais pra mim do que pra ela. Porém só recebo um olhar atravessado por ter cortado suas lamentações.

- eu amo ela como uma filha, Marcelo. Mas tem momentos em que precisamos saber como viver sem uma pessoa, por mais que a gente goste, pessoas não são imortais, e muito menos infinitas. - se levanta me deixando com um nó na garganta - quem sabe essas crianças vieram para lhe dar um consolo? Um motivo para viver mesmo com dor.

- para mãe. Ela não morreu - volto a dizer a olhando nos olhos, vejo dor se passar neles, talvez achando que eu sou um caso perdido.

Antes que ela rebata mais uma vez, João surge em nosso campo de visão, correndo com o meu celular na mão tocando a música preferida dela. Perfect, de Ed Sheeran.

- a enviada do capeta. Está ligando - diz rápido e joga o celular em minha direção, por pouco agarra em luna que começa a chorar pelo susto. Entrego ela para minha mãe e levanto, tudo antes de atender a ligação com o meu coração batendo a mil.

Trêmulo, seguro o celular na orelha esperando ouvir algum som.

- olá Marcelo, como vai?- ouço a voz irônica dela e estremeço.

Sinto o meu mundo parar ao ouvir um choro ao fundo.

Desmorono ao perceber que é de Luisa.

Uma Nova Chance Para Amar ( LuCelo)Onde histórias criam vida. Descubra agora