Uma Nova Chance Para Amar ( LuCelo)

76°

                      *Luísa*

   Marcelo acordou um porre hoje .

Segundo ele , um pressentimento muito forte está lhe afligindo , agora estou sendo observada vinte e quatro horas por dia , achando ele que algum raio irá me atingir a qualquer momento .

Nada faz ele mudar de ideia em relação a esse pressentimento , tudo o que ele faz é verificar minha pressão , ver se a bebê está se mexendo e me dar algo para comer a cada minuto . Me sinto mais gorda a cada aperitivo saudável que ele me obriga a comer .

- vou morrer por ingerir tanta frutose - murmuro para ele que revira os olhos , recuso quando ele tenta enfiar um pedaço nada amistoso de manga em minha boca . - Marcelo , eu já estou saudável por uns bons cinco ou seis anos .

Ele apenas nega com a cabeça e se levanta , ainda mantendo um semblante preocupado . Ele deixou de ir ao trabalho para ficar comigo , dizendo ele que o pressentimento está muito forte para ser ignorado .

Sinto o meu peito se contrair toda vez que o encontro choroso em um canto , como se temesse me perder para sempre .

- amor , eu estou bem - digo e beijo seu rosto .

- está muito forte Luisa , algo muito ruim vai acontecer - diz e põe as mãos no rosto . Me desespero quando vejo uma lágrima solitária escorrer sozinha em seu rosto .

- amor , não chora - peço com a voz embargada , abraço seu corpo e começo a chorar junto com ele . - estamos bem . - digo e beijo seus lábios .

Foi árdua a tarefa de fazer ele relaxar , afinal , o que de ruim poderia me acontecer ? .

Agora eu estou tentando fazer ele sair de casa, ficar aqui dentro enclausurado só vai deixar ele mais louco .

- vamos logo ao mercado , estou querendo comer aquela lasanha de bacalhau desde ontem - digo e beijo seu pescoço o deixando arrepiado , meus lábios estão gelados , sempre estão gelados .

- acho melhor a gente se virar com o que tem - diz e me abraça , sento em seu colo com minha melhor expressão de desgosto .

- vai mesmo querer que a sua filha nasça parecendo uma lasanha de bacalhau ?- pergunto me achando com a razão e ele ri um pouco mais descontraído .

- meu coração se apertar toda vez que ..

- shhhiiuuu - toco em seus lábios - você fala demais - digo e tomo sua boca em um beijo molhado , seus lábios quente com os frios dos meus , sempre me deixa desnorteada . Sinto suas mãos tocarem em meu rosto e abraço seu pescoço procurando mais contato . Um pouco difícil quando se está com uma barriga do tamanho de uma melancia .

- agora vamos ao mercado - digo ao me separar dele , recebo apenas um sorriso em troca .

- depois de um beijo desse , faço tudo - diz brincando , deposito um selinho na ponta do seu nariz e me levanto o puxando junto .

Rumo ao mercado . O lugar das maravilhas .

Pego minha bolsa e vou em direção a porta , antes que eu possa abrir Marcelo passa em minha frente e de maneira estranha olha em todas as direções , depois abre caminho para eu passar .

- isso está ficando muito estranho - digo para ele que dar de ombros . Vou em direção ao carro e entro , já acostumada ao cheiro dele que se alojou no interior do veículo .

Nem estranho quando Marcelo mantém a velocidade 20 km a menos que o permitido , andar em uma avenida movimentada a quase 30 km/h é fogo . Estou vendo a hora de algum motorista estressado sair do seu carro, andar feito uma tartaruga , alcançar o nosso sem esforço algum e xingar toda a geração da família de Marcelo . Mas não vou reclamar , sei que ele ainda está inseguro por causa do seu pressentimento , não vou relutar e obrigar ele a dirigir normalmente , vai que algum carro bata no nosso e algo aconteça comigo ? Isso é uma possibilidade .

Suspiro aliviada quando _ depois de uma hora _ chegamos no mercado , o estacionamento é enorme , parece que estamos em uma rua normal , porém deserta de pessoas e cheia de carros . Seguimos de mãos dadas para o grande e maravilhoso super mercado e entramos já com um carrinho em mãos , não vamos sair tão cedo daqui .

[....]

- esses negócios deveriam vir em potes maiores - digo raspando um pote de iogurte de açaí . Estranho , porém gostoso .

- você e essa mania de consumir produtos industrializados - reclama e eu reviro os olhos impaciente , como se ele fosse abstraído dessa coisas .

- está dizendo bem nitidamente que é saudável , olha SAU-DÁ-VEL  . - soletro a parte em destaque e ele me olha com a testa franzida .

- claro , como se o fabricante iria colocar algo como , tóxico em um iogurte industrializado - começa a falar pelos cotovelos e eu o ignoro , penso em passar meu dedo no interior do pote para pegar o restinho , porém me contenho .

Assim que chegamos no nosso carro ele abre o porta-malas , e começa a difícil tarefa de colocar as compras de forma organizada no espaço . Procuro uma lata de lixo com o olhar e vejo uma do outro lado , em uma coluna .

- vou jogar meu copinho fora - digo e ele apenas me olha fingindo interesse , ao longe _ bem longe _ vejo um carro preto vindo de forma lenta , por está muito longe eu atravesso a rua sem me preocupar , jogo o copo fora e me viro , percebendo que o carro está longe e Marcelo já terminou de guardar tudo . Ele olha para mim e eu lhe manda um beijo , olho para o lado e como o carro está _ consideravelmente - longe ainda , eu atravesso , indo em sua direção que está com o celular na mão , vendo algo no visor .

Meu corpo congela quando escuto um som caracteristico de carro sendo acelerado , olho em direção ao carro em questão e tardiamente percebo que ele está a poucos metros de passar por cima de mim .

Ouço um grito de uma mulher alheia _ provavelmente ao saber que vou ser destruída _ e inconscientemente fecho os olhos , esperando a pior dor que vou sentir na vida .

A única coisa que sinto , é um corpo me jogando para longe do perigo . Meus ossos reclamam de dor porém eu estou bem , abro os olhos e olho na direção do carro que foi embora .

Sinto a pior dor do mundo ao ver Marcelo desfalecido no chão .

Meu coração dói só de imaginar o pior , a dor que ele está sentindo agora , tudo aconteceu tão rápido .

Toco em minha barriga . Ele nos  salvou . E provavelmente morreu por isso .