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                  eu juro que não é a minha intenção fazer vcs ficarem desse jeito. Mas rendeu de mais essa fase 😂💔💔💔.


      *Luísa*

- senhor, eu sei que tudo isso é traumático, e as vezes a dor nos faz ouvir coisas. Mas infelizmente não tem batimentos, não sinto nenhuma pulsação.

Com dificuldade eu aspiro silenciosamente o perfume costumeira já impregnado em sua camisa. Sinto dedos gelados em meu punho o que me faz sentir dor.

- eu ouvi - ouço a voz de Marcelo rouca e percebo que está chorando - não estou louco. Eu ouvi ela falando comigo - murmura e esconde seu rosto no meu. Permaneço de olhos fechados e eu sinto minha respiração fraca. Eu quero falar, me mexer, mas eu não consigo.

- eu sinto muito.

Ouço a voz da mulher e os burburinhos a nossa volta.

- eu te amo tanto. Volta pra mim, por favor. - ouço suas lamúrias e tento me mexer. Mas a dor em meu corpo é tanta que nem me atrevo, as queimaduras ardem como um inferno.

- Marcelo, eles precisam levar o cor..levar ela. - ouço uma voz conhecida e de forma inesperada ele me aperta me fazendo ir no céu e voltar. Mas sem forças eu nem reajo.

- tudo bem - sussurra e cheira meus cabelos que devem está fumaça pura. - adeus meu amor. Vou cuidar dos nossos filhos. Obrigada por tudo, eu te amo, Luisa. - diz e vai afrouxando o abraço. Sinto minha garganta apertar.

- ô minha irmãzinha. Eu sinto tanto - percebo a presença de Durval do nosso lado ajoelhado, e sinto o molhado do seu beijo em minha testa juntamente com as gotas de suas lágrimas. Logo após ele vem uma pessoa com o perfume adocicado, antes dela se pronunciar eu já sei quem é.

- aí lu. Como vou sentir sua falta minha amiga. Vou chorar todos os dias lembrando da pessoa doce que você era, prometo ajudar com aqueles pequenos. Vou fazer tudo por você minha querida - recebo um beijo na bochecha. Sua voz embargada não engana. Joana está chorando.

Logo após ela vem várias pessoas. Mesmo eu ainda permanecendo no colo de Marcelo eu sinto o amor deles por mim. Mas eu não consigo me mover. Será que estou morrendo ? Será que o meu pedido está sendo realizado antes de eu ir dessa para melhor?.

Me volto para um choro esganiçado ao meu lado e me concentro para ouvir sua voz.

- ah minha polventa. Branquela. Você não sabe o quanto eu vou sentir falta desse seu jeito irritante. Agora vendo você aí, tão sujinha e fedorentinha me aperta o peito. Prometo que vou ser a tia que vai corromper seus filhos, e quero deixar bem claro que mesmo eu não lhe perdoando por você não se fazer presente no batizado do meu filho, eu lhe amo. Sempre te amei amiga. Me perdoa mas eu roubei algumas roupas suas...eu iria devolver, juro. Mas agora nem isso da mais - volta a chorar alto e joga sua cabeça com tudo na minha testa. E ainda para completar me puxa dos braços de Marcelo e me aperta sem dó nem piedade, me deixando sem ar.

- tá bom, Cláudia. Deixa eles levarem ela - ouço a voz de Durval falando baixinho com ela.

- tchau minha amiga, as tarde de brigadeiro não vão ser mais a mesma sem você. Mas não se preocupe, não vou deixar ninguém comer a sua parte do brigadeiro, você é insubstituível. Eu mesma vou comer por você. - beija minha testa e volta me apertar. - quero que você prometa que vai ficar ao nosso lado, cuidando da gente lá do céu minha vidinha. Não deixe eu ser atropelada por algum carro, tenho pavor só de imaginar isso. Cuidar de nós anjo, você é muito especial pra mim e ....-  continua falando até que sou tirada dos seus braços em meio aos seus protestos.

Sou colocada em um lugar meio escuro e deixada lá por um tempo. Ainda não consigo me mexer. Estou em transe.

- Marcelo? Vai com ela ?- ouço a voz de Joana e a presença de Marcelo ao meu lado.

- não quero deixar ela sozinha. - a voz abatida dele me quebra o coração. Sinto sua mão me acariciando e recebo um beijo na testa antes de ser deixada novamente.

- tudo bem....

- posso te pedir uma coisa, Jô?- ouço a voz dele. Provavelmente ela concorda pois ele continua - avisa a minha mãe. Não quero ser o portador de más notícias.

- claro. E Marcelo...estamos com você - ouço a voz de Joana e o fungar do choro de Marcelo nos embalando.

Após algum tempinho ele faz menção de falar.

- eu amo tanto ela. Não sei se vou conseguir - confessa com a voz embargada.

- Luis e luna precisam de você. Ela iria querer que você continuasse, seja forte, por ela.

Enquanto Joana conforta docemente Marcelo. Eu tento reagir e com muito esforço mexo minha mão esquerda. Logo após consigo abrir os olhos e fico um tempo observando o teto da viatura.

- eu sei que eles precisam de mim. Mas eu preciso dela.

- não posso tentar consolar seu sofrimento, Marcelo. Só você pode fazer isso. Não chore de tristeza pelo tempo em que não vão viver, mas chore de felicidade pelo tempo em que viveram. Ela te amava tanto... O amor de vocês é lindo, não jogue tudo no lixo, faça valer a pena.

Pelo barulho sei que estão se abraçando, um consolando ao outro enquanto eu permaneço aqui. A cada segundo que passa fico mais fraca, acho que realmente foi o meu pedido se realizando, para que eu me despedisse deles pois os meus olhos voltam a se fechar.

Quando volto para a realidade o meu corpo está balançando, estamos em movimento. Ouço o fungar dele e sinto uma dor no peito, o meu coração dói e o meu pulmão busca por ar. Preciso de ar. Estou morrendo.

Abro os olhos a muito custo novamente e olho para o lado onde vejo ele de cabeça baixa chorando. Tento falar, pedir ajuda. Mas não consigo. Cada vez fica mais difícil respirar. Preciso de ajuda.

De forma inesperada ele ergue a cabeça e passa a mão no rosto, ainda Permaneço o encarando. Quero gravar cada detalhe do seu rosto para nunca esquecer. Sinto o ar sumir dos meus pulmões quando ele olha em meus olhos. Parece que o mundo para, nem percebo a minha falta de ar tão repentina. Só encaro o seu rosto incrédulo e o olhar brilhoso.

- Luisa?- me chama e da um pulo, mesmo com a ambulância em movimento ele consegue se manter em pé me encarando. Vem se aproximando aos poucos de mim e eu vou seguindo ele com o olhar, até não aguentar e fechar os olhos. - abre os olhos meu amor. Por favor, isso não era uma ilusão, não faz isso comigo. Não era ilusão, não era.- começa a sussurra e quando ele começa a me beijar sinto a dificuldade de respirar diminuindo aos poucos, e como em um passe de mágica, toda a dor que eu não estava sentindo, vem com força. Sinto as bolhas em minhas costas se encherem a cada instante, os meus pés latejam e os meus braços ardem sem parar.

Porém quando eu menos espero, minha respiração trava e a minha visão começa a escurecer, só lembro de ter visto ele apertar várias vezes o mesmo botão o que fez o movimento do veículo diminuir até parar. Meu peito dói, minha cabeça dói, tento buscar por ar mas não consigo.

- meu amor, fica comigo.- ouço sua voz e tento falar, lhe dizer tudo que está entalado, não quero que ele sofra mas eu sinto que não vou viver. Quero que ele seja feliz.

- eu...t..te ..a..am..amo- digo com extrema dificuldade e ele desaba em choro. - cu..cui..cuida ...... D..deles....

- não faz isso comigo, Luisa. Não me deixa.

- me..pe...perd..perdoa - choro e a cada segundo minha visão escurece, sinto meu corpo perder os movimentos e uma sensação estranha me invade.

- ela está tento uma parada cardíaca. Estamos perdendo ela.

- salva ela, por favor.

Fecho os olhos e tudo esmorece novamente.

Realizei o meu desejo e me despedir do meu amor. Posso ir em paz agora.

- perdemos o pulso.... Per....

E a escuridão me envolve.

Uma Nova Chance Para Amar ( LuCelo)Onde histórias criam vida. Descubra agora