Donnez-lui Ce Qu'il Veut

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O militar passou toda a noite preso no deck inferior. O calor era insuportável e o cheiro também não era dos melhores. Estava acompanhado de sacos e sacos de todos os tipos de grãos, também havia barris com vinagre e um pequeno recipiente cheio de açúcar, cujo Harry teve certeza de que havia sido saqueado de algum nobre, porque esse tipo de tempero não era comum aos piratas ou à qualquer outro que tivesse uma vida tão desonrosa quanto a de um marujo. De qualquer forma, era um espaço pequeno quando dividido com tantos mantimentos e seu pé torcido não melhorava as coisas. O ômega podia sentir seu tornozelo pulsar e a dor era tamanha que tentou fazer com sua própria camisa uma espécie de faixa que o imobilizasse, mas aquilo causava dor em si mesmo, era completamente contra instintivo e o capitão do exército desistiu após algumas tentativas.

Seu sono foi dividido entre longos e curtos cochilos, mas nunca dormindo de verdade, não com a dor intensa que o assolava a todo momento. Mas o pior de tudo ainda era a escuridão, a forma como tudo estava em completo breu, o tirando a capacidade de saber se era dia ou noite, quantas horas haviam se passado e isso estava o deixando louco.

Quando a pequena porta sobre sua cabeça foi aberta, uma forte luz entrou em contato com os olhos esmeralda do ômega, quase o cegando, mas mesmo assim, o deixando feliz. Era bom saber que o mundo não acabou e que ele foi esquecido ali dentro para sempre.

— Levante, Capitão Tomlinson está chamando você. — Um pirata com cabelos pretos e desgrenhados disse sem paciência com o suposto beta.

Harry observou como ele precisava urgentemente de um corte, mas não disse nada, apenas se levantou com dificuldade e subiu as escadas com mais dificuldade ainda, sem receber nenhuma ajuda, mesmo que o homem na sua frente não estivesse realmente fazendo alguma coisa além de o observar. Ao chegar ao deck, Harry percebeu que ainda estavam ancorados, ainda podia ver seu país à provavelmente uma légua de distância. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

— Ande! — O pirata o empurrou, quase o fazendo cair pelo pé machucado e Harry grunhiu quando precisou o encostar no chão para se manter de pé.

O ômega rapidamente identificou Louis, estava na proa do navio reunido com outro homem, esse tinha cabelos curtos e castanhos, várias tatuagens desciam por seus braços e seu rosto parecia estranhamente amigável, com certeza não se tratava de um alfa, talvez fosse um beta. Harry achava que sim, era um beta.

Se aproximou devagar, podendo ouvir um pouco de sua conversa.

— Tem certeza que não ancoraremos na França, Capitão? — O beta perguntou enquanto olhava o mapa já envelhecido na mão do alfa.

Louis era Francês, mas poucas foram as vezes que passou por ali. Gradualmente, o alfa deixou tudo para trás, menos seu sotaque, que por vezes ainda aparecia quando estava nervoso ou excitado, mas isso era uma particularidade que apenas o próprio alfa e suas meretrizes sabiam.

— Não tenho mais nada que me prenda àquele lugar… — O Capitão disse decidido. — Ancoraremos em Lisboa, preciso ter uma breve conversa com aquele porco que chamam de rei. — Disse amargo, assim como todas as suas palavras pareciam ser.

Tomlinson mantinha uma relação bastante próxima com determinados reinos. O rei português, João V, a fim de poupar suas terras de saques de piratas, pagava uma boa quantia para garantir que o navio mais temido dos sete mares, L’antéchrist, se manteria longe deles. Louis queria aumentar os valores cobrados, sabia que a quantia que Portugal arrecadava com o Novo Mundo era de encher os olhos e o pirata merecia uma quantia maior. Mas agora haviam outras questões para o preocupar, como o beta que ouvia sua conversa quieto como um rato.

O pirata dobrou o mapa em sua mão e o prendeu em seu cinto antes de se virar para o suposto beta.

— Dormiu bem, manto vermelho? — Perguntou com sarcasmo na voz. — Espero que sim, porque todos nesse navio acordaram com desejo de ver um Inglês trabalhar como um escravo. 

Sailing Heart - l.s aboOnde histórias criam vida. Descubra agora