Larmes de Sang

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Harry apenas queria que aquela dor agoniante passasse, não queria mais pensar sobre aquilo, já tinha tido o suficiente e não sabia se conseguiria aguentar mais. O ômega sentia como se o que importasse não fosse suas escolhas, mas sim ele mesmo. Ele era o que estava errado em todas as suas atitudes. Não havia nada que poderia fazer sobre isso, era sempre o mesmo. Se não estava machucando a si próprio, estava machucando todos ao seu redor. Sentia-se quebrado e o barulho que isso fazia dentro de si mesmo era assustador.

Era como se estivesse gritando, mas ninguém podia realmente ouvir. Doía tanto que se tivesse um pouco mais de força imploraria por ajuda, mas sua mente estava simplesmente machucada e traumatizada demais para isso. Ele não conseguia imaginar um jeito de prosseguir com sua vida quando a pior coisa que poderia ter lhe acontecido se realizou. Não sabia o que teria que mudar dentro de si se quisesse sobreviver, mas sabia que algo precisava ser mudado.

Harry não estava com raiva, estava com dor e sabia que ele próprio havia o colocado ali.

Ele sabia que o pior dia para se amar alguém era o dia em que aquela pessoa ia embora. Mas o que devia sentir quando nem ao menos teve tempo para saber que lhe amava tanto? Harry havia perdido um filho, um filho que nem ao menos soube que estava esperando. Ele não desejava aquele tipo de dor nem para seu pior inimigo. Estava com medo, medo dos pensamentos obscuros que rondavam sua mente e, principalmente, medo do que estaria por vir depois daquilo.

Estava fodidamente cansado de fingir que apenas não sentia, que seus sentimentos eram gelados como os de todos aqueles piratas. Harry sentia. Ele sentia e era uma merda. Queria parar de sentir tudo como se o mundo dependesse do seu heroismo para seguir bem. A vida era o que era e tudo o que ele podia fazer para melhorar, pelo menos a sua e das pessoas que o cercavam, era vivê-la sem fodidos arrependimentos. Harry queria parar de ser tão preocupado com todos a sua volta e olhar um pouco para si próprio, para o que ele realmente precisava se importar, mas naquele momento, se sentia pesado como se estivesse sob toneladas de terra e não pudesse mexer um músculo sequer.

A culpa era toda sua e talvez esse fardo fosse pesado demais para carregar.

Faziam dois dias desde que o choro desesperado do ômega poderia ser escutado por boa parte da tripulação. Harry parecia não perceber, mas em determinados momentos, principalmente durante a noite, seu choro era tão alto que poderia ser ouvido pelos marujos fora da cabine e Louis era um desses.

O alfa rapidamente se tornou o pior carrasco de todos com os seus homens. Um suspirar mais alto perto de si já era motivo para uma bronca e absolutamente todos sabiam o motivo pelo qual o alfa estava tão atormentado, além da culpa que o consumia ardentemente, sua preocupação com Harry estava o levando a loucura. 

Styles não falava com absolutamente ninguém, comia e bebia o suficiente para não morrer, separava seus dias entre estar dormindo e estar aos prantos e a nuvem escura que isso trazia sobre todos daquele navio era quase palpável.

— O que acha de ser um pouco menos inútil e fazer a porra do seu trabalho direito?! — Louis gritava com um beta que deixou um barril cheio de soja cair pelo deck, espalhando os grãos para todos os lados. — Irei até a cozinha e se eu voltar e isso não estiver limpo, juro que arranco suas mãos fora, beta de merda. — Cuspiu as palavras antes de sair pisando duro pelo deck até a cozinha, levando consigo o olhar assustado dos marujos que viram a cena.

Louis precisava de algo para beber, algo que o fizesse se sentir menos frustrado consigo mesmo. Ele sabia bem que quando um líder não tinha o controle em suas mãos, tendia a usar força bruta para realizar seus caprichos e tentaria manter sua sanidade com a maior quantidade de álcool que pudesse ingerir de uma vez para que isso parasse de acontecer.

Sailing Heart - l.s aboOnde histórias criam vida. Descubra agora