Capítulo 03

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*Revisado*


📑Boa leitura😘


Alguns meses se passaram depois daquela noite em que vi Leila e o senhor Roger na cozinha. Desde lá a presença de José ao meu lado tem se tornado constante, exceto quando ele precisa sair para trabalhar. Neste tempo conheci um pouco mais sobre as crianças que moram aqui, em especial as com as quais mais tenho contato.

José, com quem mais converso, tem quinze anos. Ele disse que não lembra quando chegou aqui, mas que é sua casa desde sempre. Ele sai todos os dias juntos com os outros garotos, que tem idade entre cinco a dezesseis anos, para vender balas e outras coisas miúdas nas ruas. Segundo ele, todo dia o senhor Roger os leva para um ponto diferente da cidade de Portland.

Saem cedo, antes das sete horas da manhã e retornam as seis horas da noite. Quase todos os dias tem essa rotina, as exceções surgem apenas nos dias de chuva. Tudo que arrecadam é entregue ao senhor Roger. Mas José me confidenciou que parte do que ganha ele esconde, pois tem a intenção de sair daqui assim que possível.

Mia, que se tornou minha melhor amiga em poucas semanas, tem dez anos. Ela chegou aqui com quatro anos, vinda de outro orfanato que fechou. Assim como José, ela não faz ideia de quando foi deixada no orfanato que vivia antes, e disse que José sempre a protegeu desde que chegou aqui, assumindo o posto de irmão mais velho.

Por Mia e José que conheci um pouco sobre Leila. José disse que, desde que se entende por gente, Leila vive aqui. Ela tem dezessete anos, está próximo de completar dezoito. Ele já ouviu conversas entre a senhorita Lincoln e o senhor Roger, que deixavam claro que ganhariam muito com Leila, assim que ela chegasse a maior idade e pudesse trabalhar no empreendimento que eles tem no centro da cidade de Portland.

Eu confesso que não entendi muito bem o que José quis dizer com tudo isso, mas fiquei feliz por Leila, pois logo sairia daqui e teria uma vida melhor e um futuro garantido. Mas José me disse que isso não era bom, que de acordo com relatos de alguns amigos que ele tem nas ruas, os mesmo que saíram daqui, o lugar para onde a maioria das meninas são enviadas depois que se tornam maiores de idade, é um verdadeiro inferno.

Pedi para ele me explicar melhor, mas ele disse que eu ainda não tinha idade para entender. Não gostei muito da sua resposta, mas deixei passar, pois sabia que não teria mais que aquilo.

José também me explicou que as meninas ficavam em casa. Nosso trabalho era cuidar da casa e das refeições. As mais novas cuidavam da arrumação e limpeza da casa, enquanto as mais velhas cozinhavam e lavavam as roupas a louças.

Por falar em roupas, José disse que nossas roupas são reaproveitadas, as dos mais velhos passam para os mais novos. Ele disse que o senhor Roger e a senhorita Lincoln não gostam de gastar dinheiro com isso.

Hoje, José chegou animado. Por terem vendido bem, o senhor Roger comprou um pote de sorvete de chocolate para comemorar depois do jantar. É o meu favorito, era o favorito do meu pai também.

Estávamos todos felizes pois teríamos uma sobremesa, que percebi não ser muito comum por aqui. Mas algo aconteceu, e fomos postos de castigo, sem a sobremesa, porque uma das meninas mais novas, a pequena Lili de apenas cinco anos, deixou seu prato cair no chão. Senhor Roger esbravejou, mandou todos subirem e que apenas Leila ficasse para arrumar a bagunça.

Horas depois Leila voltou para o quarto, todas as meninas já estavam dormindo. Eu estava apenas deitada pensando no sorvete. Ela entrou igual da outra vez, andando entranho, com o rosto vermelho, fungando como se estivesse resfriada com nariz escorrendo.

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