Capítulo 04

2.5K 320 53
                                    

*Revisado*


📑Boa leitura😘


Portland, ano de 2004


Três anos se passaram... Três longos anos... Solto um suspiro logo ao lembrar a quanto tempo estou aqui nesta casa. Se é que pode- se chamar isso de casa. Nada mudou... Ou quase nada.

Lembro que mamãe me disse, depois que minha vó morreu, que a dor da saudade diminuiria pois me acostumaria com ela. Mas comigo isso não aconteceu. A saudade de estar com meus pais, em nossa casa cheia de amor, carinho e proteção, só aumenta. Ainda mais nos dias que aquele verme chega querendo mostrar que manda em todos nós.

As coisas pioraram, principalmente quando comecei a me revoltar e querer fugir daqui, quase um ano depois de vir para cá. Tive sorte, se é que pode chamar isso de sorte, pois quem me pegou e aplicou o castigo foi a senhorita Lincoln.

Ela me pegou tentando escalar o muro que cerca a casa para sair, depois de receber umas lambadas com o primeiro cinturão que ela encontrou, me deixou presa no quartinho do pensamento, como ela chama aquele o local do castigo. Um local pequeno que tem apenas uma porta e mais nada. Fica embaixo da escada de acesso para o segundo andar.

Deveria ser um armário, mas se tornou o lugar para onde nos mandam quando estão cansados de descontar sua raiva em nós. Deveria ser melhor, mas não é, pois não ficamos trancados lá por algumas horas, mas sim dias. Nesta ocasião passei três dias trancada, sem água ou qualquer outro alimento. E com o aviso de que se alguém me alimentasse, se juntaria a mim no castigo.

Enquanto ficava lá pensava em tudo que vivi antes de chegar aqui. Já me perguntei por onde anda aquela senhora que estava na escola quando recebi a notícia que meus pais haviam morrido, nunca mais a vi. Na verdade não vejo ninguém, e isso me deixa mais pensativa ainda, pois se ninguém vem aqui como Mia foi adotada?

Pois é, ela foi adotada a um ano atrás. Fiquei muito feliz por ela, mas triste porque iria perder a minha melhor amiga.

Leila também não está mais aqui. No dia que ela completou dezoito anos a senhorita Lincoln apareceu, mandou que ela arrumasse suas coisas e a levou daqui. Leila estava feliz por ir embora, estava muito explícito em seu rosto. Ela também falou que a senhorita Lincoln já estava com a vida dela toda planejada e que ela seria muito feliz. Desde lá não tivemos mais notícias.

José ainda está aqui, na verdade este será seu último ano aqui, então eu não sei o que será de mim. Ele não vende mais balas na rua, mas continua indo pois agora ele tem a obrigação de ficar de olho no trabalho dos meninos menores.

Depois do dia em que ele levou aquela surra na minha frente não tocamos mais no assunto. Mas ele vem me induzindo a fazer algumas coisas que não entendo, mas faço o que ele diz. A última vez foi ano passado. Já estava sem roupas e tinha que pedir ao senhor Roger ou a senhorita Lincoln, mas José não deixou.

Ele foi até o seu quarto e logo retornou com algumas roupas, shorts, calças, camisas, chinelos e um boné no meio de tudo.

- Pega! Você vai usar isso. - ele praticamente me intima.

- Mas são roupas de menino. Suas roupas velhas. - eu reclamo.

- Não questiona, Ana. Só faz o que eu digo. - ele pede.

Meu Desejo Onde histórias criam vida. Descubra agora