Capítulo 20

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Toni Topaz Point Of View

          - Pronta para a terapia senhorita Topaz? - Perguntou ela fazendo uma expressão falsamente séria.

          - Certamente Doutora Blossom - Respondi entrando na brincadeira.

     Ficamos nos encarando e caimos na risada, depois paramos nos dando conta do que acabara de acontecer, ela corou violentamente ficando extremamente fofa, nem parecia a mesma mulher de minutos atrás, que estava com um olhar selvagem, como o olhar de um tigre que esta prestes a atacar sua presa, no caso eu era a presa.

          - Me conte sobre você e como você se sente, se abra para mim... - Falou me fazendo dar um sorriso malicioso, ela apenas me encarou confusa por alguns segundos, e depois seu rosto adicionou uma expressão totalmente envergonhada - Oh..não foi isso que eu quis dizer - Falou se dando conta do que dissera, o que me fez rir, a sua expressão era engraçada e fofa ao mesmo tempo, parecia uma criança que disse algo proibido perto dos pais.

     Senti minha canela sendo chutada com força, olhei para ela que estava com um bico enorme formado em seus lábios.

          - Aiii...doeu - Falei a olhando incrédula enquanto esfregava a mão por minha canela atingida.

          - Não ria de mim Topaz - Disse ainda com a mesma expressão, eu levantei as mãos em rendição e murmurei um "ok" - Ande converse comigo, quero saber de você Toni...

           - Ah é? - Perguntei com um sorrisinho sacana - Tudo bem, primeiramente eu nem deveria estar aqui, não sou louca de verdade, não o bastante para estar num hospício  - Falei soltando um longo suspiro, escutei sua risada alta, mesmo sem entender o motivo dela, meu coração instantaneamente sorriu assim como todas as células de meu corpo, era um som tão gostoso de se ouvir, poderia ouvir para sempre sem enjoar.

           - Des..desculpa - Disse tentando cessar a risada - Ui..desculpa mas é que essa frase é típica de gente doida - Fechei a cara aderindo sua mesma expressão de minutos atrás, quando ela havia chutado minha canela.

           - Não ria de mim Blossom - Falei e ela gargalhou mais ainda - É sério, eu estou falando a verdade, cade o seu profossinalismo hein?? Você fica rindo assim de seus pacientes é?? Vou lhe bater também, para de rir! - Disse zangada.

          - Você nem tem tamanho para isso - Disse debochando da minha cara e rindo, nem parece que é aquela mesma médica de sempre - Se bem que uma vez um Pincher me mordeu na rua e doeu para caramba - Fez uma careta.

     Eu a olhei com um olhar mortal, semicerrando os olhos, e peguei uma almofada que se encontrava do meu lado no sofá, e joguei na sua cara.

          - Ta vamos continuar - Falou se ajeitando no sofá.

           - Para você rir e fazer piadas de mim?

           - Desculpa, vou tentar não rir e não fazer nenhuma piada - Respondeu brincando com os botões de seu jaleco.

           - Ta... então como eu estava dizendo, eu não deveria estar aqui, e-eu não sou louca - Falei ja um pouco nervosa, sentindo meus olhos marejarem, ela percebeu que eu não estava mentindo, então ficou séria - Ta pode ser que eu não seja a pessoa mais normal desse mundo, mas não deveria estar num manicômio, meus pais me observam com toda certeza, ele fará de tudo para eu não sair da linha... - Senti minhas lágrimas saindo lentamente pelos cantos dos meu olhos, deslizando por minhas bochechas.

          - Ei não chore TT... - Sussurrou olhando atentamente para mim - Me explique melhor para eu entender...

          - Meus pais são conservadores, ricos e influentes, eles não permitiriam uma filha como eu...Lésbica - Ela fez uma cara de espanto.

          - Você quer dizer que...? - Ela não completou a frase mas ja sabia que ela tinha entendido, vi seus olhos marejando.

          - Sim, eles me internaram por eu ser lésbica, acham que sou louca por gostar de mulheres, eles inventaram mentiras... - Dei um soluço, mais lágrimas escorriam por meu rosto - Apenas para não desonrar a família, o lar "perfeito" deles, eu sou uma pecadora na visão deles, eles pensam que tem um demônio em mim, e que eu preciso ser exorcisada, e-eu não pedi para nascer, não pedi para ser filha deles, eu... - Engatei em um choro descontrolado.

     Me encolhi feito uma criança no sofá, me sentindo triste, me sentindo culpada, não deveria, eu queria ser a filha perfeita para eles, eu queria ser motivo de orgulho, motivo de felicidade, mas eu não sou, é tudo ao contrário...eu queria ser amada por eles mas eu também não sou.

     Eu estava chorando tanto, com minha cabeça abaixada por cima dos joelhos, me sentindo tão sozinha que havia me esquecido da presença da ruiva naquela sala, até sentir suas mãos em meus cabelos, e ouvir sua voz doce sussurrando perto do meu ouvido.

           - Você não tem culpa, você sabe disso meu bem, você não tem culpa de eles serem homofóbicos, e de eles não perceberem que você é incrível, não se sinta menos do que isso - Disse fazendo um carinho em meus cabelos e continuou - Eles são horríveis, é uma pena que eles não percebam o seu valor e que não te dêem amor como pais devem fazer, eles não merecem seu sofrimento... suas lágrimas... - Disse levantando minha cabeça, para olha-la, e então deslizou delicadamente os polegares por meu rosto limpando minhas lágrimas - Eu sinto muito por isso, você pode não ter eles do seu lado, mas eu estou aqui para você, eu não vou te abandonar, eu vou te ajudar...

     Me senti confortada, acolhida com suas palavras, com seus olhos me olhando profundamente, como se enchergasse toda minha alma, a minha dor e sofrimento, querendo de alguma forma absorver tudo isso através do olhar.

     Suas mãos ainda estavam nas laterais de meu rosto, seus polegares fazia um carinho terno em minhas bochechas, seu polegar direito deslizou por minha boca até meu lábio inferior, seu olhar foi direcionado por onde seu dedo agora se encontrava.

     Eu automaticamente fechei os olhos esperando ela, senti sua respiração próxima, tão próxima que se mesclava com a minha, ela soltou o ar pela boca, senti o seu hálito que exalava cereja?!

     Senti seus lábios roçarem com os meus lentamente, mais como uma carícia de que como um beijo, ela sugou o meu lábio inferior e o mordeu, me fazendo arfar, seria possível o tesão se fazer presente apenas com esse gesto?

     O relógio apitou alto, nos separamos assustadas, aquele maldito relógio nos atrapalhou, a sensação que senti foi igual de quando você esta sonhando, e bem na melhor parte você é acordada.

          - Acabou o tempo - Murmurou a ruiva  tão chateada quanto eu.

LoucurasOnde histórias criam vida. Descubra agora