▪︎ 7: Deixa

388 15 4
                                    


Paolla Oliveira.

Diferentemente do nosso comportamento que se baseava em um desejo carnal súbito, tendo em vista nossos encontros escassos, apenas permanecemos todo o banho abraçados e apreciando um ao outro. Percebendo detalhes, trocando beijos doces e quase castos, carinhos no rosto e conversas longas. Sérgio estava tão engajado em me deixar mimada que lavou o meu cabelo, enquanto eu tagarelava sobre minha rotina. Talvez tenha sido a coisa mais romântica que ele poderia ter feito em algum tempo...
Depois do banho eterno e apaixonado, fomos juntos para o quarto dele, onde a cama estava impecável e o ambiente estava geladinho, como o clima exigia que estivesse e agradeci a Deus pelo ar-condicionado daquele quarto.

Eu e ele deitamos juntos, me aconcheguei docemente em seus braços fortes e encostei em seu peito. Suas mãos grandes foram delicadas para os meus cabelos e faziam um carinho delicioso, me deixando para lá de entregue aos seus cuidados. Geralmente, eu tomava partido das coisas com muito prazer. Mas Sérgio aplicava esse papel tão bem quanto eu.
Guizé não demorou e começou a cantar uma das músicas de sua banda, acho que era a Bella. Diferentemente do ritmo frenético e rápido que a música tinha, ele criou uma versão lenta e doce só para que eu pudesse dormir. Aos poucos eu ia perdendo alguns dos sentidos, porém, antes que eu entrasse e mergulhasse no meu sono profundo com o combo voz rouca e cafuné maravilhoso, tive forças para dizer o que talvez eu não tivesse dito pessoalmente.

— Eu te amo tanto, Gui... Era pra ser assim. — E joguei um dos braços em sua cintura, trazendo-o para perto.

— Também te amo, garota. Mais do que você possa um dia imaginar. — E beijou minha testa.

Depois disso, caí em um sono profundo.
Sonhei quase pouco, mas o que me veio na cabeça foi um grande sinal de que eu estava no modo mais difícil de uma paixão incondicional: a expectativa.
Sonhei comigo e com Sérgio, juntos numa linda praia paradisíaca de águas calmas e cristalinas, areia dourada e bem fininha de mãos dadas. E mais a frente, um garotinho corria em nossa direção com uma risada perfeita e contagiante. Os olhos e o nariz era perfeitamente idênticos ao pai, os cabelos ligeiramente dourados de uma criança pequena eram ondulados como os meus. Ele nos encontrava e me dava um abraço forte, puxando Gui para perto também. E... Nos chamava de "papai" e "mamãe". Ao que eu sabia, andava me prevenindo muito bem quando se tratava de encontrar ele.
Acordei com a luz do sol incomodando meus olhos, me deixando um tanto desconfortada. Me levantei de uma vez, não estava em casa e certamente deveria me adaptar à vida de Sérgio.
Até ia descer, mas alguns detalhes do quarto me chamaram realmente a atenção.

Me aproximei de um pequeno armário ali perto, era baixo e acabava na altura do meu ombro. Em cima dele, haviam quadros de fotos. Tanto de Guizé quanto de Bianca, algumas fotos deles juntos — se bem que eram bem poucas.
Em algumas, eles pareciam realmente felizes juntos, mas sabia que não havia mais o que ser feito, segundo ele. Meus olhos passaram e meus dedos seguiam pelo móvel de madeira, até que encontrei uma aliança ao lado da foto deles. A peguei, examinando-a. Era de ouro de verdade, linda, mas não exuberante. Na parte inferior havia o nome de Bianca inteiro gravado.

"É a aliança dele..." — Pensei, soltando um longo suspiro.

Não satisfeita com a minha curiosidade, persegui os olhos por mais fotos e encontrei uma dele de criança. Suspirei novamente e dessa vez era de surpresa, idêntico ao pequeno dos meus sonhos. A imagem e semelhança do nosso filho imaginário... Coloquei a mão na frente da boca, tentando espalhar esse sentimento tão cedo e decidi começar meu dia de uma vez.
Fui ao banheiro, escovei os dentes e me arrumei um pouco melhor, só para descer logo e me encontrar com Sérgio.
Quando o encontrei, ele estava sem camisa no sofá, jogando videogame, todo espatifado. E só de samba-canção? Comigo naquela casa ele não ficaria sem fazer nada MESMO.
Me coloquei na frente dele e sentei em seu colo, envolvendo seu pescoço com os meus braços e as mãos se encontrando logo atrás.
Ele reagiu até melhor do que eu poderia ter pensado, apenas pausou o jogo e colocou as mãos em minha cintura, sorrindo lindamente para mim.

— Pensei que não fosse acordar nunca, garota. — Ele disse, beijando meu queixo — Fiquei esperando na cama, mas odeio te acordar. Nem troquei de roupa, só desci e usei o banheiro aqui de baixo.

— É que o sonho me pareceu uma ótima realidade, acabar com o ele seria um pecado, sabe? — Eu disse, descendo uma das mãos para o seu rosto e acariciando sua bochecha com calma.

Ele ficou pensativo por um tempo.

— E que sonho era esse, meu bem? — Perguntou ele.

Dei uma risadinha e roubei os lábios dele para os meus. Ele retribuiu o beijo demorado com muito carinho, se afastando de mim com um selar no canto da minha boca. Uma de suas mãos subiu pelas minhas costas e encontrou as pontas do meu cabelo, as quais ele enrolava no indicador.

— Não importa, é só uma jogada do subconsciente. — Respondi, deixando as mãos sobre a minha coxa. — Agora, levanta daí, bonito. Vamos fazer yoga no quintal. — Eu disse, batendo o dedo na ponta do seu nariz e me levantando.

— Mas, eu nunca fiz isso, Paolla. — Ele disse, coçando a nuca.

— Eu te ensino!

[...]

— P-Paolla eu acho que vou cair. — Ele gemeu de desconforto quando se viu um pouco mais... Pressionado pela gravidade.

Já eu, mantinha a posição com muita confiança. Não tremia, nem demonstrava fraqueza nas pernas ou braços. Estava levando a situação na maior naturalidade.
A yoga diz muito sobre nós, principalmente nessa relação, pensei.
Sérgio tremia como vara verde e isso me causava algumas risadas sinceras.

— Você está indo bem, minha vida. Segura firme só mais um pouquinho! — Eu o incentivei.

Muito em vão, porque em questão de segundos ele caiu e não foi muito difícil me levar consigo. Acabei caindo por cima dele, e ninguém se machucou. Só assumimos manchas verdes nas pernas e braços por conta da grama. Fora isso, estávamos até que bem.
Olhamos um para o outro com um breve lampejo de preocupação, mas logo estávamos rindo sem parar com a situação. Ele envolveu minha cintura com braços amistosos e eu envolvi seu rosto com as minhas mãos, acariciando suas bochechas lentamente.
Enquanto ele ria genuinamente e se sentia bem comigo, eu poderia jurar que ele só seria realmente feliz comigo.
Eram momentos idiotas como esse que me faziam cada vez mais louca de amor. Uma relação não precisava ser puro fogo. Tínhamos mais que fogo, era carinho. Simples, genuína e instintiva química.
Não gostava de ilusões, mas quando o via rindo daquela forma tão gostosa, lembrei daquele sonho tão real. E tive a sensação de que merecíamos um final feliz como aquele.

Medo BoboOnde histórias criam vida. Descubra agora