▪︎ 15: A Gente Faz

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Paolla Oliveira.

— Que calor... — Ele murmurou, enquanto jogava as malas em cima da cama.

Não havia nem meia hora que estávamos na Bahia e esse paulista nato já estava incomodado com as altas temperaturas, seu rostinho levemente corado pelo pouco sol que levou do lado de fora, não seria difícil de ser afetado pelo ambiente. Já eu... Bem, sempre fui uma pessoa de praia, obviamente estava acomodada com o clima seco e ardente do ambiente.

— Tira essa camisa. — Rodopiei, me jogando ao lado das malas, arqueando uma das sobrancelhas.

— Ahn... Primeiro tira as malas de cima da cama, né? — Ele respondeu, coçando a nuca meio sem jeito.

Não pude conter a risada com a suposição que ele havia acabado de fazer, realmente levando pro lado proibido da coisa. Era aproximadamente meio dia e ele realmente pensou que eu teria coragem de fazer isso para todos da pousada ouvirem? Ri tanto que perdi o ar, ele confuso acabou rindo também, enquanto passava a camisa pela cabeça e a deixava pendurada numa cadeira próxima.

— Eu não vou fazer nada com você enquanto o sol estiver no céu. — Comentei, ainda rindo. — Sem contar que acabamos de chegar, nem tomei um banho ainda. Estou exausta, quero tira um cochilo.

Me levantei da cama num impulso só e fui até Sérgio, que estava separando algumas roupas de sua mala para usar posteriormente. Enquanto suas mãos estavam ocupadas, o abracei por trás e fui deixando uma série de beijinhos de um ombro à outro, deixando-o todo marcado com marquinhas de batom e depois, apoiei minha cabeça em suas costas, ouvindo suas batidas de coração. Era bom vê-lo sereno, mesmo depois de uma semana inteira arrasado, ele me parecia ele mesmo de novo e estava feliz com a viagem para a Bahia. Durante os dias que esteve no seu pior estado, teve que lidar com o andamento do divórcio e é claro, com as fofocas de término e o surgimento do meu nome na história, por mais que Bianca tenha sido cega demais para pensar em algo, não foi difícil para o público me apontar como pivô... Nada novo sob o sol.
E eu, por outro lado, me via mais motivada em dar um motivo para acreditar à Sérgio, que vez ou outra acabava desabafando sobre seus sonhos de família. Quanto mais eu cogitava, mais sonhava com isso á noite e mais planejava nosso futuro perfeito, querendo por tudo nessa vida dar o bebê que ele tanto queria ter comigo, me pegava pensando nisso muitas e muitas vezes, mas nunca pensei em ser sincera com ele sobre esse assunto. Afinal, eu acabava de passar de amante para a primeira. Nosso relacionamento não era novo, porém, talvez esse espaço fosse necessário. Dizer ou não dizer?

— Vamo tomar esse banho juntos? Assim a gente tira a soneca juntos. — Comentou ele, se virando para mim e beijando minha testa.

— Claro, por que não, pimentão? — Toquei com a ponta do meu dedo em seu nariz.

Peguei meu shampoo e condicionador dentro de uma outra bolsa, enquanto ele seguia para o banheiro, começando sem mim o ritual da ducha gelada no calor. Ouvi um gemido de prazer escapar dele quando ouvi o som do chuveiro. Parecia gelada e adequada para quem não estava pronto para uma onda de calor maior que a do Rio.
Entrei no banheiro também e tirei toda a roupa, percebendo o olhar de Sérgio ferver em cada curva do meu corpo. Nos conhecíamos por muito tempo, mas toda vez que eu ficava nua era esse ritual de adoração — talvez uma maratona de pensamentos eróticos — e eu me sentia a última bolacha do pacote.
Entrei no box e deixei o shampoo e condicionador no espaço que tinha na janela, seus olhos se mantiveram desejosos e percorreram cada centímetro com muita atenção, mas por muito auto controle, manteve os olhos nos meus e depois deu uma risada sem graça, deixando crescer em seus lábios um sorriso de canto cafajeste que eu não aguentava, morria de amor.

— O que foi, hm? — Eu perguntei, mordendo o lábio inferior.

Sérgio se aproximou o suficiente para que nossas respirações fossem sentidas um pelo outro e subiu a mão para ajeitar uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, guardando meu rosto na sua palma.
Respirou profundamente e fechou os olhos, fazendo carinho no meu nariz com o dele.

— É que eu me sinto muito sortudo. Tenho a personificação do carisma, do talento e do amor comigo. E pra melhorar, essa personificação é gostosa demais. — A voz dele ficou ainda mais grossa na última frase.

— É? — Foi a única coisa que saiu, quando levantei o rosto, já completamente rendida, em busca dos seus lábios.

E a busca foi bem sucedida, pois nós selamos um beijo delicioso e intenso, nossas bocas se movimentando e línguas dançando. Sérgio desceu a mão livre para a minha bunda e a apertando se afastou, me deixando um gosto de quero mais. Ele riu e me deu um último selinho, pegando o sabonete e passando pelo corpo.

— O sol ainda está no céu, quem sabe depois. — Ele disse, se jogando para baixo dos jatos de água.

— Ridículo, não se provoca as pessoas assim! — Reclamei num tom brincalhão.

[...]

Assim, depois do banho e já trocados com roupas mais frescas para um cochilo — sendo a roupa fresca do Sérgio apenas a cueca e a minha uma camisola bem leve e delicada — tiramos as tralhas de cima da cama, ligamos o ar condicionado no mínimo possível e nos enfiamos no edredom, deitando de conchinha, ele se acomodando em minha os poucos e me abraçando forte, como se eu fosse sair correndo.
Ele suspirou e encaixou os lábios bem atrás do meu ouvido, como costumávamos conversar antes de dormir.

— O dia que a Bianca admitiu mentir pra mim... Eu falei pra você que só queria ter filhos se fossem seus, algo assim, não é? — Ele iniciou, como se soubesse o que se passava na minha cabeça.

Sorri discretamente puxei o cobertor até o pescoço, fechando os olhos para aproveitar melhor o momento só nosso. Queria muito saber o motivo da conversa, mas conter a animação com o assunto era prioridade.

— Sim, algo do tipo. — Confirmei, colocando minha mão em cima da dele, que repousava inocentemente na minha barriga.

— Eu disse na hora do desespero, não quero que se sinta pressionada, sabe? Correr com as coisas não é o melhor pra gente. Quero sim ter um filho com você, mas apenas se for da sua vontade também. — Ele se explicou na maior delicadeza do mundo e eu jamais poderia querer outro homem.

— Meu maior sonho é ser mãe dos seus filhos, Sérgio. Não tem dúvida alguma disso. E olha... Eu bem ando querendo dar uma pausa pra cuidar da família mesmo. — Eu disse, já não podendo conter a animação por mais tempo.

— Podemos dizer que já quero iniciar a temporada de tentativas. — Ele sussurrou e mordiscou minha orelha.

— A gente faz esse pirralho... Outra hora. Porque eu tô com sono e tem festa mais tarde. Me abraça mais forte e vamos nanar. — Falei, me encolhendo no cobertor por causa do frio iminente da máquina na sua maior potência.

— Que ele venha com a personalidade da mãe. — Falou ele.

Em pouco tempo, dormimos. E eu nem sabia que estávamos tão cansados assim...

Medo BoboOnde histórias criam vida. Descubra agora