▪︎ 17: A Notícia

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Paolla Oliveira.
Semanas após a viagem e o carnaval.

Abri os olhos lentamente quando ouvi o som da chuva forte bater contra o vidro da janela, parecia estar caindo o mundo no lado de fora.
Dentro do quarto, as luzes de descanso estavam ligadas e iluminavam parcialmente o lugar. Os passos de Sérgio passavam pelo piso de madeira com pressa de um lado para o outro enquanto pegava as coisas para levar ao set, uma vez que ele já havia voltado ao trabalho e eu estava tirando um tempo.
Guizé apenas parou com sua correria quando meu viu de olhos abertos, espiando toda a situação com muita preguiça e sono. Sorriu docemente para mim e se ajoelhou ao lado da cama, colocando seus dedos no meu queixo, fazendo uma carícia leve, me olhando nos olhos com paixão.

— Não queria te acordar, me desculpa, minha flor. — Ele se desculpou com uma voz mansa, seu hálito fresco batendo em meu rosto.

Balancei a cabeça negativamente, enquanto me espreguiçava na cama e me apoiava sobre os cotovelos.

— Não foi você, tá chovendo muito forte lá fora. — O corrigi, subindo a mão entre nós, com o intuito de ajeitar seu cabelo atrás da orelha — Você realmente tem que sair nesse temporal? E se estiver tudo alagado?

Ele deu de ombros e roubou meus lábios num selar que logo foi retribuído. Sérgio se levantou lentamente e deixou um outro beijo na minha testa, olhou o horário no relógio de pulso e depois, guardou as mãos nos bolsos do moletom azul marinho que ele usava.

— Aí eu volto pra casa, mas é que não pega bem pra um protagonista faltar numa gravação, né, vida? Enfim, eu tenho que ir. Se cuida e vai dormir, são cinco horas da manhã. — Ele se abaixou para me beijar um pouco mais demorado e depois partiu.

Por algum motivo, eu ainda estava muito cansada para cogitar continuar a manhã acordada e vivíssima. Se antes eu tinha toda a energia do mundo, agora eu desejava conseguir dormir e somente acordar pela tarde.
A preguiça me consumiu por inteiro. Me aconcheguei na cama novamente, fechei os olhos e apaguei, dormindo tão pesado que nem mesmo sonhos consegui ter.
Bem, essa era mais ou menos nossa rotina desde que eu decidi me mudar para a casa de Sérgio. Juntamos nossos cachorros, carros e manias. Estávamos mais para casados do que apenas namorados, mas não pensávamos estar prontos para assumir tamanha responsabilidade. Ele sempre acordava mais cedo, eu acordava por algum motivo e acabava ficando a maior parte do tempo acordada e me ocupando, isso quando eu não tinha compromissos.
Mas, essa manhã eu bem decidi dormir e muito.

Acordei pelas três horas da tarde, ainda sozinha em casa, o que não era estranho pois ele só costumava chegar em casa bem pela noite. E estava completamente faminta, precisava encher a barriga com certa urgência.
Antes mesmo de pensar em ir ao banheiro, desci as escadas com uma pressa animal e fui direto para a cozinha, abrindo a geladeira e procurando a primeira besteira para beliscar.
Peguei um dos sanduíches integrais que eu preparava para o Sérgio levar — e ele nunca levava pois seu paladar é o mesmo de uma criança de cinco anos — e coloquei para dentro como se fosse a comida mais deliciosa do mundo.
Daí, eu comi outro e mais outro. Então, tive a vontade repentina de tomar iogurte. Foram dois copos cheios.
Quando eu percebi meu estado de gula, parei urgente.
E subi as escadas novamente, decidindo não passar perto daquele cômodo tão cedo no dia.

"Por que eu estou com tanta fome assim? Credo, logo mais eu perco meu corpinho." — Pensei, enquanto andava em direção ao meu quarto.

Quando cheguei, peguei meu celular abandonado no criado-mudo e vi as milhões de chamadas de Sérgio para mim no horário do seu almoço. Sempre falávamos nesse horário pois ele dizia que sentia muita saudade de quando podia dedicar seu tempo todinho para mim. Meloso, mas até era interessante saber de fofocas do Projac.
Abri o Whatsapp e mandei uma mensagem me desculpando por ter dormido demais.
Então, decidi recomeçar meu dia, pegando minhas roupas para tomar um banho. Enquanto remexia as gavetas, senti toda aquela comilança se revirar na minha barriga e se tornar uma grande... Vontade de vomitar.
Larguei as minhas roupas no chão mesmo e saí correndo em direção ao banheiro do quarto, me ajoelhando de frente para o vaso e jogando tudo que eu havia comido assim que levantei e o jantar para fora.

Medo BoboOnde histórias criam vida. Descubra agora