▪︎ 11: Doendo Pra Carai

374 13 2
                                    

Paolla Oliveira.

Eu não queria dar esse "tempo" para Sérgio, não estava dentro dos meus planos e jamais estaria. Mas, onde é que ele estava com a cabeça, pelo amor de Deus? A mulher dele estava grávida e ele estaria disposto a deixá-la para viver uma aventura comigo? Eu o amava mais do que tudo em toda a minha vida, mas talvez nessa disputa, Bianca possa ter vencido em definitivo. Sabe lá Deus se eu teria a capacidade de ter um filho com ele, me iludi com um simples sonho e pensei que a novidade futura pudesse ser minha e dele.

Assim que desliguei o celular e a linha emudeceu, senti uma fraqueza que pensei jamais sentir em toda a minha vida. Um nó se formou em minha garganta e lágrimas se formaram nos cantos dos meus olhos, meus lábios tremeram e... Olha eu, novamente chorando por ele. Ela sempre leva ele, pensei. Me encostei na parede e passei a mão no cabelo que caía aos olhos, mordendo fortemente o lábio inferior para que a tremedeira parasse de uma vez. Se ele pensasse direito, iria escolher ela. Tanto tentou que conseguiu prender ele.
Mesmo lutando, as lágrimas saíram contínuamente de mim e rolavam pelas minhas bochechas em grande quantidade. Fiquei um bom tempo chorando, talvez a noite inteira. Deitei na cama e perdi a consciência num sono sofrido de quem tinha o coração partido.

Dias depois, Sérgio Guizé.

Eu estava menos animado com a ideia de ser pai do que pensei que poderia estar, porque na verdade, não parecia nada diferente em casa. Mesmo deixando claro que estávamos dando um tempo, ainda estava sendo tratado como o marido omisso de Bianca Bin.
Sem contar do modo grosseiro que estava sendo tratado quando eu perguntava sobre nossa pequena semente nela, às vezes, até ignorado. Minha esposa parecia desprezar o assunto, tão menos apegada quanto eu, mesmo sendo mãe. Seu comportamento diante minha preocupação era de esquentar o sangue, não suportava esse tipo de tratamento, mas me mantinha por perto na intenção de mostrar que não seria um pai ridículo.

Certa vez, perguntei para Bianca quando teríamos o primeiro ultrassom, as idas ao médico, quando iríamos tratar de saber os cuidados de uma grávida, os exames e tudo mais, e ela simplesmente mudou de assunto. Desconfiei um pouco, mas quando ela retornou ao assunto, fiquei mais tranquilo.
Os dias que passaram, então, desde a descoberta foram completamente insuportáveis. E eu não sabia se era porque eu estava agoniado em dividir o mesmo teto que ela, o mau humor de Bianca ou... A saudade de Paolla.
Eu realmente não queria que tivéssemos que dar um tempo e entendi os motivos dela. Talvez tenha realmente pensado que eu iria viver em prol de Bianca e nosso filho pelo resto da vida, que eu havia deixado de amar ela. O que era completamente irreal. Todas as noites eu sonhava com ela, bebia pensando nela, chorava pensando em Paolla. Ela era minha ferida não curada e jamais deixaria de ser enquanto ela não estivesse comigo.

Soltei um suspiro pesado, cansado, enquanto abria uma cerveja e me esparramava no sofá, focando os olhos na televisão que passava Star Wars.
Meu coração partiu em mais pequenos pedaços ao lembrar que ela havia rido da minha samba-canção.
Uma lágrima surgiu no canto do meu olho e eu a sequei antes que pudesse cair. O que eu gostaria de chorar, estava chovendo lá fora. Um verdadeiro dilúvio, raios e trovões cortavam o ambiente.
Bianca estava atrás de mim, conversando no telefone com qualquer pessoa que não me interessava no momento e distraída demais para perceber em mim, completamente abalado pelo "término".
Mandei toda a cerveja para dentro de uma e abri a outra, quando estava pronto para engolir mais essa, o interfone tocou ao lado da porta da sala.

— Vai ver quem é, tô ocupada. — Disse Bianca, com uma voz embargada de quem estava mais interessada no que estava sendo dito.

Me levantei, revirando os olhos. Quem diabos estaria visitando a casa de alguém numa chuva tão horrível?
Saí correndo para resolver logo, pegando o telefone e colocando na orelha.

— Quem é? — Perguntei com tato, apesar do mau humor.

A voz do outro lado me trouxe um mix de sensações que eu não sabia dizer. Ao mesmo tempo que o meu coração foi triturado, pisado e moído, foi construído novamente e deixado novo em folha. Como se, mesmo tombado pelo amor, a presença dela me completava. Entre soluços, fungadas e respiradas fundas, a voz doce — agora rouca e pesada — de Paolla tomou meu ouvido.

Meu carro quebrou aqui perto, o guincho levou e nenhum Uber aceita a corrida. Por favor... Deixa eu passar a noite , prometo me comportar. — Ela disse, visivelmente afetada.

— Claro! Por favor.

Uma vez permitida, em poucos minutos ela estaria batendo a porta e eu abrindo. Apesar de eu querer fazer muitas coisas naquele momento, Bianca me deixava em pé de censura. Inclusive, ela se levantou e veio conferir, ainda que incrédula a presença dela. Mas com uma educação comedida, a cumprimentou e avisou que estava indo para o quarto, resolver algumas coisas com seu empresário, que estava até aquele momento no celular.
Enquanto ela subia, fui para o meu quarto no térreo mesmo e voltei correndo com umas roupas minhas para ela usar e uma toalha quentinha.
Q

uando cheguei novamente, ela estava tremendo de frio. A cobri com a toalha por trás, ajeitando-a nos ombros e me afastando de forma respeitosa. Depois, entreguei as roupas.

— Eu senti a sua falta. — Sussurrei, de modo que somente ela pudesse ouvir.

Paolla fechou os olhos e se aproximou de mim.

— Também senti a sua. — Disse ela. — Mas... Eu não sei se aguento isso. Ela tá grávida.

— Eu não a amo, apenas o que ela está gerando, é diferente. — Murmurei.

— Ele não foi feito sozinho. — Ela respondeu, apesar de ríspida, estava tão sentida quanto eu em relação a essa separação.

Apesar de estarmos quebrados um com o outro, o sentimento estava acima do que eu poderia entender. A puxei para um abraço forte, daqueles que se sente a emoção ecoar por todo o corpo. Beijei o topo de sua cabeça, enquanto ela envolvia firmemente minha cintura.

— Tá doendo pra caralho, Paolla. Mas você do meu coração não sai. — Disse contra seus cabelos molhados.

— Só eu sei o quanto tá doendo, depois de você. — Ela sussurrou contra o meu peito.

Depois de um tempo abraçados, ao ouvir uma movimentação na escada, fui solto por Paolla que correu para o banheiro e eu, fiquei sozinho lá.
Mas algo me dizia que não ficaria por isso essa noite.

Medo BoboOnde histórias criam vida. Descubra agora