27. A Chuva

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Mamãe virou o rosto para mim e, pela primeira vez, desde que Finn havia passado por aquela porta, sorriu. Eu não deveria ter mentido, aliás não costumava o fazê-lo, entretanto esta era a única maneira de mamãe querer conhecer Finn melhor. Tenho certeza de que ela poderia gostar dele tanto quanto gosta do Noah.

- Ah, é mesmo? - perguntou ela, agora fitando o cacheado. - Qual matéria mais gosta, Finn?

A lembrança dele me respondendo isso quando eu havia feito a mesma pergunta no dia em que fomos estudar juntos pela primeira vez na biblioteca veio à minha mente naquele segundo: Todas são igualmente insuportáveis. Logo, respondi antes que o cacheado tivesse a chance de abrir a boca:

- Inglês! - exclamei. - É! Ele adora inglês! - frisei. Percebi que Finn havia fechado a cara e não comentou nada a respeito. Então, para constatar se estava tudo bem, acertei-lhe um chute fraco por baixo da mesa. Ele me encarou e estreitou os olhos, como que uma censura para que eu pegasse mais leve com o que estava dizendo. Em seguida, fitou mamãe. Prendi a respiração. Só confirma, Finn, por favor.

- Sim, eu gosto dessa matéria. - disse, com um toque um pouco duro na voz que, graças a Deus, somente eu devia ter notado.

Mamãe não teve oportunidade de insistir no assunto, o que, com certeza, Finn teria odiado. Papai voltou a perguntar um pouco mais sobre a escola de música e os planos de Finn. Eu me surpreendia cada vez mais com ele no decorrer da conversa dos dois. Papai sempre disse para que eu tomasse cuidado com a profissão que escolhesse e, acima de tudo, evitasse aquelas que correm aquele risco de não darem tão certo, música, por exemplo, que é um tanto complicado devido precisar de certo investimento e interesse de gravadoras no ramo. Entretanto, papai parecia ter simplesmente adorado Finn. O cacheado, apesar de estar falando sobre algo de que gosta, estava um tanto mais fechado, como se estivesse chateado ou irritado com algo, contudo estava tentando se controlar.

Quando o almoço chegou ao fim, ajudei mamãe a lavar a louça enquanto eles falavam sobre algo na sala que eu não estava prestando atenção para conseguir ouvir. Mamãe também parecia mais calada que o normal, falava apenas o necessário, pedindo para que eu guardasse as panelas na geladeira e guardasse os pratos no armário, entretanto não me preocupei. Sabia que não precisava me afligir, além do mais, acho que já era suficiente eu ter lhe garantido que Finn gostava de estudar como Noah, apesar de ser mentira. Não havia motivos para que ela desaprovasse. Tinha consciência de que ela estava apenas esperando o cacheado ir embora para dizer isso. Claro que sim.

- Bom, Mills, eu estava pensando em irmos no cinema depois do almoço. - disse Finn casualmente, se levantando do sofá assim que mamãe e eu fomos para a sala.

- Oh... - mamãe e eu trocamos olhares. Em seguida, fito papai. - Tudo bem, gente?

- Eu acho melhor... - começou ela.

- É claro. - interrompeu papai. - Vão.

- Então... deixa eu me trocar. - eu disse, voltando meu olhar para Finn, que assentiu satisfeito.

Subi ao quarto um pouco hesitante em deixar Finn sozinho com minha mãe, com medo dela voltar ao assunto dos estudos e ele decidir desmentir o que eu disse.

Por isso, assim que abri meu guarda-roupa, peguei a primeira camiseta que vi à minha frente, uma calça jeans e meu moletom do Harry Potter para amarrar na cintura, caso esfriasse mais tarde.

Desfiz meu coque, mas sem paciência para pensar em algum penteado, acabei refazendo-o novamente. Guardei meu celular e um dinheiro, que papai costuma me dar para comprar jogos novos, dentro da minha bolsa de ombro e desci ao primeiro andar correndo.

You Belong With MeOnde histórias criam vida. Descubra agora