33. Papai sabe usar palavras bonitas

2.2K 147 769
                                    

Andei pelo quarto incrédula, dando várias voltas sem me dar muita conta disso. Meu rosto estava perplexo e meu celular encostado em minha orelha.

- Então ele não brigou com você? - questionei, ainda incrédula.

- Não, a gente se entendeu de primeira. - disse Finn com tranquilidade, do outro lado da linha.

Meu pai ainda não havia chegado. Segundo o cacheado, ele havia acabado de entrar em casa. Eu poderia jurar que eles iriam brigar feio. Contudo, Finn garantiu que eles não haviam nem batido boca. Nenhuma, sequer, provocação.

- ...Ok. - aquilo estava estranho. Mamãe compreender estava ok, mas papai... - Ele realmente não disse nada? - insisti.

- Não, Mills. - pelo seu tom, imaginei Finn revirar os olhos pra mim e e eu sorri. - Fica tranquila. - completou. - E como sua mãe reagiu?

Finalmente cansei de zanzar pelo quarto e me sentei sobre a cama. Fitei a parede lilás e pensei na resposta. Eu havia acabado de ter uma das conversas mais constrangedoras da minha vida, contudo, minha mãe poderia ter reagido extremamente pior...

- Foi estranho. Mas ela foi bem compreensiva. - eu ri. - Nem parecia ela. Quer dizer, ela é mais... - procurei a palavra certa. - explosiva.

Mamãe era a pessoa mais impetuosa que eu conhecia. Principalmente quando o assunto era eu. Me lembrava perfeitamente do escândalo que ela havia feito quando eu estava na quinta série e uma colega de classe havia espalhado pela escola que iria "acabar comigo" na saída. Extremamente clichê de fundamental, é claro. O boato acabou chegando aos ouvidos da Diretora, que resolveu chamar minha mãe até a escola. Dona Winona exigiu conversar com a menina e a mãe dela. O que a Diretora não esperava era que o silêncio de sua sala fosse preenchido pelos gritos enfurecidos de minha mãe assim que a mãe da garota havia insinuado que ela teria algum motivo significativo. Desde aquilo passei a aprender o que lhe dizer e saber muito bem o que não dizer.

- Tenho absoluta certeza de que ela queria apenas lhe dar mais espaço. - Finn disse, com bastante certeza em seu tom.

- Tá... acho que posso lidar com isso. - ironizei, escutando seu riso abafado em resposta. Talvez eu estivesse mesmo exagerando, ou perplexa demais. Havia acontecido tanta coisa em um dia só... que eu ainda me sentia meio desnorteada. - Bom, então, tchau...

- Está me dispensando, Brown? - ele brincou, me fazendo gargalhar.

- Eu preciso ajudar minha mãe com o jantar! - justifiquei.

- Até amanhã, então. Eu te amo. - disse meio apressado e então desligou, sem esperar resposta. Sorri e afastei meu telefone do rosto.

Finn e eu havíamos brigado e, em um dia, passamos a dizer 'eu te amo' e feito amor pela primeira vez. Parecia acelerado para quem visse de fora, mas para nós, parecia perfeito. Tínhamos nosso próprio tempo. E eu havia aprendido a gostar disso, apesar de ter alguns pontos de sua personalidade do qual eu ainda precisava aprender a lidar.

Voltei para baixo e passei a ajudar minha mãe a preparar o hambúrguer de peru para o jantar enquanto conversávamos sobre seu dia no trabalho - foi o único assunto que veio à minha mente para esquecermos nossa conversa embaraçosa anterior - e Grey's Anatomy até que, em determinado momento - do qual eu não poderia fugir -, o som da porta soou.

Mamãe parou de falar e seu sorriso fora substituído por aquela expressão que eu vira quando ela havia me levado para tomar injeção na veia quando eu tinha sete anos. Aquela típica expressão que diz: eu estou aqui com você, apesar de não ter nada que eu possa fazer, mas eu ainda estou aqui. Eu fechei os olhos e me virei lentamente.

You Belong With MeOnde histórias criam vida. Descubra agora