Capítulo 5: Raízes

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Evanora

Eu me lembro de nunca ter reclamado de ser criança. Era um mundo mais colorido, onde minhas únicas preocupações eram se minhas maria chiquinhas estavam simétricas e de me lembrar de escrever cartas para o papai noel.

Em um determinado natal, eu pedi que ele me desse uma mãe. Embora meu pai fizesse tudo o que estivesse em seu alcance, nada substituiria a figura materna que eu tanto desejava, mesmo com tia Clarice sempre ao meu lado. Crianças não entendem sobre consideração, e eu, achava que deveria ter uma mãe casada com meu pai. Inclusive, tamanha a minha vontade, eu convidei minha professora do jardim de infância a srta. Muller para um jantar, dizendo que seria meu aniversário. Meu pai ficou extremamente sem graça quando descobriu que ela havia comprado um bolo para minha suposta festa, onde só havia nós três. Nunca havia visto ele tão desconfortável em sua vida. Eu não ganhei uma mãe, mas meu pai e tia Clarice se empenharam para que eu me sentisse em uma família como a de todas as crianças da minha escola, embora eu sempre guardasse um espaço para minha mãe em meu coração, sem tê-la conhecido. E agora, eu havia acabado de descobrir que, na verdade, eu ter nascido foi o preço de sua morte.

Eu não estava com raiva por ela ser um demônio. E sim pelas mentiras, por todas as oportunidades que eles tiveram em me dizer a verdade, mas não o fizeram. E eu tive que ir para outro mundo para saber de tudo.

Eu estava confusa, com dor física e psicológica, sem saber o que fazer. Eu deveria enfrentar meu pai e tia Clarice? Deveria desaparecer sem dizer a eles onde estava?

Além disso tudo, agora eu estava presa em um lugar onde pessoas me matariam apenas por eu ser quem sou. Eu não me sentia mais eu mesma, ou talvez, eu apenas nunca havia conhecido a mim mesma na fortaleza de segredos em que eu vivia.

Eu olhava pelas grandes janelas, assistindo a chuva. As gotas saltitavam a superfície do lago e faziam as árvores chorarem. Abraço meus joelhos, me sentindo só como nunca. O que eu estava fazendo?

Com suaves batidas na porta, Jack adentra o quarto, segurando uma xícara que exalava um vapor com aroma de camomila.

Ele se senta na cama ao meu lado em uma distância considerável, e repousa a xícara sobre o criado mudo.

- Quer ouvir algo engraçado? - Pergunta, me pegando de surpresa.

Assinto lentamente.

- Hoje de manhã eu fui tomar café, e havia algo errado com o Dylan.

- O de dreads loiros?

- Esse aí. - Ele sorri. - Então eu notei que havia algo diferente nele, mas não soube dizer o quê. - Ele bate as mãos nos joelhos, como se estivesse indignado. - Então, no topo da cabeça dele, havia um buraco em seu couro cabeludo, o que não era normal.

- O que aconteceu?

- Bom, ele não quis me dizer. Então, Caleb entra na cozinha rindo histericamente com dois dos dreads de Dylan nas mãos. - Jack recupera o fôlego antes de prosseguir. - Ele prendeu na cortina do box do banheiro enquanto tomava banho.

Rimos juntos e senti meu peito mais leve um pouco.

- Certo, e tenho só mais uma para você.

- Mal posso esperar.

- Eu já conhecia você sabia?

Rapidamente, busco na minha memória qualquer registro dele, sem êxito. Ele estaria falando da creche, ou até mesmo da escola?

As Peças Celestiais: Ascensão (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora