Capítulo 2: Alvo Fácil

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Gadrieel

Eu odiava trabalhar para pessoas ignorantes, mas, em minha situação atual, não havia outro caminho. Eu estava cercado, encurralado por minha cadeia de medo e desespero. E acima de tudo, a sensação de culpa por estar cooperando para a ruína de uma pessoa inocente para meu próprio benefício. Um remorso que eu teria que aprender a conviver.

- Ele pediu que você fosse mais específico desta vez, eu presumo. - Ishafiel me perfurava com os olhos violeta. Ele, assim como eu, estávamos envolvidos naquele show de horrores. 

- E eu fui. Apenas não achei necessário pôr tudo isso num relatório de 5 páginas. 

- Você está em desvantagem, não esqueça. Obedeça, não questione, e será recompensado. Você não vê que ele só quer acabar com o que há de errado em nosso mundo? Uma aberração não pode viver e dar aos outros um exemplo que não é o correto. Nossa espécie morreria. É isso o que você quer?

- Não. - Retruco, com a voz baixa. - Não é.

- Bom menino. Agora, faça um favor a si mesmo e relate tudo. 5 páginas até hoje á noite. E da próxima vez, consiga imagens. 

- Além de perseguir, eu terei de fotografar?

- Achei que havia dito para não questionar. Ah, claro não é a sua vida que está em jogo aqui. Diga algo e ela morre. - Ele ergue um bloco de notas.

Trinco os dentes. Por quanto tempo mais eu seria forçado a base de tamanha chantagem? Assinto, pegando o bloco de suas mãos, desejando arrancá-las, mas me contive. Eu não poderia mais evitar o desastre, apenas assisti-lo.

Noah

Eu não consegui descansar ao chegar em casa. Passei horas me revirando na cama, atormentado por meus pensamentos de como as coisas poderiam ter sido se eu tivesse sido mais corajoso. Caleb sempre me fazia pensar.

Quando eu estava crescendo, Alderland já não era mais tão harmoniosa como na época dos meus pais. Eu me tornei um Guardião, mas não concordava com quase nenhuma das regras que foram impostas. O reino havia sido dividido, e somente os anjos e seus derivados se mantinham ali no centro. O restante fora dividido e enviado para outros 4 sub reinos, e trabalhavam para nós, algo que eu jamais concordei. E certamente, nosso falecido Supremo, Daniel, também não concordaria. Então, por rebeldia, eu passei a ajudar os Nephilim, e conseguimos triunfar sobre eles uma vez, mas sabíamos que iriam rebater, e logo.

Enquanto tudo aquilo acontecia, do outro lado da minha vida Gwen, que era uma feiticeira novata, foi pega na fronteira do nosso reino, onde teria invocado um arcanjo por acidente, causando uma fúria gigantesca nos Líderes, que marcaram uma reunião geral, e puseram os Superlativos no comando, que, obviamente, faziam parte do Conselho, que tomava todas as decisões. Com tanta discussão e minha clara discordância daquilo tudo, me puseram como Guardião temporário dela, tendo de impedir que ela contasse algo para mais alguém, mas não dizer a ela o motivo de eu estar ali. Não demorou muito para que eu me visse apaixonado por ela, e foi recíproco. Nosso amor era puro e intenso, divertido e novo, como eu nunca imaginei que teria, e nunca dissemos a ninguém, por medo de nos separarem bruscamente com regras estúpidas e sem cabimento, as quais ambos devíamos seguir.

Mais de um dois anos depois, me ordenaram uma outra missão, o que me fez escolher entre ela e meu trabalho. Minha escolha foi estúpida e me arrependi um dia mais tarde, mas ela já havia partido. E eu também. Me afastei do cargo e me exilei na terra, em busca de esquecer meus erros e recomeçar sem ela, mesmo com todos tentando me convencer a não ir. Não por sentirem minha falta, e sim para que, assim como Gwen, eu não abrisse a boca. Quando encontrei Eva, ela me salvou de mim mesmo, e me lembrou que eu poderia ter uma vida, e apesar de ser feliz aqui, eu sabia que não poderia fugir para sempre. E agora, Gwen estava perto, e eu nunca senti nós dois tão distantes. Me pergunto se ela ainda pensa em mim. Ou até mesmo se ela deveria.

As Peças Celestiais: Ascensão (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora