Capítulo 26: A Visão

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Evanora

Hoje seria o dia em que os questionamentos na minha cabeça desapareceriam. Pelo menos, o que mais me importava: o que matou minha tia.

Haviam outros, como o fato de eu não poder voar como deveria, mas talvez, aberrações não voassem, e eu já estivesse acostumada com a ideia. Afinal, eu ter nascido já havia sido um milagre, e eu não acreditava que milagres se repetiam.

Jack iria procurar por Loren, acreditando que ela estaria viva em Callendown. Do contrário, ela teria sido morta juntamente com o restante. Eu estava torcendo para que ela estivesse bem, pois, além de ser a única que poderia nos ajudar, também era amiga dele. E depois de quase perder Noah, eu sabia como era a dúvida torturante e parte da dor.

Eu estava na sala de estudo, lendo algo sobre diferentes tipos de demônio, sem sucesso ao encontra algo relevante, quando Gadrieel adentra o local.

- Você parece bem empenhada em descobrir o que eram aquelas coisas, não é?

Passo uma página do livro.

- Sim. Acho que todos devem saber, principalmente Christine, que provavelmente perdeu o irmão por conta deles.

Ele respira fundo e se senta na carteira à minha frente, apoiando seu bastão ao lado. Ele havia aprendido como manejar esta nova arma e agora, tornou-se sua especialidade.

- Acho que devo explicações a você. - Ele junta as mãos. - Quero dizer algumas coisas, se não estiver chateada demais para ouvir.

Fecho o livro e olho em seus olhos. Tão distintos, mas a expressão triste era a mesma, em ambos.

- Não estou chateada, pode me dizer. Por que achou isso?

Gadrieel pisca lentamente.

- Não somos crianças, e sabemos o que estava rolando entre nós. Ou o que poderia ter acontecido.

Eu estava surpresa com a fala tão sincera dele, mas acho que era o mínimo de honestidade que eu esperava depois de tudo. Embora ele falasse quase como se arrependesse de algo.

- Fala quase como se fosse um pecado.

- Não é isso. - Ele balança a cabeça. Os dreads estavam amarrados em um rabo de cavalo, deixando seu rosto mais polido e visível. - Existem coisas que eu não posso controlar ainda, assuntos que ainda não consegui enfrentar, e bem, conflitos inacabados também.

- Está falando daquela garota que me contou uma vez? - Questiono, tentando ligar os pontos em minha mente.

Ele sorri de leve, embora parecesse mais um curvar de lábios.

- Digamos que ela é parte da questão, mas há muito mais do que isso. - Ele dá uma pausa, interrompendo a si mesmo. - Não é com você...

- Não conclua. - Ergo a mão. - É a pior frase que eu já ouvi na minha vida, e nem ao menos chega a ser uma justificativa.

- Tem razão, me desculpe. - Ele olha para baixo um instante. - Um dia, você vai entender exatamente o que eu quero dizer.

- Um dia eu vou entender. - Repito, quase como se falasse sozinha. Sinto um calor subir pelo meu estômago, repentino e incontrolável. - Eu entendo pessoas complicadas. Eu entendo o que a morte pode fazer com as pessoas. Eu sei que anjos tem menos piedade do que demônios. E eu sei muito bem o que é ter medo dos próprios sentimentos, porque senti isso com você. - Exalo, sem poder conter a indignação em meu tom. - E você, Gadrieel, tem medo de si mesmo.

As Peças Celestiais: Ascensão (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora