Capítulo 29: Cúmplices

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Evanora

Após uma longa noite de correria, busca e caça, não consegui encontrar nada além da floresta cada vez mais escura e fechada, que agora já era lentamente iluminada pelo céu, que acordava em roxo escuro. A única luz que tínhamos, era de nossas pequenas lanternas. Aquele demônio certamente havia voado, ou se escondido. Uma das grandes vantagens de não conseguir usar minhas asas como deveria. Senão, certamente o teria encontrado.

Gadrieel havia me seguido durante todo o trajeto, o que seria de grande ajuda, se ele não houvesse passado todo o caminho de volta murmurando e brigando comigo por ter feito algo tão impulsivo e estúpido, o que, obviamente, eu discordava.

- O que você estava pensando ao fazer uma manobra suicida daquelas? - Pergunta, furioso, vindo atrás de mim, que caminhava sem olhar para trás. Os galhos já projetavam suas sombras lentamente conforme avançávamos pelo bosque.

- Acho que estava pensando em prender o demônio que estava nos vigiando. - Retruco. - Ou você acha que eu deveria tê-lo chamado para um chá?

Eu estava frustrada ultimamente, sentindo fogo no estômago. Sabia que era meu lado demoníaco falando mais alto, mas não sabia como pará-lo, ou até mesmo como ele havia começado a tomar forma em mim. Embora, por um lado, era bom, pois minhas emoções ruins tornaram-se menores, como um modo de defesa. E talvez, nesta segurança que eu havia encontrado, morasse o real perigo.

- Você não tem noção do perigo que correu indo atrás dele daquela forma. E se houvessem mais deles esperando? Poderia muito bem ter sido uma armadilha.

- Poderia, mas não foi. E eu estava levando o rádio. - Aponto para o aparelho preso em minha cintura.

- O combinado não foi esse, Eva, e você sabe.

- O plano era observar e esperar para termos certeza. Bem, eu observei e esperei, e agora, temos certeza. Então, não vejo onde errei.

- Não vê? - Ele ri, ironicamente. - Você perseguiu um demônio sozinha pela floresta, sem avisar ninguém. Ele poderia sumir com você e ninguém saberia. Se eu não tivesse seguido você, poderia estar muito longe daqui agora.

- Só estou cuidando da minha família, Gadrieel. Eles precisam saber a verdade sobre o ataque, todos nós, para assim poder evitar mais como aqueles no futuro.

- Eu repito que o que você fez foi irresponsável. Não tem noção do que um demônio pode fazer.

Paro de andar.

- Não tenho noção? - Viro-me para ele. - Um deles fez isso comigo. - Aponto para minha cicatriz. - Eles acabaram com uma cidade, fizeram com que todos nós enterrássemos corpos por semanas. E acho que você se esqueceu do mais importante: eu sou um demônio. E se pensa que eu não sei o que eles podem fazer, a falta de noção é sua.

- Você acha mesmo que sabe o que está fazendo, não é? Acha que vai conseguir resolver tudo com essa atitude. Você não sabe da metade das coisas que acontecem por aqui.

- Então por que você não me diz o que tanto esconde, Gadrieel? - Confronto, sentindo as chamas dentro de mim cada vez maiores. - Me diga o que eu não entendo, como você mesmo disse da última vez.

Gadrieel se cala por um momento, como se buscasse as palavras, mantendo o olhar fixo ao meu.

- Tudo o que estou fazendo, é para proteger você, entenda.

- Você não precisa me proteger dos demônios. Eu agradeço por ter vindo comigo, mas não julgue minha vontade de fazer o mesmo por todos vocês.

As Peças Celestiais: Ascensão (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora