Capítulo 17: Ruína

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Evanora

Meu coração disparava e minha cabeça latejava, como se mil pensamentos tentassem sair ao mesmo tempo, mas nenhum conseguia de fato chegar à saída.

Quando avistei Noah sendo carregado por Gwen, Caleb e Dylan, quase como se estivesse morto, foi como uma cena mórbida em câmera lenta. A neve caindo sobre o corpo insólito dele, o sangue que escorria de seu casaco rasgado e coloria o chão. O cabelo sobre o rosto, os olhos selados...Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Sinto meus joelhos fracos, mas não cedo ao baque.

- Meu Deus. - É a única sentença que sai dos meus lábios. Eu sentia que o mundo havia caído sobre meus ombros naquele exato momento.

Gadrieel e Jack correm até ele, e eu acompanho. Enrolamos nossos agasalhos ao redor do corpo dele, em uma tentativa de parar o sangue. Eu não me importava com o frio. Não me importava com mais nada.

Caleb continha um ferimento em sua testa. Gwen, estava em um silêncio mortal, e seus olhos pareciam avermelhados. Parecia haver alguma ferida em seu braço direito, no rasgo de sua blusa verde. Dylan aparentava ter sido o menos afetado.

- Que porra...

- Não temos tempo para explicar, Gadrieel, temos que tirar ele dessa nevasca, antes que sofra uma hipotermia. - Caleb quem fala, pendendo o peso para Gadrieel.

- Eva, seria uma boa hora para você tentar voar. - Diz Jack, segurando parte do corpo dele juntamente com Gadrieel. - É pesado, mas podemos conseguir mais rápido.

Sinto minhas asas rasgarem a parte traseira da minha blusa, mas não era uma questão naquele momento. Eu nunca havia tentado, não sabia qual seria a sensação, mas sabia que deveria tirá-lo dali imediatamente.

Até que minhas asas não se movem.

Tento batê-las, mas não havia resposta, como se faltasse algo. O único movimento que elas projetavam, era o ato de subir e descer, sem me tirar do chão.

- Fala sério. - Digo, quase cuspindo. - Eu não consigo, não dá. Vamos por favor, temos que tirar ele daqui, rápido.

Não havia espaço na minha cabeça para nada. Eu talvez estivesse apenas cansada, mas isso eu verificaria mais tarde, quando e se meu desespero passasse.

O caminho até a Academia fora longo, mas ao mesmo tempo, não vi o tempo passar. Os outros falavam, mas eu não os ouvia. Parecia que eu estava debaixo d'água. Eu só queria que aquilo não passasse de um pesadelo, como o que eu tive, correndo por aquele desfiladeiro escuro. Todos segurávamos ele. Tristan, Jack e Gadrieel mantinham a maior parte do peso, enquanto Gwen, Sally e eu tentávamos mantê-lo aquecido. Caleb e Dylan iam um pouco a frente, verificando se havia mais algo que poderia nos atacar de surpresa.

Por fim, chegamos até nosso destino, e corremos o máximo possível até o quarto dele, colocando-o sobre a cama. Ele não parecia consciente ou sequer estar nos ouvindo.

Sally rasga a blusa dele usando um punhal. Em seu abdômen, haviam dois longos corte profundos, como se lâminas houvessem passado por sua pele, penetrando-a brutalmente. O sangue não parava de sair, e haviam manchas negras e roxas ao redor do ferimento, lembrando mofo. Meu estômago embrulha.

- Gwen, eu preciso que você vá buscar o bálsamo de blaze agora, para desinfeccionar isso, está muito, muito ruim.

Ela obedece, parecendo estar fora de órbita. Algo horrível havia acontecido.

As Peças Celestiais: Ascensão (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora