Não gostava de pensar que a minha vida giraria em torno de outro alguém, mas aquele alguém fazia com que todos me olhassem sem me chamar de bruxa. Agora eu era chamada de mãe, de senhora, e ninguém me olhava como bruxa, irmã do rei, nem como nada além do que eu era. Uma mulher que havia acabado de trazer uma pessoa ao mundo. Muitos viam isso como uma dádiva e diziam que eu era a escolhida de Deus. Claro, parte da minha história tive que omitir, contei a todos que meu marido era um grande fazendeiro, que estava a construir a nossa vida na terra nova, então ele na primeira balsa e nós na terceira, para que não gerasse desconfiança. Algo em mim tinha mudado, estava exausta de perseguições, de viver escondida, eu queria viver, queria comer sentada a uma mesa, queria ser comum, até pensava em ter amigos.
- Como está se sentindo senhora? - Me perguntou um homem, alto, negro de uma espécie que a pele era brilhosa. O mesmo tinha em suas mãos uma sopa.
- Estou bem, estou me acostumando.
- Coma e vai se sentir melhor, em seguida se não se importar, minha mãe pode conhecer sua criança ?
- Por que me importaria ? Se ela quiser pode ficar com ela, chorou a noite toda. - O moço sorriu, acreditou que era uma brincadeira, mas não era.Me alimentei da maneira mais digna que já havia me alimentado na vida. Haviam legumes e verduras picados e cozidos, alguns pedaços de carne, que não era cru como eu estava acostumada.
- Nossas mais velhas fizeram essa sopa pra você, nos desculpe a simplicidade. Só podemos comer os restos dos homens brancos.
- Inacreditável. Mas posso lhe contar um segredo? - Uma memória veio a minha mente, quando Augusta não me deixava comer as mesmas comidas que Vicente. - Foi sem dúvidas a melhor comida que já coloquei na boca. Estou agradecida.O homem me olhou com respeito e ternura, e retornou a seus afazeres. Assim que terminei de me alimentar fui guiada até os fundos do barco, onde haviam águas quentes e mulheres que cuidavam da higiene das roupas de seus senhores. Ao longe avistamos uma senhora que estava com linha e agulha nas mãos, era a mãe do homem que havia me alimentado mais cedo.
- Senhora, essa é a minha mãe. - Disse o homem me levando até ela.
- Mãe, essa é a moça que Deu a luz ontem.
- Gabriele, muito prazer.
- Uma mulher branca que tem respeito com nosso povo, isso é raro de se ver. - Respondeu em baixo tom, direcionando as palavras apenas para o filho.
A senhora largou o que estava fazendo e abriu uma pequena porta de madeira e convidou a moça e a criança para entrar, pediu que o filho a aguardasse do lado de fora. Apresentava uma grande dificuldade de andar devido a idade, mas tinha uma agilidade com criança inexplicável. Despiu a criança a deixando totalmente nua, apanhou algumas folhas as quais passou pelo corpo da mesma, em seguida fez uma oração em línguas estrangeiras e em um frasco pequeno molhou os dedos e cruzou na testa do bebê. Em seguida deitou o bebê de frente a um pequeno círculo de ventilação o qual batia sol para que o sol o iluminasse.
Apanhou novamente a linha e a agulha e pegou em um novo pote sementes, as quais furou e fez uma pequena pulseira colocando na criança.
- Isso tem algum significado pra vocês? - Perguntou com curiosidade.
- Sim, é uma criança muito bonita, e com uma missão muito grande. Pedi aos Deuses bençãos em sua vida, principalmente proteção contra as energias desconhecidas e homens brancos.
- E as ervas pra que foram usadas e como ainda não secaram?
- São fortes, que gostam de lugares molhados, assim ficam verdes por dias. E o sol, o sol impede que a criança seja possuída pelo espírito que só toma o sangue de rescem nascidos.
- Espírito? - Era impossível não se lembrar de Themeres, logo um riso de lado tomou- lhe a face.
- Sim, ele entra nas crianças que ficam amarelas, e usam delas até suas mortes.
- Ah...sim...
- Agora ela precisa de um nome, como ela se chama.
- Não tive tempo de pensar ainda.
- Esteve dormindo por todo o tempo que ela esteve aí dentro? Uma criança tem que ter um nome, tem que ser reconhecida menina. De um nome a ela, se não ela nunca poderá ser uma senhora que deva ser respeitado, mulheres da noite que não tem nome, assim podem usar o nome que os homens quiserem, tenho certeza que não é isso que deseja pra ela.
- Na verdade eu não desejei nada a ela ainda.
- Trate de escolher um bom nome, como é o seu?
Maria pensou por alguns segundos e respondeu o nome de sua escolha. E se sentiu uma mulher da noite por não pensar em apenas um nome.
- Gabrielle.
- Porque não colocar o mesmo?
- Porque não quero que tenha nenhum nome, ninguém é tão forte quanto gostaria que algo que saiu de mim fosse. Carreguei o fardo de ser homenageada com o nome de outras pessoas e ninguém esperava nada de mim além de verem ela, se me virem nessa menina, ela nunca será amada.
- Pois então mude algumas letras, Isabelle é bonito e digno de uma moça branca.
- Isabelle ... É um bom nome. Isabel ? O que acha ?
- Tem um belo significado...Posso dar a proteção a Isabel ?
- Sim, será Isabel.
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A eleita Rainha do Inferno
EspiritualUm jornalista com propósito de desvendar o mistério por trás de atividades paranormais em uma casa abandonada em Atenas, na Grécia , descobre um mundo paralelo ao dos encarnados e fica de frente com o diabo, ou melhor com a mulher dele, que decidiu...