Olhos fechados

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Fiquei um tempo de olhos fechados, sentindo a queimadura de uma facada que já não ardia mais em meu pescoço, mas tomava as minhas costas. Ouvia os gritos, mas eu estava em paz, só esperava a morte vir me buscar. E em certo momento fui tomada por um pensamento e sentimento inocente. A morte tinha o rosto da noite, e ela vinha e me tomava em seu colo daquele mesmo corpo que ela havia roubado.
Meu corpo foi colocado sob uma cama grande, e eu oscilava meus pensamentos e por mais que tentava abrir meus olhos, eles não queriam mais ver o mundo como antes. Ouvia coisas sem nexo, palavras aleatórias as quais eram difíceis para a minha compreensão. Acreditei que a morte era isso, ouvir a voz do Rei Miguel, da Minha madrasta Augusta, da sua filhinha que eu insistia em achar que não me lembrava mais do nome. As memórias foram ficando confusas até eu caminhar por profunda escuridão.
O silêncio gritante era meu melhor amigo novamente. Lá estava eu em um escuro absoluto. Presa em meu próprio consciente.  Tentava me mexer não conseguia, tentava gritar e não conseguia. Até que avistei um cavalo, que correu passando por mim, e depois comecei a ver outros animais, coruja, gato, cabra, leão..... E por última avistei uma borboleta, um animal o qual eu nunca havia sonhado antes, ela foi voando naquela escuridão, e foi dando cores por onde passava, eu pude então ver árvores, gramas lindas e verdes das quais eu nunca tinha visto. Ela foi batendo suas asas alaranjadas, até encontrar uma criança linda, ruiva, era a minha Isabel, e agora ela corria para pegar a borboleta. Correu, até a borboleta virar uma faísca de fogo. Tudo parecia se repetir, eu tentei evitar que ela passasse pelo que passei, e corri, gritando seu nome, e ela começou a ser levada pelo poder daquela pequena faísca que se transformou em chama, e eu fui atrás dela, até encontrarmos um grande mar de fogo, onde vozes a mandavam pular, e fizeram nas chamas que ela via, a minha imagem. Parei atrás de suas costas e percebi que eu era o que ela mais amava, ela pulou, e eu também, e eu abri os meus olhos, e vi Augusta molhando algodão na minha boca. Meus olhos correram pelo lugar que não me era nada estranho, eu estava em minha casa. Minha antiga casa, Vicente com o livro sagrado nas mãos fazia uma oração para me trazer de volta. - Ela acordou!!!! - Dizia ele comemorando. Eu olhei pras minhas mãos pequenas, eu estava criança de novo. - Avise o rei - Augusta ordenou um criado que ali estava. Olhei Augusta e Vicente que se abraçaram.
- Tudo vai ficar bem menininha - Eles me disseram, quando sua filhinha veio e me abraçou.
- Temerez?
- Maria. - Disse baixo em meu ouvido. - Nunca conte a ninguém quem é você.
Gravei aquelas palavras, e não conseguia mesmo dizer muita coisa, mas sentia muito, uma tristeza enorme, vontade de chorar. Só queria abraçar a minha filha de novo, e agora eu estava presa no corpo dela.

O Rei comemorou a cura da menina, e o meu corpo foi enterrado do cemitério da antiga corte como sua prima Gabrielle. Deu a minha filha seu nome, colocando Isabel na linhagem real para herdar o trono.

Como Isabel, nunca mais vi o rei, embora ele tenha me tornado um membro da corte. Fui enviada para outro país, o qual reinei, trabalhei duramente para acabar com a Inquisição e fui muito questionada pela igreja. Fui uma das maiores rainhas, e meus cabelos vermelhos que herdei de mim mesma, por mais estranho que pareça, nunca foram um problema.
A Alma da minha pequena Isabel, nunca mais eu vi, fui condenada a perde - lá na espiritualidade, foi o preço que paguei por entregar a alma da filha da Augusta e dar o corpo para o Themeres. A Noite? Foi exilada, como um demônio, onde apenas as pessoas mais sombrias em seus maiores estado de trevas conseguiam se conectar com ela, até ela reencarnar e se tornar sua Mãe Marco.

Nunca mais fui capaz de cultivar sentimentos positivos por ninguém, há apenas uma memória de alegria. O dia que você veio até mim, assim como um dia fui até a noite.

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⏰ Última atualização: Apr 30, 2020 ⏰

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