No time to die

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-Você está pronta?- JinHwan perguntava, enquanto as cortinas ainda me cobriam como um manto sagrado cobre uma jovem virgem, antes de ser dada a sua morte.

A peruca ruiva parecia o fogo que cercava meu ódio e minha ansiedade para que esse momento acontecesse de uma vez por todas.

Cogitei diversos reencontros entre eu e ele e esse, com certeza, seria um dos únicos jeitos que faria sentido na nossa história, no nosso roteiro.

Não haveria outra maneira de mostrar o quanto ele me machucou, não teria outra chance eficaz de mostrar no tipo de pessoa vazia em que ele me transformou.

Só de ouvir ou lembrar seu sobrenome, tudo voltava a minha mente, desde as pessoas que perdi, desde o que tive que fazer para proteger os que restaram.

Eu me arrependo dos meus pecados anteriores, para que eu possa cometer os de agora sem nenhum remorso, porque não há outra coisa que pessoas envolvidas nessa vida remota e criminal, mereçam.

Se a lei do Estado protege, a lei dos homens mata.

E eu, estaria pronta para assumir esse papel de anjo da lei, o anjo assassino que sempre vai ganhar os demais com um rosto farçante, expressões e olhos fingidos, e com o único e perfeito coração verdadeiro, casa dos mais maléficos sentimentos.

Estes, não construídos e muito menos, cativados por mim.

-Sim!-respondi, colocando a adaga entre a pele da minha coxa e a fina renda que complementava meu traje de justiça.

-Olhe para mim!-ele pediu.

Virei meu rosto em sua direção, podia sentir minhas bochechas quentes o tempo todo e às vezes, a vontade de conseguir finalmente derrubar as lágrimas que segurei por anos.

-Podemos ir embora agora se quiser! O carro já está lá fora e o nosso jato...

-Nós vamos fazer isso primeiro!-o cortei, voltando a olhar para a cortina de tom vermelho.

-Tudo bem, nos vemos daqui a pouco!-recuou, desapontado.

Entender JinHwan, naquele momento, era um completo e tedioso desafio. Nada me deixava mais descontente do que vê-lo querer deixar tudo isso para trás sem antes colocar um ponto final em uma linha por onde ele não quis andar.

Ele, mais do que ninguém, deveria saborear esse momento único e, assim como eu, colocar para fora todos os espinhos que cresceram nele por causa do Jungkook também.

Queria arrastá-lo comigo para o palco quando o vi se afastar ao ponto de sumir do meu campo de visão.

A vontade de chamá-lo para continuar ali, crescia a cada segundo, acompanhando as pulsações do meu coração que gritava por vitória ao ouvir meu nome de dançarina ser anunciado.

-Ela não é desse mundo, partiu dos calorosos desertos perdidos do inferno, nossa odalisca diabólica, Pranpriya!

Foi quando os panos se moveram, iniciando a brincadeira. Eu já direcionava meu olhar como uma águia faminta, pronta para tirar a vida da minha vítima da forma mais impiedosa possível.

Até porque, não tinha tempo para manter aqueles sentimentos que me enfraqueçiam, não havia tempo para chorar.

Caminhei conforme as batidas da música, até chegar no final do palco. Aquela altura, ele já me observava, infelizmente eu ainda sabia a sensação de ter seus olhos sobre mim.

Ainda era a mesma sensação.

Meu vestido brilhava, balançava, fervia poder. Eu os controlava todas as noites, mas essa era especial, porque ele estava ali.

Soul Criminal III : WHITEOnde histórias criam vida. Descubra agora