Soul Criminal III : WHITE

Duerma bien

Quanto você daria para voltar no tempo, uma única vez?

Quem sabe, para restaurar um erro, para ter feito algo melhor, para nunca ter ido a algum lugar, não ter conhecido uma pessoa, ou quem sabe, não ter prolongado seu tempo de vida?

Eu daria tudo.

Depois de ouvir as palavras de JinHwan me cortarem e me roubarem o ar dos pulmões, enchi meu copo de cerveja, enquanto voltava para a sala, onde Jennie estava amarrada, em total silêncio. Possivelmente, tentava guardar o resquício de resiliência que estava prestes a perder.

Me sentei no sofá, bem a sua frente, servindo-me, enquanto sentia meu rosto queimar em desalento e exasperação.

Eu estava em choque, pelas comparações e por finalmente entender os propósitos dele. Os pensamentos que ele manteve, talvez tentando não me ferir, o cortaram por dentro, fazendo com que ele tivesse que expelir cada gota de um veneno que ele mesmo cultivou sem querer.

-Agora eu entendo porque ele é tão fissurado em você!-ela falou, cruzando as pernas. 

-Do que está falando?

-Seungri nos deixou de lado porque estava procurando uma cópia dele!-afirmou, sem emoção alguma.

Fiquei quieta, absorvendo mais um tapa forte de palavras em meu rosto. Como eram sutis em suas escolhas de vocabulário.

-Acho que ele nunca amou minha mãe, nem muito menos a mim e o meu irmão, porque não fomos e nunca seremos como ele, mas, você é! Ele fingiu ser a melhor pessoa do mundo, e agora não tem como voltar atrás porque uma vez pecador, sempre pecador, como você!

-Não me compare a ele!- falei, quase sem separar meus lábios rígidos em tensão.

-Não é necessário, ninguém precisa colocar em palavras para perceber que você não presta igual a ele! Sempre vai usar as pessoas para saciar alguma coisa ou conseguir o que quer, como fez com aquele seu namorado e agora com esse aí! Felizmente, alguém disse na sua cara o quanto você é nojenta!

-Por que me odeia?-perguntei, inclinando-me para frente, acariciando a boca do copo com o dedo médio.

-Porque você destruiu a minha família! Já não éramos felizes, e você apareceu piorando tudo! Sabe o que ele fez com meu irmão, depois que ele assumiu a culpa por ter atirado em você naquela noite? Ele o mandou para uma escola militar, na casa do caralho! Passei dois aniversários em jantares de negócios para ele, dois natais em uma sala de estar sem sentimentos algum, onde só haviam pessoas me leiloando para se beneficiar! Ele me fez casar com um homem fluente e importante na vida política, só para ter mais recursos para te encontrar, porque você é a porra da prioridade dele, você é a prioridade de todo mundo nessa merda! Atlanta fez um funeral para você, e você nem está morta! Todos sofreram e ainda sofrem por sua morte falsa, e você egoísta, está por aí viajando e matando quem te dá na telha!

A bebida mergulhava no chão e escorria para o tapete, enquanto eu sentia calafrios me esmagarem sem piedade.

-Não te culpo por me odiar, doido seria quem não fizesse o mesmo! Mas, não me culpe por Seungri não dar valor ao que tem, essa conta não sou eu quem deve pagar! Estou aqui para me vingar dele, e se você soubesse pelo que já passei, questionaria de onde eu tirei forças para continuar! Vou te dar a oportunidade de se juntar a mim, e você vai poder vingar a quem você quiser, a quem Seungri já tenha ferido, porque eu sei o quanto você deseja isso!-falei, com olhos marejados.

Agora, Jennie chorava. Depois de anos sofrendo nas mãos dele, provavelmente essa tenha sido a primeira e única vez que ela colocou tudo para fora! Sinceramente, era perceptível a estonteante e aliviante mistura de lágrimas preenchidas de mágoa, tristeza, abandono e ódio.

-Você tem até amanhã para pensar no que quer para sua vida, e se sua resposta for sim, eu juro, eu terei o prazer de ser sua irmã!

Me levantei, deixando-a sozinha novamente. Agora, eu tinha pendências com outra pessoa.

Com ele.

Subi a escada, que rangia a cada degrau que eu pisoteava com elegância.

Abri a porta do quarto principal, segurando a maçaneta como se fosse o pescoço de mais uma vítima.

A fechei assim que entrei, vendo-o sentado na cama.

-Por que Atlanta faria um funeral para mim?-perguntei.

Ele levantou a cabeça, e eu pude ver suas costas doerem em tensão.

-Por que as pessoas sofreriam por minha morte, se estou aqui, JinHwan?-continuei, caminhando até ficar em sua frente.

Ele não me olhava, virava seu rosto para todos os lados, menos para mim.

-Não leve isso de forma literal, foi um ato simbólico! Você já foi importante para o jornal, para a agência de moda de Seulgi, acredite, até para a polícia.

-O que isso tem a ver?

-Jeon fez um funeral para que todos acreditassem que você morreu no dia em que você saiu da casa dele, queria evitar questionamentos que não lhe cabiam!-falou, sem sequer mover sua cabeça para me olhar.

-Ele realmente fez isso?

-Isso te importa? Não foi você quem disse que ele tinha morrido para você?-perguntou, encarando San Ángel a fora.

Comecei a chorar, sem pestanejar. Chorei com vontade, como uma criança.

Fui até a cômoda, empurrando os vasos de decoração contra o chão, arremessando algumas coisas contra as paredes e por fim, socando o espelho.

Doía olhar para mim, por isso, feri meu reflexo. Eu adoraria me ver na banheira, lendo meu jornal, tomando meu café na caneca que Junhoe me deu, como eu fiz no dia em que recebi minha designação para ir a Atlanta. Eu adoraria jantar com meu pai, saboreando o macarrão com queijo que ele fazia, e ainda ver prince fazendo hora para abrir um pote de azeitonas em conservas.

Minha vida era perfeita, e eu sou uma estúpida por continuar me lamentando.

Em meus dedos, escorria o sangue morto, pingando em minhas roupas.

-Preciso saber uma coisa!-falei, em meio a sangue, suor e lágrimas.

-Fique a vontade!-falou, com desdém.

-O que sente por mim?-perguntei, olhando para os cacos ao meu redor.