[29] Bola de neve.

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Na Jaemin

Voltei a frequentar a escola, todos pareciam preocupados comigo (ou talvez só curiosos, não se pode confiar em adolescentes do ensino médio). Era fácil de resolver, sempre a mesma resposta "Estava de cama" e "Sim, me sinto melhor, obrigado!"; mentir tanto me deixava exausto no final do dia.

Aos poucos fui retomando a minha rotina normal, a que eu tinha antes de Renjun. Mas eu adicionei uma coisa muito significativa para mim, a qual eu fazia sempre que podia; conversar com a Lua. Renjun não me responderia, tampouco me ouviria, mas me sinto conectado a ele por menor que seja este ato.

Conversar com a Lua não era como conversar com Renjun, mas sim, com um velho sábio chinês que anda curvado e com um cajado feito de madeira. Eu não tenho retornos, mas de algum jeito eu sei que estou sendo ouvido — e não é pela minha mãe, pelos meus vizinhos ou seja lá quem esteja passando na rua.

Se passaram dois meses; eu esqueci de Renjun.

Não por completo, eu quero dizer. Mas eu parei de me preocupar e vi que tudo ficou bem. Em partes, agradeço a Jeno por isso, foi ele quem me ajudou com tudo.

As provas antes das férias de verão estavam se aproximando, aconteceriam na próxima semana, pra ser mais exato. Em meio aos meus estudos, lembrei-me que Renjun iria me oferecer ajuda. Mas, bem, ele não está mais aqui para me ajudar, certo? De qualquer forma, eu consigo me virar sozinho.

— Jaemin, se você ficar com a cabeça na Lua, desse jeito não dá pra ficar de férias logo — disse Jeno. Suspirei com a expressão usada e sorri.

— Queria estar mesmo com a cabeça na Lua.

— Cala a boca — recebi um tapa na nuca.

— Ai!

— É pra' você aprender.

Suspirei pela segunda vez e foquei no nosso estudo, coisa que durou pouco até eu escutar a voz do meu pai soar pela casa e correr para recebê-lo.

— Papai! — exclamei enquanto corria para os seus braços abertos e o envolvia com os meus.

— Tenho boas novas! — contou.

— Você fez alguma descoberta científica muito legal, vai dar palestra por aí e vai ficar famoso? — perguntei.

— Você quase acerta. Ah, oi, Jeno — acenou o mais velho.

— Oi, tio — acenou Jeno, sem graça. Ele sempre se sentiu meio intimidado pelo meu pai.

O mais baixo sentou-se no sofá e suspirou alto. Desmanchou-se ali e fechou os olhos; fazia tempo que papai não vinha para casa com notícias legais, então, puxei uma cadeira para mim e para Jeno e sentamos próximos ao sofá.

— Então, papai...

— Ah, sim. Você já contou para Jeno sobre tudo aquilo? — perguntou.

— Sim — respondi de imediato.

— Enfim. Eu coletei um pelo do casaco que você achou, lembra? — assenti com a cabeça — Estudamos aquilo e não pertencia a nenhuma espécie conhecida. Então, como o seu pai aqui é muito inteligente — soprei um risinho —, eu fui até o laboratório onde ficam as roupas do astronauta chinês que supostamente teve contato com seres da Lua. E adivinha? Eu encontrei fragmentos suspeitos e fui estudá-los. Adivinha de novo?

— Tinham a mesma composição do pelo? — Jeno perguntou.

— Peeeen! Errado! Não tinha a mesma composição, tecnicamente, mas veio de um animal. Um animal que a gente não conhece e nem tem aqui na Terra devido aos componentes encontrados! Enviei o relatório e...

— Querido? — minha mãe apareceu na sala.

— Meu bem! — papai exclamou antes de ir na direção da mamãe para abraçá-la. Sua feição não estava tão animada.

— Você disse que enviou um relatório e o que mais...?

— Ah, você ouviu tudo! Que bons ouvidos! Sente-se, vou terminar de contar.

Mamãe puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado; algo parecia a incomodar.

— Então, eu enviei um relatório e estou esperando ser aceito. Eu não sei se vão acreditar, mas eu espero que sim!

— E como você vai explicar que... "Caiu" aqui...? — mamãe perguntou.

— Eu vou falar sobre a anomalia gravitacional — olhei instantaneamente para Jeno — que existe aqui em casa e...

— Eles vão expulsar a gente, né'? — a voz da mamãe ficou trêmula.

— Bem... Eu acho que... Não tecnicamente expulsar, mas...

— Mas o quê, Yejoon? — arregalei os olhos; nunca pensei que iria escutar a mamãe chamar o nome do papai de forma tão... raivosa — Tudo que a gente construiu, todo o dinheiro gasto aqui, a nossa vida, paz e tranquilidade, tudo isso não importa pra' você?

— É claro que importa, meu amor! Mas é pelo bem da ciência!

— Cancele isso.

— O quê? — papai exclamou, incrédulo.

— Cancele o envio do relatório. 

— Mas Hana! É o meu emprego! Se eu não fizer tá' tudo acabado! — papai exclamou em desespero.

— E se fizer, tá' tudo acabado entre a gente.

Um silêncio cortante tomou conta da sala. Meus olhos se enchiam de lágrimas; eu não sabia o que fazer. Papai e mamãe nunca discutiram daquele jeito e muito menos na minha frente.

Senti a mão quente de Jeno encontrar o meu punho cerrado sobre a minha coxa e instantaneamente ganhei forças para levantar tão rápido e revoltado da cadeira que a deixei cair no chão. Tomei a atenção dos meus pais e com olhar furioso, fitei a minha genitora.

— Vamos sair daqui, Jeno — segurei o pulso do meu melhor amigo e com passos irritadiços e rápidos saí de casa, batendo forte a porta.

Puxei Jeno comigo até a praça mais próxima, sem dizer uma palavra.

— Jaemin... — o Lee me chamou enquanto tocava o meu ombro.

Sentei-me no banco na nossa frente e deixei o meu choro sair. Tudo parecia desmoronar depois que Renjun cortou nossa comunicação. Tudo dava errado. Tudo. Jeno me abraçou e passou a mão nas minhas costas suavemente, como um consolo.

— Quer dormir lá em casa hoje? — assenti com a cabeça — Certo. Mamãe vai adorar ter você lá — sorriu para mim.

Incrivelmente o sorriso que mais me animava e me dava forças não fazia mais sentido pra' mim. Eu senti como se todos os meus problemas que eu tentei esquecer e ignorar nos últimos dois meses viessem à tona. E agora eu não sabia como lidar com eles, e provavelmente Jeno também não. Eu transformei tudo aquilo em uma bola de neve inconscientemente.

moon dust ─ ren.minOnde histórias criam vida. Descubra agora